
Ah, a vida! Essa comédia trágica, esse palco de absurdos onde poucos, raríssimos, têm a chance de encarar de frente o seu demônio particular. De Hércules, com seus doze trabalhos hercúleos, a Joana D’Arc, com sua fé inabalável e sua fogueira inevitável, a história e a mitologia nos brindam com esses eleitos. E a plenitude, a realização, a catarse, vêm justamente dessa luta insana, desse embate épico contra o inimigo que se forjou na própria alma, no próprio delírio.
Eis que, no nosso Brasil de bananas e paradoxos, o presidente Lula e seu fiel escudeiro, o incansável Celso Amorim, vivem essa epifania. Eles, os eternos jovens revolucionários, os sonhadores de um mundo sem grilhões, finalmente encontram o seu Golias: o imperialismo ianque. Ah, o imperialismo! Esse fantasma que assombra as noites de insônia da esquerda mais romântica, mais utópica, mais… atrasada.
Não se iludam, meus caros, a questão do tarifaço não é uma mera contabilidade de perdas e ganhos, de números frios e votos quentes. Não! É a concretização de um delírio, a materialização de um sonho antigo, quase infantil. O sonho do jovem Luís Inácio, com seu idealismo forjado nas greves do ABC; do revolucionário Celso Amorim, com sua diplomacia de trincheira; e de toda essa esquerda que, após a queda do Muro de Berlim, se viu órfã de inimigos, perdida num labirinto de utopias esvaziadas, agarrada à quimera de uma grandeza brasileira que nunca existiu, que nunca passará de um devaneio tropical.
E o jovem de classe média, com seu boné do MST e sua pose de guerrilheiro de butique, infla o peito de orgulho. O mundo, esse mundo pragmático e sem poesia, se curva ao bom senso, negocia com os americanos, faz as pazes com a realidade. Mas o Brasil, ah, o Brasil! O nosso Brasil, sob a batuta desse presidente que se recusa a crescer, a amadurecer, a encarar o espelho da história, não! Nós, os destemidos, os últimos românticos, os guardiões de uma Guerra Fria que só existe em nossas cabeças, temos nos BRICS o nosso novo Pacto de Varsóvia.
E vamos lutar, sim! Lutar até o fim, até que o Brasil, esse país que insiste em ser uma caricatura de si mesmo, se desfaça num último suspiro de ideologia, num último estertor de um conflito que, para o resto do planeta, já virou peça de museu. É a tragédia em ato, meus amigos. A tragédia em ato.