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Lição de casa: fazer o que precisa ser feito

Nesta semana, cansada do meu filho pré-adolescente reclamar cada vez que pedimos a ele R$2,00 para pagar um estacionamento ou inteirar o valor da conta da padaria, decidi tomar uma atitude energética.

Depois de um ouvir uma preleção de dar inveja a qualquer estudante de Direito sobre a dificuldade que ele tem de colocar em prática o que aprende nas aulas de economia na escola, já que o dinheiro dele está sendo “roubado” pelos pais de dois em dois reais para pagar estacionamento, Uber, merenda de escola (para ele, claro!). Me virei calmamente e avisei: “Você realmente precisa ter a chance de exercitar o conhecimento adquirido nas aulas de economia. Tenho feito errado esse tempo todo, mas agora a gente vai resolver isso.”

Nem um pio do menino.

Peguei sua carteira, calmamente, e lhe entreguei. “Agora você é o responsável por gerenciar seu dinheiro e pagar suas contas. Assim vai ser possível você avaliar o que tem ou não condições de comprar, quando gastar o dinheiro… vai ser ótimo. E, só para a gente já deixar combinado, agora vai ser assim toda vez que sentarmos em um local para lanchar: eu escolho o que vamos comer de acordo com o que estou disposta a gastar e aí, caso você queira algo diferente fique à vontade para comprar com o seu dinheiro.”

Segue sem um pio.

Alguns minutos depois ele tenta argumentar: “Mas eu vou poder arrumar um emprego para pagar minhas contas? Por que a lei não deixa eu trabalhar. Como eu vou sobreviver?” (Ele é ator, não se compadeçam).

“Ué, vai viver de acordo com as escolhas que eu estou disposta a pagar. Não se preocupe. Eu tenho estado disposta a pagar uma das melhores escolas da cidade para você, aulas de basquete, teatro, roupas novas, cinema…. Mas parece que não estava dando muito certo porque as vezes precisava de uns quatro reais seus. Então vai ser bom para mim também, aprender a controlar meus gastos. Inclusive com você.”

Torçam por mim. Tô no início dessa jornada nova de não entregar o cardápio na mão do filho e perguntar o que você quer comer. E nem de passar no mercado e lembrar: ah… ele adora esse chocolate vou levar.

Enquanto ele aprende uma lição de finanças. Vou tentar aprender uma lição de maternidade. E não serei eu a primeira a pedir arrego.

Mas, vou te contar. Não é fácil.

Poucos dias antes dessa conversar com meu pré-adolescente, o papo sério foi com meus alunos que insistiam em não ficar em silêncio, prestar atenção e se comportar de forma respeitosa e adulta, como todos são em uma sala de aula.

Já me peguei várias vezes pensando: não vale a pena! Passa o conteúdo, faz a chamada no início da aula para ficar livre de quem só queria a presença e deixa pra lá. Mas, também nesse caso me recuso a arregar.

Não sou palestrante. Sou educadora. E quando vejo falta de educação, não dou conta. Preciso fazer o possível para educar. Desgasta, cansa, mas, tem outro jeito de estar neste mundo senão agindo diante de atitudes que a gente vê que vão desaguar em algo ruim?

Se estivesse lidando, tanto no caso do meu filho como no dos meus alunos, com pessoas pelas quais não nutro afeto, com as quais não me importo, talvez fosse mais simples. Mas, não é o caso.

Me sinto responsável por essas criaturas em formação e, enquanto eu perceber que elas caminham para um futuro menos feliz que o possível, estarei disposta a enfrentar minhas dificuldades e aprender a ser, quem os que eu amo, precisam que eu seja.

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