Colunas

A gente quer comida, diversão e banho

Aquabox (Foto: TV Integração/Reprodução)

Chegar em casa depois de um dia de trabalho puxado pede um banho relaxante. O frio chama por um banho quentinho na hora de dormir ou de deitar para ver um filme. Ou até pede para pular o banho, se o frio for muito intenso.

Agora os moradores em situação de rua de Juiz de Fora podem escolher pular o banho, porque terão onde tomar banho. Havia, já, outros espaços de acolhimento, mas o Aquabox traz o selo Diferentão, que é um atrativo. Num contêiner debaixo do viaduto Augusto Franco o cidadão pode tomar banho com xampu e sabonete, se enxugar com toalha e seguir com a vida. Talvez lhe falte o trabalho de onde chegar e provavelmente a casa para onde ir, mas já tem o banho.

Viver no país que surpreendeu os europeus pela quantidade de banhos tomados desde que os ancestrais dos indígenas se tornaram rios e não poder se lavar com dignidade é um dos maiores absurdos da Terra Brasilis. Em alguma medida, a nova inauguração da prefeitura da Margarida mostra que cuidar do social é mais do que reformar o Restaurante Popular (os dois, e isso está acontecendo) ou comprar arroz orgânico para as crianças das escolas (outra maravilha que recebeu contestações dos que não procuraram se informar corretamente).

O brasileiro tem, inclusive, fama internacional de gastador de água. Há mesmo lares que não aceitam estudantes brasileiros porque alegam ter contas de água e luz mais altas com eles em função dos banhos. Ficar tempo demais debaixo d’água traz consigo o pecado ambiental, mas não entrar na ducha é um crime social.

Quem já sentou no ônibus ao lado de um fedido sabe. Fedido sem dias de banho, não fedido do trabalho que vai para casa se lavar; é diferente. Até coça.

Muita gente não sabe tomar banho. Fica um tempão fazendo e tirando espuma e creme e mais espuma do corpo inteiro. Há quem faça isso desligando a água, mas mesmo assim há que se ter cuidado, porque gasta. E gasta mesmo, procure um dermatologista que ele te conta. A pele tem formas próprias de proteção, esfregar demais tira essa camada natural e depois desencadeia brotoejas, escamas, seborreia e afins. É só lembrar dos bebês recém-nascidos, que nem devem ser lavados todos os dias, mesmo que se caguem todos.

E tem os dentes, escovados no banho. Há quem, inclusive, só os escove ali. Aquela lição escolar de fechar a torneira durante a escovação vai para o ralo. Será que tem pasta de dente no Aquabox? Ou melhor, no Restaurante Popular? Poderia aproveitar a reforma e instalar o serviço.

Campanhas de arrecadação e distribuição de roupas existem, assim como acolhimento para noites de quem não quer dormir na rua. Embora alguns moradores tenham estruturas próprias até acolhedoras, como a cama (colchão de solteiro) que faz pouco sumiu da Praça Jarbas de Lery, em São Mateus, na qual havia uma mesa de cabeceira com livros e um telefone fixo.

Este texto ficou parecendo de assessoria, mas é importante elogiar, como é fundamental bater, tudo com justiça. Um comentário postado no Instagram da prefeitura é direto quando o autor diz que não votou na Margarida, mas está gostando do que ela tem feito pela cidade. E se falta trabalho para o morador em situação de rua (e não somente para ele), a questão vai além do local e nem cabe nesse texto por enquanto (mas o Haddad tem propostas para alavancar a economia, pode ler no artigo O ministro que a Ana Clara Costa escreveu para a Piauí deste mês. E isso parece um jabá…).

Semana que vem pode ser que a prefeitura erre, mas por enquanto ela pode ficar de Alma Lavada.

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