Colunas

O Pharol se vende às vezes

Estátua do pequeno jornaleiro, obra artística de autoria do caricaturista Fritz (Foto: Allan Souza)

O jornalismo mesmo, com esse nome, começou com o jornal diário, que é filho da imprensa do Gutemberg. Notícias já corriam o mundo desde antes, inclusive a pé, por 42km, desde Maratona até Atenas. Muitos mensageiros, hoje jornalistas, morreram como o dessa façanha.

Com o aprimoramento da imprensa, entre jornais e livros, difundiu-se o letramento. A educação universal chegou aos trabalhadores urbanos, nas fábricas, migrantes das revoluções industriais. Dos panfletos sindicais a obras literárias, as pessoas liam. Todas as classes liam os jornais.

Quem pagava essa conta, até o final do século XIX, eram os leitores. Um jornal vivia da matemática simples que a TV ainda mantém: quando mais pessoas leem, mais dinheiro o jornal ganha. Na TV funciona assim: se tenho muitos espectadores posso cobrar mais caro do anunciante.

No impresso, os anúncios mudaram a lógica de remuneração. Se um jornal vende muito, pode cobrar mais caro pelo espaço do anunciante; no entanto, imprimir jornal demais leva a um custo maior do que o pago pelo anunciante. Por isso a quantidade de circulação precisa encontrar esse equilíbrio.

Matías Molina mostrou isso durante semanas, mais de uma década atrás, numa série que saiu no Valor Econômico no caderno de Final de Semana. Depois transformada no livro Os melhores jornais do mundo, a pesquisa mostrava, a cada semana, um grande jornal, sua história, o formato e trazia essas questões econômicas.

A internet mudou tudo de novo. Para o impresso sozinho nem tanto, continua precisando de muito investimento para circular, mas as edições on-line têm custos mais baixos na parte de técnica e de logística.

Esses custos O Pharol também tem. E de pessoal, como todos os canais de notícia, em qualquer formato. A conta é paga por anúncios que devem estar te incomodando em cima, do lado ou no meio deste texto. Resigne-se: sem os anúncios este texto não estaria aqui, é essa a inversão de valores que o sistema capitalista impõe.

Esse formato faz com que o jornal pareça ser de graça, mas essa ilusão foi bem explicada pelo Chris Anderson no livro Grátis, no qual ele mostra que sempre alguém paga a conta. É a lei da selva, ou da rede.

O que importa é saber que quando aparece a marca do Itaú (que não anuncia n’O Pharol e desconheço negociações), com o laranja do Itaú e a legenda cita o Itaú, quem paga pelo anúncio é o Itaú. O mesmo vale para todas as marcas. Quando algum anúncio vem com um texto de aparência jornalística, traz INFORME PUBLICITÁRIO estampado em algum lugar bem visível, para não ludibriar o leitor.

Às vezes, raramente, você vai encontrar O Pharol se vendendo nas bancas. A edição impressa traz material que foi ao ar no site e algum inédito. É um exercício de formato e uma maneira de chegar a outros públicos, estratégia de crossmídia usada por vários veículos.

No site ou no impresso, o leitor pode gostar do que lê ou não. Na política, por exemplo, ele pode ficar feliz ou bravo com um texto sobre os governos da Margarida, do Zema ou do Lula. Essa é a função do jornalismo: chatear informar o leitor. Quando o jornal, este ou outro, não puder fazer isso com idoneidade, melhor que não faça mais.

Esta semana o Intercept publicou uma matéria sobre pagamentos da prefeitura de São Paulo ao jornal Folha de São Paulo para escrever matérias favoráveis ao governo do bolsonarista Ricardo Nunes. A Folha mesmo não deu essa matéria, por isso não deve ser verdade. Afinal, como disse no comercial do Hitler, ela é o jornal que mais se compra e nunca se vende.

Sair da versão mobile