Meio Ambiente

Parque de Ibitipoca: concessão completa dois anos, e portaria norte não sai do papel

Área onde deveria ser construída a portaria norte (Foto: O Pharol)

Dois anos após o início da concessão do Parque Estadual de Ibitipoca à iniciativa privada, a expectativa de modernização, novos acessos e melhorias estruturais dá lugar a um sentimento de frustração e cobrança. As chamadas “obras mínimas”, que deveriam ter sido concluídas até o fim do segundo ano de gestão da Parquetur – Parques Fundo de Investimento em Participações em Infraestrutura, seguem, em grande parte, incompletas ou atrasadas.

Entre as pendências mais simbólicas está a portaria norte, promessa antiga das comunidades de Santa Rita do Ibitipoca, Bias Fortes e Pedro Teixeira, que esperavam há décadas por um novo acesso ao parque. O equipamento, que consta na lista de intervenções obrigatórias do segundo ano de concessão, sequer foi iniciado, segundo apuração junto a moradores e lideranças locais.

Promessas de investimento e realidade lenta

O contrato de concessão, assinado após leilão realizado em dezembro de 2022 na B3, previa que a empresa vencedora investisse cerca de R$ 15 milhões nos primeiros seis anos, sendo que parte significativa desse montante deveria ser aplicada já nos dois primeiros anos. O plano incluía 25 intervenções obrigatórias, como a reforma da portaria principal, implantação de sistemas de monitoramento e internet, melhorias nos alojamentos, áreas de camping, estacionamento e a construção do novo Centro de Visitantes, com bilheteria, loja e espaço de alimentação.

Apesar de o contrato prever prazo máximo de dois anos para a conclusão das obras iniciais, apenas uma parte das intervenções de primeiro ano foi efetivamente entregue, como pequenas reformas e melhorias pontuais. Já as obras estruturantes, que deveriam ampliar a capacidade de visitação e diversificar os acessos, continuam em compasso de espera.

Em leilão realizado em dezembro de 2022 na B3, o governo de Minas concedeu os parques estaduais do Ibitipoca e do Itacolomi à inciativa privada (Foto:Divulgação).

Atraso em obras estratégicas

De acordo com o cronograma estabelecido no edital, até o segundo ano de operação o parque deveria ter concluído:

  • Nova portaria norte, com guarita, bilheteria e sanitários;
  • Trilha 03, ligando o novo acesso à Grota dos Pinheiros;
  • Centro de Visitantes em frente à Curva do Pôr do Sol;
  • Reforma do camping e vestiários;
  • Melhorias nos estacionamentos e instalações de apoio aos funcionários;
  • E intervenções voltadas à acessibilidade e sinalização.

No entanto, tanto visitantes quanto moradores do entorno relatam que o pacote de intervenções estruturantes não foi entregue integralmente. A portaria norte, considerada o principal marco de expansão territorial e social do projeto, deveria reduzir em cerca de 90 quilômetros a distância entre o parque e cidades como Barbacena e Belo Horizonte, favorecendo o turismo regional e o escoamento de visitantes. Sua ausência mantém o acesso concentrado exclusivamente por Lima Duarte, limitando o desenvolvimento das comunidades da região norte.

Impactos locais e sensação de abandono

A promessa de que a concessão traria empregos, renda e estímulo ao turismo sustentável nas comunidades vizinhas também segue sem se concretizar. Em Santa Rita do Ibitipoca, moradores da Vila dos Moreiras — onde a Portaria Norte seria instalada — reclamam da falta de diálogo e de informações sobre o andamento das obras.

“Falaram que em dois anos o acesso estaria pronto e que o movimento de turistas aumentaria, mas até agora nada. O que vemos é o mesmo caminho difícil e nenhuma novidade”, relata um morador da região, que preferiu não se identificar.

A situação contrasta com o discurso inicial do governo estadual e do BNDES, que estruturou o modelo de concessão prometendo modernização e melhorias na gestão ambiental. O plano previa ainda a criação de novas trilhas e mirantes, como o chamado “Ninho Instagramável” e o Novo Centro de Visitantes, ambos também previstos para o segundo ano e ainda não implantados.

Tarifa mais alta, entregas menores

Enquanto as obras não avançam, a cobrança de ingresso segue no teto de R$ 34 (já com correção inflacionária) — limite imposto pelo contrato durante os dois primeiros anos, até que as “obras mínimas” sejam concluídas. A partir da entrega dessas intervenções, o valor poderia ser reajustado para até R$ 70, corrigido pela inflação. O impasse levanta questionamentos sobre a viabilidade do reajuste sem que as melhorias prometidas tenham sido realizadas.

Posicionamento do IEF

Em resposta aos questionamentos sobre o atraso feitas por O Pharol, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) encaminhou nota à reportagem informando que, no momento, está avaliando o projeto da obra da nova portaria norte, apresentado pela concessionária responsável pela gestão do parque.

Nota do IEF:
“O Instituto Estadual de Florestas (IEF) informa que, no momento, está avaliando o projeto da obra da nova Portaria Norte do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIB), apresentado pela concessionária responsável pela gestão dos serviços de visitação do Parque.

O IEF reforça que o contrato de concessão vem sendo cumprido com avanços importantes na gestão da visitação e na melhoria dos serviços oferecidos aos visitantes. As obras previstas e eventuais ajustes de cronograma estão sendo acompanhados de perto pela equipe de fiscalização, em conjunto com a concessionária, garantindo transparência e o cumprimento das obrigações contratuais. A construção será iniciada assim que o projeto for totalmente aprovado.

O IEF atua para garantir a execução da obra com qualidade técnica e o menor impacto ambiental possível, além de assegurar que a estrutura atenda aos critérios técnicos, ambientais e operacionais adequados ao parque.”

A Parquetur – Parques Fundo de Investimento em Participações em Infraestrutura – não respondeu a nenhuma das tentativas de contato de O Pharol. Caso respondam, a matéria será atualizada.

Expectativas frustradas

O Parque Estadual de Ibitipoca, localizado em Lima Duarte, é uma das unidades de conservação mais visitadas de Minas Gerais, com cerca de 90 mil visitantes por ano. A concessão de 30 anos foi apresentada como um modelo de “parceria sustentável” entre o Estado e a iniciativa privada, com foco em eficiência operacional, infraestrutura de qualidade e valorização das comunidades do entorno.

Dois anos depois, no entanto, o cenário é de obras atrasadas, comunicação precária e desconfiança crescente por parte de moradores, guias e empreendedores locais. A expectativa é de que o IEF e o governo de Minas cobrem da concessionária o cumprimento do cronograma e a entrega das intervenções obrigatórias.

Sair da versão mobile