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O que fazer na última semana do ano

Nada.

Em janeiro fez promessas de começar regime, de economizar dinheiro, de estudar uma língua estrangeira ou pelo menos criar coragem pra pedir a promoção ou procurar emprego melhor. Na última semana do ano não vai fazer nada disso.

Em fevereiro teve Carnaval, mas também não teve. Porque umas escolas disseram que se não tem festa, por causa de Covid, não precisa parar as aulas. E cadê a dívida paga? Professor trabalhou mais do que deveria e não vai ser nesta semana, que já é de recesso, que a escola vai querer pagar de boa samaritana.

No mês de março a indignação com o preço da gasolina virou promessa de andar mais a pé. No fundo, ficou mais pobre porque continua pagando caro e andar a pé na última semana do ano não vai ajudar muita coisa.

Só em abril começou a CPI da pandemia. Por sorte do Senado, o troço aqui é tão lento que a pandemia não acabou, o que faz parecer que a CPI está na hora do dia. E você prometeu pra todo mundo que pediu sua opinião um ano antes, que em abril de 2021 já estaria tudo normal. Continue usando máscara na última semana do ano.

Maio viu morrer Paulo Gustavo. 42 anos e a Covid não deu descanso. Depois de levar multidões pro teatro, fez a última grande bilheteria nacional antes da pandemia chegar e roubar as manchetes. Taí, pode ver ou rever os filmes dele nesta semana, ou ler sobre teatro, humor, preocupações sociais e preconceito.

Um mês de junho bombástico na televisão brasileira: Faustão saiu da Globo. Sem Faustão e sem Trabalhões, acabou o domingo. Ah, não, ainda tem o Fantástico, que falou do assassinato do assassino Lázaro Barbosa, julgado e condenado pela polícia e morto a tiros no que Foucault chama de Sociedade da Soberania. E a promessa de parar de ver televisão não foi cumprida, claro.

No final de julho começaram as Olimpíadas de 2020. Caramba, que atraso! Justo no Japão, povo que fabrica tanto relógio colorido. Pior foi pensar que ano que vem a Copa do Mundo vai quase coincidir com o Natal. E você não pode fazer nada a não ser assistir na TV.

Agosto te fez pensar nos amigos. O Roberto Jefferson, por exemplo, foi preso por incitar a violência, e é amigo, ou dividiu uma live com afinidade de discurso, com o Vereador Casal. Ficou pensando em suas lives e na felicidade por não ser amigo do vereador. Sem novas amizades esta semana, por favor.

Setembro viu as cores da bandeira brasileira nas ruas. No dia 7, apoiadores do presidente Bolsonaro foram às ruas defender a alta da gasolina, do dólar, da carne e da cesta básica colorindo o asfalto de verde, amarelo e muito, mas muito branco. Quem lê um pouco mais e entende a realidade brasileira preencheu os espaços públicos com vermelho, branco, preto, pardo, amarelo, azul e verde de esperança por um mundo melhor.

Outubro foi um mês de grandes decisões: os Facebook Papers fizeram com que o Zuckerberg mudasse o nome da empresa pra Meta e sua revolta com o que as pessoas são capazes de fazer com os seus dados foi compartilhada em todos os grupos de WhatsApp. Duvido que pare de mandar figurinhas de Ano Novo só porque se lembrou disso.

Novembro viu Lula ser recebido com honras de chefe de estado pela Europa, viu a variante ômicron ser revelada pela África do Sul, viu o crescimento do número de casos pelo mundo, viu países aprovarem o passaporte da vacina, viu Gilberto Gil se tornar imortal da Academia Brasileira de Letras… mas só teve olhos pro Papai Noel gay da Noruega. E você, atento a tudo, não vai pra Noruega esta semana e não é por conta do Papai Noel.

Dezembro é o sextou do ano, pode beber à vontade antes do meio-dia, relaxar porque chegou a hora de descansar, pensar que não precisa pensar em nada de trabalho, de vida, de carreira e até dormir sem despertador. Sim, faça isso na última semana do ano, acorde no dia 1° de janeiro e lembre-se: é o domingo do ano. Na segunda-feira começa tudo de novo.

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