Conjuntura

Continuidade da polarização entre Lula e Bolsonaro se torna aposta para 2024

Margarida Salomão, Charlles Evangelista e Ione Barbosa podem se valer da polarização entre e Lula e Bolsonaro (Foto: Câmara dos Deputados)

As primeiras conversas sobre as eleições municipais de 2024 revelam a aposta na manutenção da polarização entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A chamada nacionalização da disputa que já se manifesta em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre também tem adeptos em Juiz de Fora.

A estratégia leva em conta a resiliência do acirramento entre lulistas e bolsonaristas impulsionado pela dinâmica das redes sociais. Tal fenômeno, na avaliação de alguns pré-candidatos, pode superar a importância das demandas próprias das cidades e o peso dos atores locais, que sempre se sobrepuseram nas eleições municipais em praticamente todo o país, inclusive em 2020.

No início deste mês, o presidente do PL em Minas Gerais, o ex-deputado Zé Santana, tratou a possibilidade de ter o deputado federal Nikolas Ferreira, o mais votado do Brasil, como candidato do partido à prefeitura de Belo Horizonte nas eleições do ano que vem como “uma beleza”. Lula e o PT, segundo o colunista Lucas Ragazzi, da Rádio Itatiaia, sinalizam apoiar a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD).

Em Juiz de Fora, a prefeita Margarida Salomão (PT) usou suas redes sociais para postar uma declaração de Lula exaltando sua gestão. O vídeo foi gravado durante reunião do presidente com integrantes da Frente Nacional de Prefeitos em Brasília. O bom desempenho do petista nas eleições do ano passado no município é visto pelo entorno da prefeita como um indicativo positivo no caso de prevalecer a polarização.

Pelo lado bolsonarista, o ex-deputado federal Charlles Evangelista (PP) trabalha nos bastidores para se viabilizar como candidato a prefeito. Ele tem um acordo interno em seu partido e está apalavrado com o PL, da sua companheira, a deputada estadual Delegada Sheila (PL). Charlles aposta ainda na proximidade com Nikolas Ferreira, que obteve 30 mil votos em Juiz de Fora.

A deputada Ione Barbosa (Avante) aparece como outro nome com viabilidade junto aos eleitores de Bolsonaro. Já no início do seu mandato ela vem se colocando como oposição ao governo Lula. Embora divida a mesma bancada com o deputado André Janones (Avante), aliado de primeira hora do petista, Ione tem como contraponto interno a deputada Greyce Elias (Avante), que chegou a ser vice-líder do governo Bolsonaro.

Para o cientista político da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), mesmo considerando o fato de o fenômeno do bolsonarismo ser “repleto de particularidades, a lógica das disputas nos municípios é muito poderosa”. Ele lembra ainda que pessoalmente Bolsonaro nunca funcionou dentro de uma normalidade de disputa eleitoral durante o seu governo.

“É muito comum um presidente ganhar e fazer exercícios para construir palanques dois anos depois porque sabe que daí a quatro anos será a vez de ele ser submetido ao processo de novo. Bolsonaro simplesmente ignorou essa dinâmica das disputas municipais. Ele ficou boa parte de sua gestão sem partido. Não se trata de uma pessoa que pensa a lógica das disputas municipais”, explica Diogo Tourino.

O cientista político ressalta, no entanto, que Valdemar da Costa Neto (presidente nacional do PL) pensa a lógica das disputas municipais. “Então, veremos a máquina política tentando usufruir do capital político que o nome dele (Bolsonaro) representa.” Ainda assim, ele pondera que, em 2022, a associação ao bolsonarismo teve muito sucesso, “mas não foi um sucesso automático”.

O bom desempenho ou não de lulistas e bolsonaristas, segundo Diogo Tourino, dependerá muito da capacidade de as máquinas partidárias pensarem as dinâmicas municipais como uma rodada de um jogo de várias rodadas. “O Valdemar saber fazer isso, o Lula e o PT sabem fazer isso”. Quanto à polarização nacional, ele considera ser ainda necessário aguardar para “ver até quando isso vai se sustentar”.

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