
A polêmica sobre o futuro do Centro de Educação Física e Esporte (Cefe), no bairro Granbery, ganhou repercussão nacional após o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) publicar um vídeo em suas redes sociais em defesa da preservação do patrimônio. O parlamentar declarou apoio à Associação de Moradores do Bairro Granbery e criticou a especulação imobiliária que, segundo ele, busca “descaracterizar patrimônio histórico e passar por cima de tudo e de todos apenas para lucrar”.
“Querem erguer torres muitas vezes sem a infraestrutura urbana necessária, sem os serviços públicos no entorno. Só estão preocupados com lucros, destruindo as cidades. E ainda passam por cima de patrimônio tombado, como uma construtora quer fazer aí em Juiz de Fora, no Granbery.” Ao final, Boulos se colocou à disposição dos moradores para levar a questão à Câmara dos Deputados. “Estamos juntos para evitar que construtoras e empreiteiras, que se acham donas da cidade, passem por cima de tudo: das pessoas, das comunidades e do patrimônio histórico.”
Votação no Comppac
No dia 4 de agosto, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) aprovou, com votos favoráveis de todos os representantes da Prefeitura e da Câmara, o projeto que prevê a construção de duas torres — uma de 23 e outra de 12 andares — e de um edifício-garagem no terreno tombado que pertenceu ao Colégio Metodista Granbery.
Entre os votos favoráveis estiveram: Rogério José Lopes de Freitas (Funalfa), Eduardo José Crochet (Turismo), Ignacio José Godinho Delgado (Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo), Eduardo de Souza Floriano (Governo), Raphael Barbosa Rodrigues de Souza (EMCASA), Raphael Lopes Ribeiro (Desenvolvimento Urbano) e Paulo César Barbosa de Toledo Lourenço (Câmara Municipal).
Especialistas e moradores afirmam que a aprovação contraria o Decreto nº 16.754/2024, que estabelece o tombamento do conjunto esportivo do Granbery e determina a manutenção de sua integridade. Alterações previstas no projeto, como a substituição da piscina por uma praça e do campo de futebol por um edifício-garagem, seriam incompatíveis com as regras do tombamento.
Mobilização cresce
Um abaixo-assinado contra o empreendimento já reúne mais de 19 mil assinaturas. Além disso, durante a Tribuna Livre na Câmara Municipal na quinta-feira (28), a vereadora Cida Oliveira (PT) formalizou o pedido de uma Audiência Pública para o mês de setembro para tratar da questão com a presença dos conselheiros do Comppac.
A decisão final sobre a manutenção do tombamento cabe à prefeita Margarida Salomão (PT), já que o Comppac tem caráter apenas consultivo. Para a arquiteta Ananda Visentin, especialista em patrimônio histórico e cultural, o episódio representa um “destombamento disfarçado” e cria precedente perigoso para a preservação em Juiz de Fora.
Com a entrada de Guilherme Boulos no debate, a pressão popular e política em defesa do Granbery ganha novos contornos e amplia a visibilidade de um embate que pode definir os rumos da política de patrimônio cultural na cidade.