Colunas

Jornal impresso? O que é isso?

Começou a circular a primeira edição impressa do jornal O Pharol. Quase dois anos depois do lançamento do site, o jornal foi impresso com matéria inédita e textos selecionados do portal. Pode ser encontrado nos pontos mais nobres da cidade e o preço de capa é R$2.

Na faculdade, o jornal foi oferecido a diversos alunos e alguns perguntaram: O que é isso?

Jornal; era sempre essa a resposta. Isso eles já sabiam. Estudantes de Jornalismo, são convidados pela professora Ana Marta a comprarem um jornal impresso no primeiro período da faculdade e levarem para análise em sala. Para quase todos é o primeiro exemplar que tocavam e seria talvez o último se O Pharol não estivesse passeando pelas dependências do campus ao longo da semana.

O que a pergunta significa, de fato, é: quem diabos imprime um jornal em pleno 2023, depois de uma pandemia que tornou o mundo mais digital do que nunca? No caso de O Pharol: e ainda um jornal que já funcionava on-line!?

Funcionava não: funciona. Tem acessos, matérias, colunas e compartilhamento constante. E que tende a aumentar com a edição impressa. Autores como Henry Jenkins, Pierre Lévy e um tanto de gente do jornalismo, da publicidade e do storytelling explicam que falar por mais de um canal é mais eficiente do que por um só, e que os canais se complementam.

Olha só a Marvel. Fez HQs por décadas, fez sucesso no cinema e continua fazendo HQs, que podem ser lidas na internet ou no papel. Sem falar do sem número de outros filmes que se anunciam em diferentes meios e se completam no transmídia. Por que o jornalismo não pode fazer isso?

A ideia de notícia quente, ao vivo, hard news migrou com força para a internet. Lá todo mundo abre seu retransmissor em qualquer aplicativo e mostra um fato na hora em que acontece. O jornalismo que entendeu essa realidade tecnológica está menos preocupado em mostrar o fato do que em olhar o fato.

Olhar daquele jeito crítico, contemplativo, reflexivo e levar aquilo para os leitores de modo que os faça pensar. Um exemplo fácil: a morte de Pelé. Todo mundo no Brasil conhecia o Pelé, tinha (ou tem) uma opinião sobre o Pelé e deve ter lido ou visto, em qualquer canal, comentários sobre a morte do Pelé. Assunto velho, não é, já que o Rei do Futebol morreu no final do ano passado?

Em fevereiro, na revista Piauí, o jornalista Marcos Caetano escreveu o texto O rei que o Brasil não soube venerar, que pelo título parece uma fria análise com dois meses de atraso, mas é um relato emocionado que se mostra atual agora, em março, e assim seguirá por vários anos. O fato não mudou, mas Pelé pode ter mudado no conceito do leitor.

Para isso serve o jornalismo com tempo de pensar. Imprimir um jornal é uma aposta neste contexto de “tudo é digital, mano!”, ainda mais quando boa parte do que tem no papel apareceu antes no site. Mas velho, ah, velho isso não é. E se os autores de hoje não são suficientes para responder a essa questão, Confúcio, o sábio chinês, pode ajudar: “Quem compreender aquilo que é novo através da reutilização do que é antigo pode vir a ser um mestre.”

Um viva a O Pharol, ousado para chegar às mãos dos leitores, mesmo que isso custe a cara de um colunista embrulhando peixe ou forrando gaiola de passarinho. Um viva também à sustentabilidade, por que não?

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