Conjuntura

O Pharol entrevista o professor Lyderson Viccini, que concorre à reitoria da UFJF

Lyderson Facio Viccini (candidato a reitor) e Mônica Ribeiro de Oliveira (candidata a vice-reitor) participam da consulta pública da UFJF (Foto: Divulgação)

Em fevereiro de 2016, quando o atual reitor, Marcus David, assumiu o comando da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Dilma Rousseff (PT) ainda era presidente do Brasil. De lá para cá, o país teve outros três presidentes (Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula), polarizou-se politicamente e enfrentou uma pandemia.  É nesse contexto que a consulta pública para escolha de reitor volta a ter disputa (em 2020 Marcus David foi reconduzido com candidatura única).

O Pharol convidou os representantes das três chapas – Girlene Alves da Silva (Chapa 1), Lyderson Facio Viccini (Chapa 2) e Flávio Iassuo Takakura (Chapa 3) – para responderam cinco questões sobre os desafios e o futuro da UFJF. Eles falaram dos modelos de financiamento da instituição, teletrabalho, ensino mediado por tecnologia, evasão escolar e assédio. As três entrevistas foram publicadas conjuntamente em todas as plataformas, tendo o número das chapas como critério de ordem de publicação.

Acompanhe abaixo a entrevista com Lyderson Viccini.

O PharolEm virtude de seguidos cortes orçamentários, as universidades federais estiveram à beira de interromperem suas atividades em 2022. Embora os orçamentos tenham sido recompostos para 2023, a questão da manutenção das instituições federais de ensino permanece em pauta. Na sua avaliação, a geração de receitas por meio de parcerias com empresas privadas pode ser um caminho?

Lyderson (Chapa 2) – Entendemos que a Universidade precisa ter mais contato com a iniciativa privada. Precisamos reforçar nosso Escritório de Projetos para dar celeridade nessa captação de demandas dentro da UFJF e dar celeridade à execução financeira para o uso dos recursos que chegam das empresas. Alguns convênios e acordos demoram a ser feitos e a Universidade acaba perdendo oportunidades. 

Lançar mão do contato com a iniciativa privada é importante, mas precisamos também fazer gestões junto ao MEC, junto aos deputados e senadores, buscando apoio por meio de emendas parlamentares para atender questões próprias da UFJF. 

Temos que entender que captar recursos, seja com a sociedade civil, seja com empresas, ou poder público, tem que acontecer de forma desburocratizada. A política de inovação deve ser atualizada dentro da Instituição. É importante que essa captação, feita por áreas que são mais fortes nesse processo, possa ajudar àquelas com menor capacidade de captação, a exemplo das licenciaturas, das áreas ligadas às ciências básicas ou às ciências humanas. Isso permite que a Universidade cresça como um todo e que todas possam se beneficiar do processo. 

É claro que as áreas com pesquisas de base tecnológica estão mais propensas a formar parcerias externas, queremos ampliar isso e extrapolar o benefício para outras, desenvolvendo uma política de solidariedade. Com a ajuda do Escritório de Projetos, queremos ampliar esses benefícios em favor também dos projetos de extensão. 

Temos que ressaltar o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) como um centro importante de captação de recursos. Tão importante quanto ter um processo interno eficiente é fazer sua distribuição de forma transparente.

É fundamental lembrar que seguiremos sempre a legislação brasileira, dentro da ética pública. Diante disso, acreditamos que fazer parcerias não é entregar a Universidade, como eventualmente algumas pessoas falam, mas sim buscar apoio para gerirmos o bem público de forma mais ágil e moderna, atendendo às novas demandas, inclusive tecnológicas, da UFJF e da sociedade.

A UFJF iniciou um processo para adoção de teletrabalho e trabalho híbrido. Como fazer essa transição sem perder produtividade?

Na verdade, acreditamos que o teletrabalho é uma maneira de tornar mais eficiente o processo, temos uma relação de confiança com os técnicos e essa pressuposição de que a pessoa estar em casa em home-office ela não vai trabalhar, é considerar que as pessoas não têm responsabilidade com o que fazem. Nós não pensamos dessa forma. Então, entendemos que ela é uma ferramenta útil, moderna, já existente, inclusive, internacionalmente. No Brasil outros órgãos públicos também já trabalham assim. Nós vemos como uma ferramenta para dar celeridade à gestão, e não o contrário.

O futuro das universidades federais está em adotar um modelo de ensino mediado pela tecnologia?

Falando sobre as tecnologias no processo formativo, acreditamos em uma formação multidimensional, visando a qualidade, sempre de forma humana e inclusiva. Naturalmente, não dá pra falar de educação de qualidade sem usar a tecnologia; sabendo que ela é um componente que nos auxilia no processo formativo. Teremos sempre como referência a necessidade da socialização, da humanização do processo e da docência, efetivamente. É indiscutível que precisamos e vamos lançar mão da tecnologia como instrumento de auxílio.

A que se pode atribuir a crescente evasão nas universidades federais e como lidar com a questão?

Nós entendemos que esse é um processo complexo, com causas internas e externas à Universidade, inclusive presente em outras universidades federais e instituições de ensino superior. Vamos trazer alguns pontos que gostaríamos de ressaltar para o enfrentamento a essa questão: reavaliar processos formativos; implantar políticas fortes de permanência dos estudantes, englobando o acolhimento e o acompanhamento; investir em apoio estudantil completo, incluindo cultura e lazer; e fazer uma busca ativa aos estudantes para que possam retornar.

É preciso que a UFJF abrace seu aluno desde o ingresso, explicando o que é estudar na UFJF, para já gerar um sentimento de pertencimento. Mas é preciso reavaliar o nosso processo formativo, incluindo as ofertas de cursos, para que eles se tornem mais atrativos e que os currículos motivem mais nossos estudantes. Além disso, precisamos encarar o problema da não permanência de frente, desenvolvendo estratégias específicas para cada área do conhecimento, com levantamento de pontos fortes e fracos. Vamos focar também em um acompanhamento pedagógico desenvolvido em parceria com as licenciaturas para conseguir auxiliar o aluno como for necessário para que consiga progredir dentro da UFJF.

As múltiplas políticas de apoio estudantil que estamos promovendo não têm dado conta de reter esse aluno, daí a importância de estabelecer outras alternativas complementares ao apoio na alimentação, transporte, moradia, promovendo também o esporte, o lazer, a atividade cultural, não somente nos equipamentos culturais pertencentes à Universidade, mas expressões culturais aqui dentro do campus.

Por fim, faremos uma busca ativa, que também tem funcionado em outras universidades, que é tentar entender qual o contexto da vida do aluno, qual a justificativa dele para saída e, com isso, dando a possibilidade de que ele regresse à nossa instituição e consiga concluir seus estudos.

Levantamento realizado pela rede CNN revelou que estudantes registraram mais de 200 denúncias de assédio sexual contra professores de instituições federais e apenas 6% dos acusados foram demitidos. Alguns desses casos foram registrados na UFJF. O que falta para isso não acontecer mais?

Em reportagem recente da Fapesp, feita com base em um estudo da Federal do Rio Grande do Sul, vimos um quadro bem complicado. A matéria mostrou que o assédio moral, que compreende comportamentos violentos, xingamentos e humilhações que degradam o ambiente acadêmico, atinge cerca de 40% dos professores e alunos e mais da metade do corpo técnico-administrativo. 

Precisamos de políticas e programas educativos para criar uma nova cultura de respeito dentro da UFJF. Para isso, precisamos desenvolver um protocolo específico de atendimento às vítimas de assédio, tirar a Ouvidoria de dentro da Reitoria para dar mais privacidade aos casos, por exemplo. Nossa política de enfrentamento à violência inclui toda a nossa comunidade acadêmica, principalmente nossos trabalhadores terceirizados, lembrando que o primeiro passo é atender a vítima e garantir o direito de plena defesa. 

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