Diversidade

Marcha Antirracista encerra o “Julho das Pretas” em Juiz de Fora

Como parte da programação do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e do Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda, movimentos populares realizam hoje (25) a Marcha Antirracista, que também marca o encerramento do “Julho das Pretas” em Juiz de Fora. A concentração está marcada para as 17h30 no Parque Halfeld, com saída do cortejo às 19h em direção ao centro da cidade.

Instituído em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana, o 25 de julho tornou-se um marco internacional de afirmação da identidade negra feminina. No Brasil, a data também homenageia Tereza de Benguela, símbolo da resistência negra no período colonial. Tereza liderou o Quilombo do Quariterê, no atual estado do Mato Grosso, por cerca de 20 anos.

Em Juiz de Fora, o 25 de julho também celebra o Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda. Cirene Izidorio Candanda foi uma cidadã benemérita juiz-forana, reconhecida por sua incansável luta contra a discriminação da raça negra. Sua atuação esteve vinculada aos movimentos populares sociais e à área da saúde no município, sendo uma militante em defesa da saúde de qualidade para todos e do respeito.

Apesar de a população negra ser maioria no Brasil (55,5%, segundo o IBGE), ela é também a que mais sofre com a pobreza: três em cada quatro pessoas em situação de pobreza são negras. A realidade da mulher negra é ainda mais alarmante quando se observam os dados de violência e desigualdade. Pesquisas recentes indicam que a violência contra a mulher negra é uma realidade persistente e alarmante.

Dados divulgados ontem (24) pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que o feminicídio bateu recorde em 2024, desde que o crime foi tipificado em 2015. Foram registradas 1.492 mortes de mulheres, uma média de quatro assassinatos por dia, representando um aumento de 0,7% em relação a 2023. A maioria das vítimas — 63,6% — era de mulheres negras, com idades entre 18 e 44 anos. Em 97% dos casos com autoria identificada, o agressor era homem.

Ao comentar os dados no jornal Folha de São Paulo, a jornalista, escritora e professora da PUC-SP, Rosane Borges, questionou o que sustenta não só a permanência, mas o crescimento dessa crueldade contra as mulheres negras. “É por isso que hoje, em várias cidades brasileiras, as mulheres irão marchar, denunciando as iniquidades que se abatem sobre nossos corpos e propondo a adoção de um programa político em que o racismo e o patriarcado deixem de ser os elementos prevalentes do cartão postal da nação brasileira.”

Em entrevista à Rádio Senado, a doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília e consultora de gênero e raça, Kelly Quirino, ressaltou que o 25 de julho é um chamado à ação para a criação de políticas interseccionais que mitiguem ou erradiquem as violências contra as mulheres negras e pobres. A data celebra não apenas a resistência, mas também a potência das mulheres negras como lideranças, empreendedoras e criadoras. Mesmo estando na base da pirâmide social, elas são propositivas e fundamentais para pensar um país mais justo.