O atual vice-prefeito de Juiz de Fora, Kennedy Ribeiro (sem partido), não estará ao lado da prefeita Margarida Salomão (PT) na busca pela reeleição. A relação entre os dois começou a desandar ainda antes da posse, o que refletiu na total ausência de espaço (político e físico) do vice na gestão petista. De lá para cá, pouca coisa mudou, e o trato seguiu meramente protocolar.
O que Margarida não imaginava era que a busca pelo sucessor de Kennedy lhe trouxesse tantos contratempos. Com 2026 no horizonte, quando pode deixar o governo municipal para entrar na disputa pelo Senado, a cadeira de vice em sua chapa, numa eventual reeleição, se tornou uma espécie de atalho – e que atalho! – para se chegar à Prefeitura.
A possibilidade de tomar um caminho mais curto para comandar a quarta maior cidade de Minas Gerais encheu os olhos de partidos do chamado “centrão” e facilitou as conversas da prefeita com o PSD, o União Brasil e mais recentemente com o PSB. Os três podem se juntar ao PV, PCdoB, PDT, PSOL e REDE numa frente ampla e heterogênea capitaneada pelo PT.
Atualmente a estrutura da Prefeitura conta com 29 cargos de primeiro escalão (secretarias, autarquias, fundações e empresas públicas) para abrigar tantos e tão diversos aliados. A prefeita e a secretária de Governo, Cidinha Louzada, vêm obtendo êxito até agora na acomodação de tantos interesses. Mas, no caso da vice, há mais de um pretendente. E pior: eles estão intransigentes.
Quando esteve em Brasília no início do ano para conversar com a cúpula do União Brasil, que na ocasião tinha apalavrada a filiação do ex-deputado Júlio Delgado (atualmente no MDB), a prefeita, acompanhada pelo deputado federal Luiz Fernando Faria (PSD), sinalizou com a possibilidade de formação de uma chapa PT-União Brasil.
As conversas avançaram com as bençãos do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que segue com ascendência sobre o União Brasil em Minas Gerais. Coube a ele, inclusive, o distrato com Júlio Delgado e a definição do nome a ser indicado como vice. Em troca, Margarida se comprometeu a apoiar o senador numa eventual candidatura ao governo do estado em 2026.
Em outra frente, também costurada em Brasília, a prefeita emplacou uma aliança com o PSB. Em uma postagem em suas redes sociais após o acerto com a petista, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, indicou que a parceria era uma espécie de reedição em Juiz de Fora da dobradinha PT-PSB, que elegeu o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin.
Na mesma semana, o presidente do PSB de Minas, deputado estadual Noraldino Junior, que havia ficado de fora do anúncio em Brasília, apareceu em suas redes sociais com Carlos Siqueira e o empresário Marcelo Detoni, que foi lançado como pré-candidato a vice-prefeito pelo PSB.
Detoni já vinha sendo cotado como parceiro de chapa de Margarida há alguns meses. Em fevereiro deste ano, o colunista César Romero, da Tribuna de Minas, chegou a anunciar sua filiação ao PSD por onde inicialmente pleitearia a vaga. Com a exigência do PSB, o empresário resolveu se juntar aos socialistas e a Noraldino, de quem é amigo pessoal.
A exigência do PSB quanto à indicação do vice e a provável escolha de Detoni para a vaga levou parte do diretório municipal do PT a questionar a aliança, gerando desconforto para Margarida. A questão acabou sendo objeto de deliberação, quando a própria prefeita saiu em defesa do PSB e de Detoni. Em votação interna, a aliança foi preservada.
Embora com desfecho favorável para o PSB, a polêmica criada por parte o PT fez crescer a aposta na aliança com o União Brasil, que é defendia pelo entorno de Margarida, formado por alguns secretários e por docentes e ex-docentes da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
O Pharol conversou com quatro integrantes desse seleto grupo ao longo do último mês. Para eles, por mais contraditório que pareça, o União Brasil representa o caminho mais viável para se manter o atual modelo de gestão no caso de uma eventual saída da prefeita em 2026 para disputar o Senado. Longe de ser uma questão ideológica, a escolha envolve os personagens.
O nome do União Brasil para compor chapa com Margarida nasceu de uma articulação complexa e sigilosa que passou pelas principais lideranças políticas de Minas Gerais. Trata-se de Fernando Antônio Fagundes Reis. Sem nenhum alarde, ele ingressou no União Brasil via diretório nacional no dia 3 de abril deste ano, três dias antes do prazo final para aqueles que querem se candidatar se filiarem a algum partido.
Fernando Fagundes, ou Fernandinho Fagundes, é advogado com passagem pelo Ministério Público de Minas Gerais (1990 a 2013), onde exerceu o cargo de procurador-geral adjunto. Foi secretário municipal de Negócios Jurídicos na gestão Custódio Mattos (1993-1996) e secretário de estado no Governo Aécio Neves (2003-2006). Como professor da Faculdade de Direito da UFJF (1994-2012), exerceu a função de secretário de assuntos institucionais da instituição entre 1997 e 1999 na gestão da reitora Margarida Salomão.
A filiação de Fernando Fagundes foi um pedido da própria Margarida e teve o aval de Rodrigo Pacheco e da cúpula nacional do União Brasil. Seu perfil de consenso é a principal aposta do entorno da prefeita para tentar demover o PSB da candidatura a vice-prefeito. Mas a empreitada não será das mais fáceis.
Em conversa com O Pharol, Noraldino Júnior foi taxativo: “O PSB estará com a prefeita apenas na condição de vice. Pensando nisso, vamos realizar nossa convenção partidária após o PT para não ter erro.” Caso a aliança não seja possível, o partido pode lançar o próprio Noraldino como candidato a prefeito.
Por outro lado, um dirigente estadual do União Brasil assegurou para O Pharol que, dada a relevância política do partido, “não há como permanecer na aliança aí em Juiz de Fora sem a indicação do vice”. Ele assegurou, no entanto, que segue otimista quanto a parceria.
As convenções partidárias para definição das candidaturas para as eleições de outubro deste ano serão realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto.