Contexto

As críticas de Margarida e Manuela D’Ávila ao atual momento da esquerda

Em menos de uma semana, a prefeita reeleita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), e a ex-candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) em 2018, Manuela D’Ávila (sem partido), criticaram a atuação dos partidos de esquerda frente ao fraco desempenho no primeiro turno das eleições municipais. Enquanto a primeira atacou o preconceito do seu espectro ideológico contra os evangélicos, a segunda verbalizou o incômodo com supostas pressões internas contra o debate público de pautas identitárias.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo divulgada nessa segunda-feira (21), Margarida atacou a dificuldade em ouvir os evangélicos. “A esquerda é muito autossuficiente, já sabe tudo. Acho que há preconceito contra os evangélicos. As mulheres evangélicas têm muito a dizer sobre a violência contra a mulher, porque elas se protegem, têm redes de proteção social. A gente tem que aprender com elas. Eu estou disposta a aprender.”

A prefeita também relatou certo desencanto da esquerda nos últimos anos no mundo. “Os social-democratas começaram a reduzir o Estado de bem-estar social. E os beneficiários do bem-estar social se desencantaram da esquerda, porque, se é para fazer política de direita, então eu voto na direita.”

Em debate sobre o futuro da esquerda promovido pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta), na última quarta-feira (16), Manuela D’Ávila Manuela criticou setores da esquerda contrários ao debate público de pautas identitárias, numa estratégia de reposicionamento do PT para tentar aproximação com alas conservadoras e religiosas da sociedade. Para ela, temas raciais e de gênero não deveriam ser descolados da chamada luta de classes.

“O mínimo é o direito de debater com franqueza. Sinto certa obstrução. Cada vez que a gente abre uma mesa sobre como avançar na esquerda, a gente escuta: ‘Opa, estão ajudando o Bolsonaro.’ Eu não tô. Quem nós nos tornamos nesse mundo em crise? Nos tornamos defensores de uma certa institucionalidade que nós, originalmente, deveríamos enfrentar”, afirmou a ex-deputada gaúcha.

Durante o evento, Manuela D’Ávila declarou ser uma “mulher sem partido” após 25 anos de filiação ao PCdoB. “Depois de 25 anos num único partido, eu não sou uma mulher sem partido por opção, eu sou por falta de opção, por falta de condições de qual caminho seguir. Esta é minha reflexão individual e coletiva daqueles que militam comigo.”

Ao longo do debate, a ex-deputada se mostrou mais alinhada com o historiador Jones Manoel, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), uma organização política sem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e de deputado estadual do Paraná, Renato Freitas (PT). Os dois fazem defesa de uma ação enérgica à esquerda.

Isso não impediu que Manuela D’Ávila defendesse a frente-ampla que elegeu Lula para o terceiro mandato em 2022. “Nós somos a esquerda da frente frente-ampla. Se não tem esquerda, é frente de centro-direita. O papel da esquerda é ser quem organiza a luta da esquerda, sem medo de achar que isso prejudica o governo Lula. O nosso papel é disputar o rumo desse governo”, concluiu.