
Brasil! Essa tragicomédia sem fim, onde os personagens se revezam no palco da política, encenando um drama que, de tão repetitivo, beira o patético. Quem, em sã consciência, ainda se surpreende com as peripécias do ex-presidente, esse paladino da desfaçatez que, desde os tempos de parlamento, jamais escondeu seu desprezo pela democracia? Uma democracia, aliás, que ele fez questão de vilipendiar antes mesmo de sentar na cadeira presidencial, e continuou a fazê-lo com um afinco digno de causa maior. Ninguém, com um mínimo de bom senso, ousa duvidar. E que, se tivesse encontrado o terreno fértil para seu delírio autoritário, teria mergulhado o país num golpe, isso também é uma obviedade ululante. Mas, e a tentativa de golpe, o 8 de janeiro, o clímax dessa ópera bufa? Ah, aí, meus caros, é preciso um toque de surrealismo, uma dose cavalar de criatividade para enxergar a trama.
O Planalto, esse antro de conveniências, aproveitou-se da turba de lunáticos que, em sua cegueira ideológica, invadiu a Praça dos Três Poderes. Uma invasão que, convenhamos, serviu de pretexto perfeito para, em conluio com o STF, tecer a narrativa do golpe. Aqueles que lá estavam, em sua maioria, sonhavam com um golpe de estado? Provavelmente sim. Bolsonaro e sua corte de asseclas também? Muito provavelmente. Mas, e a tentativa, a ação concreta? Até onde meus olhos cínicos alcançam, não!
Mas, que importa a realidade, os fatos brutos e indomáveis, num país onde a narrativa é a nova moeda, e cada um a manipula a seu bel-prazer? A esquerda brasileira, essa dama de ferro que flerta com as maiores ditaduras do mundo, posa agora de vestal da democracia. E a direita bolsonarista, essa defensora ferrenha da ditadura militar, arvorou-se em paladina da liberdade de expressão. Uma inversão de valores que faria Nietzsche revirar no túmulo.
Tudo não passa de uma triste peça de teatro, um espetáculo de horrores que se desenrola diante de nossos olhos atônitos. Nada, absolutamente nada, tem a ver com a realidade. E antes que me indaguem, com a ingenuidade típica dos que ainda creem em finais felizes: “E o julgamento do Bolsonaro?” Ah, esse é o ápice, o gran finale, o momento catártico dessa farsa em que nos metemos. Um desfecho, aliás, que todos nós, espectadores dessa tragicomédia, já conhecíamos antes mesmo de o pano se abrir.