A vida dos outros

Tarcísio Delgado: o jequitibá maduro da política de Juiz de Fora

Foto: Carlos Mendonça

“Quanto a Tarcísio Delgado, posso testemunhar. Conheço bem seu tipo: franco, direto, objetivo, sem subterfúgios. Eis sua marca pessoal e política. Por isso mesmo, temido e respeitado.” O depoimento é de Ulysses Guimarães e o ano é 1988. Os dois, já caciques do MDB, haviam se tornado amigos em 1974, quando o partido aplicou uma goleada no regime e conquistou 161 cadeiras na Câmara dos Deputados. Tarcísio ficou com uma delas.

Antes da amizade que lhe rendeu o apreço de Ulysses, ainda em Juiz de Fora, Tarcísio já havia conquistado a admiração de outro grande advogado e político: José de Castro Ferreira. Foi com ele que o recém-formado bacharel de Torreões iniciou sua carreira em meados de 1964. E foi também por suas mãos que Tarcísio se filiou ao MDB e se elegeu vereador em 1966.

Na sequência, veio a eleição para deputado estadual em 1970 e, depois, a histórica vitória do MDB em 1974, quando Tarcísio passou a conviver em Brasília com Ulysses e o grupo dos chamados “autênticos”. Ele só retornaria definitivamente à cidade em 1982, ao vencer a eleição municipal e assumir a Prefeitura de Juiz de Fora por seis anos.

“Foi um período de semeaduras”, escreveu Tarcísio. “Conseguimos reunir um grupo de jovens idealistas cheios de belos sonhos”. Entre esses jovens estavam Custódio Mattos e Margarida Salomão. Tarcísio voltaria a ser eleito prefeito em 1996 e 2000. Custódio também chegaria ao Executivo nas disputas de 1992 e 2008. Margarida, por sua vez, assumiria a prefeitura nas eleições de 2020 e 2024.

Juntos, Tarcísio e seus jovens idealistas – Custódio e Margarida – vão governar Juiz de Fora ao longo de três décadas. A isso somam-se ainda os cinco mandatos de deputado federal de seu filho, Júlio Delgado, e os dois de vereador do sobrinho, Maurício Delgado. Sem contar vereadores, vice-prefeitos e secretários. Isso, apenas para citar o legado político.

Em 1992, quando assumiu a liderança do MDB na Câmara dos Deputados, Tarcísio fez um discurso memorável em defesa do partido. Hoje, olhando seu legado, percebe-se que falava também de si mesmo:

“Os galhos que tantas vezes me foram arrancados, e os que por ventura secam, apodrecem e caem, não impedem meu fortalecimento. Pelo contrário, fazem acumular a seiva no cerne forte e são o que perpetua minha existência. Certamente já sabeis quem vos fala. Mas, se por desaviso perguntais quem sou eu, vos respondo: sou jequitibá maduro”, sou Tarcísio Delgado.