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Ações de liberdade: livro resgata busca por liberdade na Justiça por escravizados de Juiz de Fora

Ilustração: Luíso Camargo

É recente a valorização, em Juiz de Fora, do nome de Roza Cabinda — mulher negra que foi escravizada pelo comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld e que conquistou sua liberdade na Justiça em 1873. Quase 150 anos depois, seu nome batiza a principal honraria concedida a mulheres pela Câmara Municipal e também o viaduto recentemente inaugurado na cidade.

A movimentação em torno da memória de Roza Cabinda inspirou a professora e doutora em História pela UFJF, Giovana Castro, a propor uma pesquisa sobre ações de liberdade no município. O estudo resultou no livro Ações de liberdade: protagonismos, autonomias e insurgências, escrito em parceria com os historiadores Luan Pedretti e Vanessa Lopes. O lançamento será nesta quarta-feira (10), às 18h30, no Anfiteatro João Carriço, em formato de e-book gratuito.

Segundo os autores, a obra “aborda o protagonismo de sujeitos negros em situação de escravização no século XIX na busca por sua liberdade, ao confrontarem o sistema escravista, explorarem brechas na legislação e reivindicarem o direito de serem livres junto à Justiça, muitas vezes à revelia de seus proprietários”.

O trabalho reúne documentos de diferentes regiões do país. Em Juiz de Fora, foram identificados 19 registros de ações de liberdade, preservados pelo Arquivo Histórico Municipal.

Em entrevista a O Pharol, os autores explicam que o objetivo do livro é lançar novos olhares sobre a escravização na cidade, dando centralidade às vozes de quem foi vítima do sistema, mas jamais deixou de lutar contra ele.

“Conferir esse protagonismo é essencial para se pensar a atuação desses sujeitos, que por muito tempo foram retratados como passivos e inoperantes na sociedade escravista”, destacam.

Eles ressaltam, ainda, que o tema da escravização em Juiz de Fora já vem sendo pesquisado em espaços acadêmicos, mas ainda encontra barreiras para chegar ao debate público.

“Os sujeitos de hoje que tiveram relação com pessoas escravizadas no passado guardam essas memórias, mas a cidade como um todo ainda tem dificuldade de lidar com esse passado. A proposta do livro é justamente discutir as ações dos sujeitos escravizados na busca por liberdade e refletir sobre a importância desse elemento em um contexto em que essa memória raramente é valorizada”, afirmam.

O livro foi viabilizado com recursos da Lei Murilo Mendes, por meio do edital Murilão, organizado pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), da Prefeitura de Juiz de Fora.