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Por que é preciso cautela com a flexibilização do uso de máscaras?

Infectologista afirmar ser ainda cedo para flexibilizar uso de máscara para proteção contra Covid (Foto: Ricardo Wolffenbuttel/GSC)

Na última semana, a Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, colocou fim à obrigatoriedade do uso de máscaras no município. A decisão anunciada pelo prefeito Washington Reis (MDB) na terça-feira (5) durou apenas 48 horas. Na quinta-feira (7), a Justiça suspendeu a medida a pedido do Ministério Público e da Defensoria Pública.

A Prefeitura de Duque de Caxias justifica a decisão por ter aplicado a primeira dose em 70% da população alvo e com a segunda dose alcançando, até o momento, 46,8%. Também com base no avanço da cobertura vacinal, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo prometeram para os próximos dias reavaliar a possibilidade de flexibilização de medidas para conter a pandemia.

“Flexibilizar o uso de máscara em locais aglomerados ou fechados ainda não é a hora”. A avaliação é do médico infectologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, Rodrigo Daniel de Souza. Para ele, o pior cenário continua sendo o ato de ficar frente a frente com alguém sem distanciamento e sem máscara. “Chego a dizer que talvez seja mais arriscado que trabalhar em um hospital usando máscara”.

O infectologista explica que, embora sem uma fundamentação estatística, a suspensão do uso de máscaras em ambientes externos, com baixa concentração de pessoas é totalmente factível. Mas alerta que, mesmo em locais abertos, a interação entre as pessoas é a maior vilã. “Concordo com a flexibilização responsável, mas que cada um tenha sua máscara disponível para ser imediatamente colocada”.

Mesmo com queda no número de óbitos e nas hospitalizações, medidas para conter a pandemia ainda devem permanecer (Foto: Leonardo Costa)

Com relação ao fato de outros países terem desobrigado o uso de máscaras, caso de Israel, Itália, Estados Unidos, Grécia, Nova Zelândia e Reino Unido, o médico faz uma distinção em relação ao que acontece no Brasil. “Com grupos tão heterogêneos de vacinados (diferentes vacinas) e de percentual de infecção prévia na população, qualquer extrapolação do que aconteceu em outros países seria mera especulação”.

Rodrigo Daniel avalia o atual cenário da Covid-19 no Brasil com boas perspectivas, mas pondera quanto ao imprevisível. “Os casos de Covid-19 continuam acontecendo, mas num patamar bem inferior às ondas anteriores e, cabe ressaltar, com uma gravidade muito inferior. A ocupação de leitos vem caindo a cada quinzena. Com a expansão de doses para adolescentes e a dose de reforço alçando os mais vulneráveis e os mais expostos, temos perspectivas excelentes. Ninguém consegue prever o que vai acontecer.”

No mais recente boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o índice de mortalidade da doença manteve-se estável, com média de 500 óbitos diários. Em abril, foram notificados mais de três mil por dia. Ainda assim, pesquisadores chamam atenção para a permanência da transmissão e a incidência de casos graves. Os dados representam a estabilização da epidemia no Brasil, ainda com níveis que necessitam atenção.

O relatório ressalta a grande importância da vacinação, mas alerta que ela não pode ser tratada como a única medida necessária para interromper a transmissão do vírus entre a população. Nesse sentido, a Fiocruz defende a adoção do passaporte da vacina em eventos e espaços de uso coletivo, o uso de máscaras, distanciamento físico e higiene constante das mãos em ambientes fechados ou em ambientes abertos com aglomeração.

O relatório termina recomendando prudência, mesmo em um cenário de relativo alívio, como forma de caminhar para o fim da pandemia, ainda que sem previsão concreta. “Não é prudente e oportuno falar em prazos concretos e datados para o fim da pandemia, e sim em garantir que sejam tomadas as medidas necessárias para que este dia possa se aproximar”.

Cautela também é a recomendação do infectologista Rodrigo Daniel. “Ninguém consegue prever o que vai acontecer. Estatísticos disseram que teríamos uma grande onda na segunda quinzena de outubro, mas aparentemente estavam enganados. Temos que confessar que não temos domínio da situação. Como disse um colega médico: ‘O vírus está escrevendo um livro de medicina, mas que até o momento só temos o prefácio. Nem o índice. Muito menos o último capítulo. ’”