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Camisa do Brasil ressignificada

O rapper mineiro Djonga em BH; Anitta no Coachella; Ludmilla e Caio Prado no Rock in Rio (Fotos: Divulgação/Redes Sociais)

O rapper mineiro Djonga em BH; Anitta no Coachella; Ludmilla e Caio Prado no Rock in Rio. O que estes artistas têm em comum? O orgulho em usar a camisa verde e amarelo nos shows e o resgate do orgulho pelas cores da bandeira nacional, um símbolo capturado pelos conservadores bolsonaristas.

Num show inesquecível para milhares de pessoas no Breve Festival em Belo Horizonte, em abril, Djonga disparou:

“Com essa camisa aqui é mais gostoso de ouvir vocês gritando, porque os caras acham que tudo é deles, eles se apropriam do tema família, eles se apropriam do nosso hino, eles se apropriam de tudo, mas é o seguinte: é tudo nosso, e nada deles.”

Literalmente em casa, o rapper mineiro puxou o famoso grito contra o governo atual e deixou claro que vai lutar para ressignificar a tradicional amarelinha.

O registro foi publicado no Instagram de Papa, produtor de Djonga, com a legenda “Pode tirar a amarelinha da gaveta que esse ano tem Copa do Mundo e a camiseta do Brasil é nossa!”

Parece que deu certo! No dia seguinte, o furacão Anitta provocou bolsonaristas com look parecido no Coachella: “As cores pertencem ao Brasil.”

No festival que acontece na Califórnia, nos EUA, a cantora carioca seguiu alfinetando: “Ninguém pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país.”

A roupa escolhida pela funkeira incomodou os mais conservadores. Mas ela se defendeu nas redes: “A bandeira do Brasil e as cores da bandeira do Brasil pertencem aos brasileiros. Representam o Brasil em geral. Ninguém pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país. Fim.”

Nunca é demais lembra quer, em novembro passado, Anitta se irritou com uma indireta de Bolsonaro após um vídeo no qual ele debochava das lives realizadas pela cantora com a advogada Gabriela Prioli. “Devia estar cuidando do Brasil”, afirmou ela.

A bem da verdade, o verde e amarelo que escorreu pela orla de Copacabana e pela Avenida Paulista a partir de 2013, aos poucos, vem ganhando outros tons. Na moda, por exemplo, tem virado tendência em looks progressistas. Capa de revista, artigo fashionista e de grande utilidade para a Copa que se aproxima.

“Acho ótimo que a camisa volte a ser a cor do país”, crava Glória Kalil, jornalista, empresária e consultora de moda brasileira. “Muito legal essa tomada de volta do verde e amarelo para quem não é bolsonarista. Mais do que em tempo! Senão, o que fazer na Copa do Mundo?”

Nos últimos meses, concorda Glorinha, vídeos sobre a “brazilcore” (brazilian aesthetic ou estética brasileira) inundaram as redes sociais, especialmente no TikTok, com uma série de produções e roupas nas cores verde e amarelo, que remetem à bandeira do Brasil.

Para outros, essa movimentação começou depois que várias fashionistas europeias se apropriaram e reproduziram o estilo tradicionalmente usado na periferia e, majoritariamente, discriminado por uma sociedade racista e elitista.  Mas aí é outro papo…

Corta para o Rock in Rio, este mês. No último dia de Cidade do Rock, Ludmilla lacrou de verde e amarelo quando entoou antigos sucessos no palco Sunset e ainda pediu para fãs fazerem o “L”. Há quem diga que a cantora carioca não fez nenhuma menção se o “L” era uma referência ao seu nome. Ludmilla já havia defendido o ex-presidente Lula e até posado ao seu lado. Isto depois de um “Fora Bolsonaro” no Lollapalooza. Quem não se lembra da provocação “neutro é shampoo”?

Horas antes, Caio Prado encheu de beleza e política o maior festival de música do Brasil. O cantor participou de homenagem à cantora Elza Soares e, em poucos minutos de palco, conseguiu entrar a para a história, vestindo… a camisa canarinho. Na verdade, era metade um vestido vermelho glamouroso, e a outra metade, costurada a ele, o uniforme da seleção brasileira de futebol. Um desbunde banhado a “Malandro”, composição de Jorge Aragão que ficou eternizada na voz de Elza.

Prado pediu para que o público acendesse as luzes de seus celulares, simbolizando estrelas em homenagem à Elza, e embalou: “Para nossa rainha ouvir esse coro da resistência. O Brasil melhor merece dias melhores, sem fome, com saúde e educação.” Em seguida, o público puxou um coro a favor do candidato Lula.

Em resumo, num cenário político nacional em que, nos últimos quatro anos, a bandeira e a camiseta do Brasil foram tomadas pela ala conservadora, despolitizar e ressignificar o verde o amarelo é, para uma parte importante da sociedade progressista, um ato urgente e revolucionário.