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Quando a História se recusa a ser escrita

Copa de 1978: os dois zagueiros Campinas - Oscar da Ponte Preta e Amaral do Guarani -, com Toninho Cerezo do Atlético Mineiro (Foto: Reprodução/Twitter)

A seleção brasileira de futebol, depois de vencer, de forma espetacular, a Copa de 1970, no México, teve duas chances de consolidar sua hegemonia na competição: na Alemanha/1974 e na Argentina/1978 – antes que a Itália, na Espanha/1982, empatasse o placar em número de conquistas do torneio, em 3 a 3.

Na primeira dessas oportunidades, na Copa da Alemanha, do time titular de 1970 não havia mais Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson, Tostão e Pelé, mas o time era bom. Leão era melhor que Félix, assim como a zaga (Marinho Peres, Luiz Pereira e Marinho Chagas) era superior a anterior (Brito, Piazza e Everaldo) – e tinha ainda Jairzinho e Rivelino.

O problema era, na verdade, a comissão técnica, principalmente o ultrapassado, arrogante e patriota Zagallo – que se recusou a saber que times holandeses tinham vencido por quatro vezes consecutivas, no ciclo pré-copa, o campeonato europeu de clubes e a seleção holandesa, não por acaso apelidada de “Laranja Mecânica” (referências à cor da camisa e ao filme do Kubrick), já assombrava a Europa.

Porém, a despeito de tudo isso, no jogo inaugural daquela Copa o Brasil mereceu vencer a Iugoslávia (então um conglomerado de países eslavos, Sérvia incluída, administrados com mão de ferro pelo Marechal Tito, sob os auspícios da extinta União Soviética). O goleiro adversário Enver Máric (nascido na Bósnia) foi o melhor jogador em campo e defendeu, entre outras bolas, dois petardos de Rivelino e Nelinho – além disso, Jairzinho, que havia feito gols em todos os jogos da Copa anterior, perdeu uma chance inacreditável.

Se uma dessas três bolas estufasse as redes, a História seria outra: a seleção brasileira se classificaria em primeiro do grupo, ganharia confiança e fugiria do encontro precoce com a Holanda.

Quatro anos depois, na Argentina, o problema principal continuava sendo a Comissão Técnica, desta vez comandada por Claudio Coutinho, um teórico do futebol, espécie de precursor de Tite – capaz de cunhar “conceitos” como “ponto futuro” e “overlapping” e frases como “campeão moral”, mas incapaz de convocar Falcão, então o melhor jogador brasileiro, bicampeão nacional pelo Internacional.

Contudo, o time era bom, com, ainda, Leão, a excelente zaga de Campinas (Oscar da Ponte Preta e Amaral do Guarani), Cerezo, Zico e Reinaldo.

O jogo de estreia naquela Copa foi contra a Suécia. Jogo empatado até aos 45 minutos do segundo tempo, quando o Brasil teve um escanteio a favor. Nelinho bateu com a perfeição de sempre e Zico marcou o gol de cabeça. Só que o árbitro anulou o tento, alegando que havia encerrado a partida com a bola em movimento.

Se o arbitro não tivesse tomado essa decisão, absurda e errada, o Brasil teria adquirido confiança, seria o primeiro do grupo e evitaria o confronto antecipado com a Argentina. Aconteceu de outro jeito: um outro empate, na segunda rodada, contra a Espanha, fez com que a direção da CBD (atual CBF) interferisse na escalação do time, obrigando Coutinho a trocar Zico e Reinaldo por Jorge Mendonça e Roberto Dinamite.