Colunas

Juiz de Fora, Cidade Luz

Paris que se cuide, vai perder o posto rapidinho. Aqui não tem A torre e nem O museu (embora tenha uns bem bons), mas tem um rio, muitos prédios com nomes em francês e muitas galerias (quem precisa de uma Lafayette?).

Logo que a Margarida assumiu a prefeitura, mudou a iluminação de boa parte da cidade. Trocou as lâmpadas por mais baratas e tudo ficou focado no que tinha que iluminar. Nada de luz se espalhando por todo lado: se era pra iluminar a rua, que iluminasse a rua. Sem luz jogada para cima, mais estrelas deveriam aparecer no céu.

Os astrônomos ficaram decepcionados com Juiz de Fora. Menos postes competiam com os astros, mas se esqueceram da variável mais potente do espectro luminoso: as empenas e os painéis eletrônicos.

Os outdoors foram oficialmente (na prática nem tanto) banidos da cidade, mas as empenas, aqueles grandes painéis nas laterais dos prédios, seguiram permitidas. Sem problema quanto a isso, grandes anúncios onde antes havia grandes paredes monocor. O que mata a sociabilidade são as luzes.

Cada empena tem mais luz apontando para fora do que para dentro do anúncio. A luz vai até a rua, até o céu, até a casa do vizinho e, claro, até o anúncio. Fosse um iluminador competente, daqueles de teatro, contratado para instalar as empenas, teria a luz fechada no material impresso, sem vazar para incomodar a vizinhança (que passa a rejeitar o troço anunciado) e ainda deixando um moldura magnífica no anúncio. Utopia.

Os parceiros das empenas são os painéis luminosos. A luz, ao contrário, não bate neles e além: vem deles e vai para todo lugar. Todo mundo que mora perto de um painel luminoso tem a casa e a vista, de noite, multicolorida. Um inferno psicodélico.

Para os motoristas, nem só de noite, o pesadelo impera. Carros, pessoas, motos, bicicletas circulando por todos os lados e ainda uma televisão cheia de coisas com uma luz intensa na cara do motorista. Não há exame psicotécnico que saiba lidar com esse impacto. Que de noite é pior, claro.

Sem falar na vizinhança do Colégio dos Jesuítas, que tem hora de dormir e acordar marcada pelo painel que ilumina do Centro a São Mateus. Das 22h às 6h, ou seja, oito horas de bom sono, o suficiente para qualquer um. Se a novela atrasar ou o filme for mais longo, azar o seu: o painel vai piscar na sua cara às seis da matina. Pelo menos o colégio enviou, gentilmente, um bilhete para os queridos vizinhos.

Você pode enviar para a vizinhança: meu cachorro late até meia-noite; todo final de semana faço festa no meu apartamento até a madrugada; passo com som alto no meu carro por aqui sempre que quiser. Depois de entregue o bilhete, vivem todos em paz e que o Senhor nos ilumine.