
No último mês de maio, 7,94 milhões de passageiros utilizaram os ônibus urbanos em Juiz de Fora, número próximo aos 8,24 milhões transportados mensalmente em 2019. Aos poucos, a população volta a recorrer ao transporte público coletivo. Esse movimento tem como pano de fundo políticas públicas como o congelamento da tarifa, a roleta livre aos domingos e o passe livre estudantil.
A má notícia é que o aumento da demanda não foi acompanhado pela oferta de viagens. Em junho de 2019, foram realizadas 329.763 viagens para transportar 7,8 milhões de passageiros (média de 23 por viagem). Já em junho deste ano, o sistema ofertou apenas 256.700 viagens para 7,4 milhões de usuários (média de 29 por viagem).
Além disso, houve a extinção velada da função de cobrador e o crescimento no uso de micro-ônibus. O sistema ainda enfrenta problemas recorrentes: alterações constantes nos quadros de horários, que geram imprevisibilidade, além de acidentes praticamente diários envolvendo coletivos. No campo trabalhista, as relações entre empresas e rodoviários seguem tensas, com paralisações e ameaças de greve a cada data-base.
Outro gargalo é a falta de transparência, que historicamente marca o setor. A responsabilidade não recai apenas sobre as empresas, mas também sobre o poder concedente, a quem cabe planejar e fiscalizar o serviço. A Prefeitura perdeu a oportunidade de estruturar um sistema mais eficiente quando licitou a operação em 2016.
O princípio constitucional da publicidade dos atos administrativos parece não alcançar o transporte coletivo em Juiz de Fora. Desde o sigilo imposto ao estudo elaborado pela UFJF a pedido da Prefeitura, passando pelo controverso processo de desmonte dos consórcios até a adoção da política de subsídios, o setor tem sido marcado pela opacidade. O controle social e a fiscalização são difíceis, quando não impossíveis.
Informações básicas seguem ausentes: qual o impacto econômico e social da retirada dos cobradores? Quantos rodoviários ainda trabalham no sistema? Qual a idade média da frota, limitada por lei a dez anos? E os micro-ônibus —quantos são, e quantos ônibus foram retirados para dar lugar a eles? Nem mesmo o número de passageiros transportados por hora na cidade é conhecido, informação importante para calcular a distribuição da frota ao longo do dia.
Ter a noção exata dos dados do setor é fundamental, uma vez que o poder público subsidia o transporte com base no que é apresentado. Apenas no ano passado, foi repassado às empresas R$ 151 milhões.