Conjuntura

Lula prega união de democratas contra autoritarismo em lançamento de pré-candidatura

Ilustração: Jorge Arbach

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a união dos democratas contra a ameaça do totalitarismo e negou ter sentimento de vingança em virtude dos 580 dias preso entre 2018 e 2019 durante o lançamento de sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, em evento com mais seis partidos, nesse sábado (7) em São Paulo.

Com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), como vice, Lula se coloca na disputa pela Presidência da República pela sexta vez, tendo vencido em 2002 e 2006. Diferentemente das outras ocasiões, nesse lançamento ele deixou o improviso e leu seu discurso em tom moderado, acatando apelo dos coordenadores da campanha.

Sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário, o petista se colocou como contrapondo e fez um apelo à mudança ao afirmar que atualmente se vive com constantes ataques à soberania, à democracia e às instituições. Também defendeu a Petrobras, relembrou as realizações dos governos do PT e insistiu na retomada do legado de criação de empregos e de combate à fome e a miséria.

“O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências”, disse o ex-presidente para, em seguida, pedir a unidade das forças políticas. “Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes (…) para enfrentar e vencer a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação, a exclusão que pesam sobre o nosso país.”

Para ele, é preciso que “o fascismo seja devolvido ao esgoto da história, de onde jamais deveria ter saído”. Nesse sentido, considerou o lançamento da pré-campanha como um chamado aos democratas que desejam reerguer o país e a quem quiser ajudar a organizar “a maior revolução pacífica” da história.

Num dos lampejos de improviso, Lula conclamou os apoiadores a não terem medo. “Ninguém pode ter medo de provocação. É proibido ter medo de provocação, de fake news via “zap”, Instagram. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, carinho, amor, paz e criando harmonia”.

Aproveitando o momento de alta da inflação, com aumento do desemprego e da miséria, e da disparada do preço dos combustíveis, Lula voltou a defender a soberania energética do país, que, segundo ele, vem sendo desmantelada atualmente.

“O resultado desse desmonte é que somos autossuficientes em petróleo, mas pagamos por uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem os seus salários em real”, afirmou. A saída, na sua avaliação, é voltar a mesclar “crescimento econômico com inclusão social.”

Em alusão às condenações que sofreu na Operação Lava Jato, hoje anuladas, e ao período na prisão, Lula tentou assegurar que, uma vez eleito, não governará olhando para o passado.”Não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança. Primeiro, porque não nasci para ter ódio, nem mesmo daqueles que me odeiam.  Mas também a tarefa de restaurar a democracia e reconstruir o Brasil exigirá de cada um de nós um compromisso de tempo integral. Não temos tempo a perder odiando quem quer que seja”.

Ao falar do meio ambiente e da defesa da Amazônia, o ex-presidente defendeu a mudança para um novo modelo de desenvolvimento sustentável, com distribuição de renda, mais investimentos em educação, saneamento e moradia e do reconhecimento da cultura como setor importante. “Precisamos de livros em vez de armas”, disse, numa clara referência às medidas de Bolsonaro em defesa do armamento da população e à perseguição a artistas, com a vilanização da Lei Rouanet.

Em seu discurso, Lula ainda se dirigiu aos povos indígenas, às mulheres, aos negros e à população LGBTQIA+, parcelas do eleitorado em que Bolsonaro tem seus maiores índices de rejeição. Em aceno a eleitores evangélicos, ele criticou a incapacidade do governante de “verter uma única lágrima diante de seres humanos revirando lixo em busca de comida, ou dos mais de 660 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid. Pode até se dizer cristão, mas não tem amor ao próximo”.

Com diagnóstico de Covid-19, Alckmin não compareceu pessoalmente e participou do evento por meio de vídeo ao vivo, em um telão. Em seu pronunciamento, justificou sua aliança com o ex-adversário e concorrente nas eleições de 2006, e ainda fez piada com seu apelido “picolé de chuchu”. “Presidente Lula, mesmo que muitos discordem da sua opinião de que lula é um prato que cai bem com chuchu – o que eu acredito vá ainda se tornar um hit da nossa culinária -, quero lhe dizer perante toda a sociedade brasileira: muito obrigado.”