Meio Ambiente

As vacinas irão protegê-lo contra as variantes da Covid-19? Apresentamos 9 perguntas com respostas que podem ajudar

Variantes contêm mutações que podem tornar a imunidade anterior menos eficaz. (Foto: Envato)

Até a noite do dia 30 de maio a pandemia da Covid-19 agora já havia atingindo 15.512.120 brasileiros. Nas últimas duas semanas, a tendência de estabilização da contaminação foi revertida, levando ao endurecimento do enfrentamento na maioria das regiões do país.

No último dia 20 de maio, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, informou que mais de um milhão de pessoas na América Latina e no Caribe morreram devido à COVID-19 e pediu ao mundo para intensificar os esforços e melhorar o acesso da região às vacinas.

“A região é um epicentro do sofrimento causado pela COVID-19. Também deve ser um epicentro para a vacinação”, enfatizou Etienne. O Brasil aplicou a primeira dose de vacinas da Covid-19 em 21,4% da população, com 67,8 milhões de doses usadas. Quarenta e cinco milhões de brasileiros receberam a primeira dose e 22,2 milhões tomaram a segunda.

O que complica a situação é o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19. Várias dessas variantes contêm mutações que podem tornar a imunidade anterior menos eficaz, permitir que o vírus se espalhe mais rapidamente e, em alguns casos, causar mais mortes. E, quanto mais a doença se espalha, mais variantes podem surgir.

O desafio que se coloca é o de vacinar a população para conter a disseminação do vírus. Enquanto não é possível fazer a vacinação chegar a todos os habitantes, medidas de saúde pública e vontade política para conter a doença também moldarão o restante da pandemia.

Levantamos questões com respostas que podem esclarecer algumas das preocupações.

1) O que é uma cepa?

Os vírus sofrem mutações o tempo todo, provocando erros ao multiplicar seu código genético para gerar novas cópias. A maioria desses erros é prejudicial ao próprio vírus ou não tem efeito. Mas, em casos raros, pode ocorrer uma mudança no código genético que confere uma vantagem para as suas cópias.

Uma cepa é uma variante que é construída de maneira diferente e, portanto, se comporta de maneira diferente em relação ao vírus original. A combinação de mutações nessas variantes pode até funcionar em conjunto, tornando-as mais perigosas do que as versões do vírus com mutações individuais.

Variantes do SARS-CoV-2 surgiram em vários pontos durante a pandemia, mas o que é preocupante sobre aquelas que estão se espalhando agora é a capacidade de alteração das proteínas da superfície do vírus. Com isso, a entrada nas células, onde elas se multiplicarão em novas cópias, é facilitada.

Variantes podem ser capazes de escapar do sistema imunológico em pessoas que já foram infectadas ou em pessoas que foram vacinadas. Portanto, elas podem aumentar as chances de um sobrevivente da Covid-19 ser infectado novamente ou aumentar a probabilidade de infecção em alguém que recebeu a vacina.

2) Por que novas variantes surgem a todo momento?

Existem vários fatores por trás do surgimento de tantas variantes do SARS-CoV-2 . Uma é simplesmente que o vírus está se espalhando para mais pessoas em mais países. Com mais infecções, há mais mutações, criando assim uma maior probabilidade de uma combinação rara dessas mudanças convergir de uma forma que representa uma ameaça.

A pressão de seleção também está desempenhando seu papel. À medida que mais pessoas ganham imunidade por meio de infecção ou vacinação, as variantes que podem escapar dessa imunidade permanecem e podem circular.

Em muitas partes do mundo é feita vigilância genética da Covid-19. Em vez de apenas detectar a presença do vírus, o trabalho envolve também o sequenciamento do genoma. Dessa forma, é possível revelar qual variante específica está em circulação em uma determinada área, bem como seu potencial de transmissão. Mas em muitas partes do mundo, a vigilância é inadequada ou inexistente, o que significa que outras variantes podem estar se espalhando sem serem detectadas.

3) Quais variantes do Covid-19 são as mais preocupantes?

Segundo a OMS, quatro variantes são consideradas “preocupantes”, ou seja, possuem maior potencial na redução da efetividade de terapias, diagnósticos e vacinas. Elas têm potencial para se tornarem mais contagiosas e/ou mais virulentas.

São os casos das detectadas primeiro na Inglaterra (circulando em 139 países), na África do Sul (circulando em 87 países) e no Japão (circulando em 54 países). A da Índia foi a última a ser integrada ao grupo (circulando em 49 países e 4 territórios).

Em uma segunda categoria de “variantes de interesse”, potencialmente problemáticas, aparecem seis variantes. Foram detectadas inicialmente, entre outros países, nos Estados Unidos, no Brasil e na França.

Mas circulam no mundo muitas outras variantes, que a comunidade científica tenta localizar e avaliar para eventualmente incluir em uma das duas primeiras categorias.

4) O que torna as variantes do Covid-19 perigosas?

Essas variantes contêm mutações na proteína spike do SARS-CoV-2, que são responsáveis por cobrir a superfície do microrganismo, servindo como ferramenta para entrar em células humanas. As mutações nessa região parecem aumentar a permeabilidade das células para os vírus, permitindo sua maior reprodução.

É preciso ressaltar, no entanto, que os cientistas ainda estão trabalhando para confirmar exatamente como essas variantes funcionam e como essas mutações podem estar funcionando em conjunto.

5) Por que a variante da Índia assusta tanto?

A variante do SARS-CoV-2 conhecida como B.1.617 foi identificada pela primeira vez na Índia em outubro de 2020 e desde então foi encontrada em pelo menos 49 países, incluindo o Brasil. Essa variante foi descrita como um “mutante duplo”, embora não contenha apenas duas mutações diferentes. Ao que parece foi detectada nela mutações aparentemente associadas ao escape da resposta imune (o que poderia prejudicar a eficácia das vacinas e também mais casos de reinfecção) e uma outra que aumenta a ligação do vírus com as células (aumenta a transmissibilidade).

6) Quais aspectos justificam a presença de variantes de forma recorrente no Brasil e na Índia?

A situação do B.1.617 na Índia ecoa o surto da variante P.1 no Brasil . Em janeiro, essa variante se espalhou rapidamente em Manaus, que já havia enfrentado um grande surto de Covid-19 em outubro de 2020. No caso brasileiro, ainda não há um estudo conclusivo sobre sua causa, mas não se descarta a presença de variante mais transmissível.

Para a comunidade científica, tanto o Brasil quanto a Índia cometeram erros críticos em suas respostas de saúde pública no enfrentamento à Covid-19. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro reiterada vezes rejeitou a gravidade da pandemia e, quando considerava a questão, recomendava tratamento sem comprovação científica.

Na Índia, o partido político do primeiro-ministro indiano Narendra Modi declarou que o país havia “derrotado” a Covid-19 em fevereiro. As restrições às reuniões públicas foram suspensas, grandes festivais religiosos ocorreram e os comícios políticos continuaram.

Países com taxas de vacinação baixas e respostas de saúde pública inadequadas podem experimentar aumentos significativos de casos nos próximos meses.

7) As vacinas ainda o protegerão contra as variantes?

As vacinas contra a covid-19 desenvolvidas pela Pfizer,  AstraZeneca  e Moderna são altamente efetivas contra a variante indiana do coronavírus, segundo um estudo divulgado pela agência de saúde pública do Reino Unido, Public Health England (PHE).

Em comunicado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que as vacinas atualmente aprovadas pela entidade são, até o momento, eficazes contra “todas as variantes do coronavírus”. Imunizantes como a chinesa Coronavac e a russa Sputnik, no entanto, ainda não receberam aprovação emergencial da OMS.

8) Precisaremos de novas vacinas ou reforços para nos proteger contra as variantes?

Isso pode acontecer à medida que mais variantes surjam ou se verifique queda de imunidade à Covid-19 mais rapidamente do que a taxa do vírus em circulação. A abordagem também pode ser diferente dependendo se alguém recebeu uma vacina ou ganhou imunidade de uma infecção anterior.

“Evidências recentes sugerem que, pelo menos para pessoas que já haviam sido infectadas naturalmente, a vacinação confere um alto nível de anticorpos neutralizantes que podem neutralizar até mesmo as variantes preocupantes”, explica avirologista Theodora Hatziioannou, da Universidade Rockefeller (EUA). “Isso para mim sugere que a exposição repetida ao antígeno pode ser potencialmente vantajosa e eu seria a favor de doses de reforço”.

9) As variantes impedirão nossas tentativas de voltar ao normal?

A vacinação continua sendo a forma mais poderosa de enfrentamento da Covid-19, mas deve ser parte de um conjunto de medidas de saúde pública. Enquanto a grande maioria das pessoas não esteja imune, o uso de máscaras faciais, ventilação adequada e distanciamento social também serão necessários. A vigilância genética também é necessária para ficar à frente das variantes.

A disseminação contínua e sem controle do Covid-19 em muitas partes do mundo continua sendo o maior problema. O contínuo aumento das infecções, com consequente geração de novas variantes, ameaça os avanços contra a doença.

A má notícia é que o ritmo atual de vacinação no mundo é assustadoramente baixo. As estimativas indicam que alguns países demorarão até 2023 para vacinar suas populações. Se a pandemia se arrastar por tanto tempo, o mundo inteiro continuará em risco. É por isso que acabar com a crise requer uma atuação global, com esforço das nações ricas para vacinar os mais vulneráveis.