As vacinas Pfizer/BioNTech e Astrazeneca para prevenir a Covid-19 são menos eficazes após algum tempo contra infecções causadas pela variante delta. Embora continuem oferecendo proteção, a eficácia na prevenção dos novos casos é menor do que contra infecções causadas pela versão original do vírus.
As conclusões são de um estudo feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicada nessa quinta-feira (19), que apontou ainda elevada carga viral nos pacientes infectados pela delta, mesmo após imunizados, em relação àqueles que contraíram o vírus por outras cepas.
Mais transmissível, a variante detectada inicialmente na Índia já se espalhou por mais de 100 países e tem preocupado autoridades, levando à contenção dos planos de reabertura econômica pelo mundo. No Brasil, as autoridades de saúde indicam o Rio de Janeiro como maior foco da variante. Até agora Juiz de Fora registrou apenas um caso de paciente que esteve no exterior.
De acordo com o estudo, a vacina da Pfizer teve eficácia de 92% em impedir o desenvolvimento de uma alta carga viral nas amostras de teste feitos 14 dias após a segunda dose. Mas a eficácia caiu para 90%, 85% e 78% após 30, 60 e 90 dias, respectivamente.
No caso da vacina desenvolvida pela farmacêutica Astrazeneca, a eficácia foi 69% contra uma carga viral elevada 14 dias após a segunda dose, caindo, de forma menos abrupta, para 61% em 90 dias.
A queda na eficácia não deve ser motivo de alarme, explica Sarah Walker, pesquisadora da Universidade de Oxford que esteve à frente do estudo. “Para ambas as vacinas, duas doses ainda estão indo muito bem contra a delta.”
Os dados também sugerem que o tempo entre a aplicação das duas doses não afeta a eficácia da vacina. Comprovou-se ainda que as pessoas que testaram positivo para Covid-19 e receberam duas doses da vacina têm melhor proteção contra infecções futuras.
Tanto a Pfizer quanto a Astrazeneca também oferecem mais proteção às pessoas mais jovens, de acordo com o estudo. No caso da Pfizer, a eficácia caía de 90% para aqueles entre 18 e 35 anos, para uma taxa de 77% entre quem tinha de 35 a 64 anos. Já com a Astrazeneca, as taxas variaram de 73% a 54% em ambas as faixas etárias, respectivamente.
O professor de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Aripuanã Sakurada, explica que, embora haja uma queda na proteção, as vacinas são eficazes principalmente para evitar internações e óbitos.
“Os estudos têm mostrado que a maior parte das vacinas mantém eficácia significativa em relação às novas variantes, apesar de alguma pequena queda, principalmente na prevenção da doença grave e óbito. As vacinas ainda protegem, num nível seguro.”
Especificamente em relação à variante delta, o professor diz que a transmissibilidade por ser maior duas ou três vezes em relação ao vírus original. Mas ainda faltam dados para avaliar de forma segura se é mais patogênica também.
Aripuanã chama atenção para os dados que indicam uma circulação menos intensa da delta no Brasil. Segundo ele, isso pode ser uma boa notícia, mas é preciso cautela. “No Brasil não se faz muito sequenciamento (método utilizado para diagnosticar variantes), então não podemos ter um panorama real da circulação de variantes por aqui.”