Conjuntura

Dom Walmor: “Não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário”

Dom Walmor cita o Papa Francisco para falar do compromisso dos cristãos com a paz (Foto: Arquidiocese BH)

 O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, criticou a defesa pelo armamento da população, pediu urgência em políticas públicas em defesa dos indígenas e dos pobres e suplicou aos brasileiros para que defendam as instituições e a democracia. A mensagem foi divulgada nessa sexta-feira (3) em virtude da proximidade do Dia da Pátria, 7 de setembro.

 Dom Walmor, que foi pároco em Juiz de Fora, além de professor e formador no Seminário Santo Antônio, disse que a população deve se manifestar e protestar por direitos, mas nunca com ataques às instituições e sempre com respeito e amor ao próximo. “A participação cidadã na política, reivindicando direitos, com liberdade, está diretamente relacionada com o fortalecimento das instituições que sustentam a democracia. Por isso, não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário.”

 A existência de três poderes, segundo o presidente da CNBB, impede totalitarismos, fortalecendo a liberdade de cada pessoa. “Independentemente de suas convicções político partidárias, não aceite agressões às instituições que sustentam a democracia”. O arcebispo considerou não ser possível aceitar, independentemente das convicções político-partidárias de cada um, agressões aos pilares que sustentam a democracia. Agredir, eliminar, hostilizar, ignorar ou excluir, segundo ele, são verbos que não combinam com um sistema democrático.

Para dom Walmor, o país está sendo contaminado pela raiva e pela intolerância, sendo que, em nome de ideologias, muitos se dedicam a ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população. “Quem se diz cristão ou cristã deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com armas. Somos todos irmãos. Esta verdade é sublinhada pelo Papa Francisco na carta encíclica Fratelli Tutti.”

Os ensinamentos da Fratelli Tutti devem também inspirar cuidados com os que sofrem. “A fome é realidade de quase 20 milhões de brasileiros. Aquele pai que não tem alimento a oferecer para o próprio filho é seu irmão. Nosso irmão. Do mesmo modo, a criança e a mulher feridas pela miséria são suas irmãs, nossos irmãos e irmãs.”

De acordo com o presidente da CNBB, os católicos e cristãos não podem ficar indiferentes à realidade que mistura desemprego e alta inflação, num contexto agravado pela pandemia, situação que acentua as exclusões sociais. A saída, de acordo com o arcebispo, está na urgência em implementar políticas públicas para a retomada da economia e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho.

O presidente da CNBB pediu que os olhares se voltem para os povos que estão mais sofrendo, como os indígenas, povos originários. “Nossa pátria não começa com a colonização europeia. Nossas raízes estão nas matas e florestas, num sinal claro nos ensinando que a nossa relação com planeta deve ser pautada pela harmonia. Os povos indígenas, historicamente perseguidos e dizimados, enfrentam graves ameaças do poder econômico extrativista  e ganancioso que tudo faz para exaurir nossos recursos naturais.”

O presidente da CNBB dedicou uma parte da mensagem ao que chamou de cuidado com a casa comum, o meio ambiente. Ele reforçou o alerta dos cientistas brasileiros sobre a gradativa queda nos mananciais de água potável no Brasil. “A exploração desmedida e irracional do solo, com a derrubada de florestas, está levando à escassez de água em nossas torneiras. Não podemos deixar que o Brasil, reconhecido internacionalmente por ser rico em recursos naturais, seja devastado e se torne uma terra arrasada.”

Especificamente sobre o próximo 7 de setembro, dom Walmor fez um pedido aos brasileiros: “respeite a vida e a de seu semelhante. A intolerância nos distancia da justiça e da paz e afasta-nos de Deus. Somos todos irmãos. No Dia da Pátria, 7 de setembro, rezemos para que o Brasil encontre um caminho para superar as suas crises. Rezemos também pelas vítimas da Covid-19.”