A Pfizer e a BioNTehch anunciaram nesta segunda-feira (20) que sua vacina contra a Covid-19 apresentou resposta imune robusta em crianças entre 5 a 11 anos. Os dados são preliminares e ainda precisam passar por avaliação de outros cientistas para serem publicados em revista científica. Os testes foram feitos com 2,2 mil crianças nos Estados Unidos, Finlândia, Polônia e Espanha, com doses menores que a aplicada em pessoas com 12 anos ou mais.
Até hoje, a vacina da Pfizer pode ser aplicada em pessoas a partir dos 12 anos no Brasil, como em outros países. A taxa de imunigenicidade e os efeitos adversos em crianças da faixa etária estudada foram comparáveis aos testes clínicos feitos com pessoas entre 16 a 25 anos. No entanto, não foi divulgada a taxa de eficácia da vacina no grupo etário entre 5 a 11 anos.
O próximo passo agora, conforme as empresas, será a entrada do pedido para uso emergencial da vacina em crianças com essas idades. Ainda neste ano, a Pfizer e a BioNTehch pretendem divulgar os resultados dos testes feitos em crianças entre seis meses e 4 anos de idade.
O médico infectologista e chefe do Setor de Gestão da Qualidade do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, explica que o anúncio feito hoje pelas empresas é apenas “o primeiro sinal de eficácia e segurança”.
Segundo ele, é preciso aguardar a publicação dos dados e a aprovação por agências reguladoras, especialmente a agência de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês). “Caso haja aprovação haverá uma ampliação do público-alvo e um incremento na população protegida, contribuindo para a imunidade de rebanho.”
O infectologista esclarece ainda que, embora as crianças, em geral, não apresentem formas graves, “algumas que tiveram infecções leves ou assintomáticas desenvolveram uma síndrome rara e potencialmente grave, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica”. Por isso, a importância da vacina para essa faixa etária.
Questionado quanto à informação de que a taxa de incidência da Covid-19 em crianças seria menor, Rodrigo Daniel revela que os dados permanecem desconhecidos “devido à ausência de testagem em massa e a priorização de testagem de adultos com formas mais graves da doença”.
Quanto à possibilidade de maior transmissibilidade das crianças, por apresentarem alta carga viral, o infectologista explica que “a carga viral determinada por RT-PCR (exame que identifica o vírus e confirma a Covid-19) é apenas uma das muitas variáveis que potencialmente influencia a infecciosidade”.
No caso da PCR, segundo ele, há precisão quanto ao material genético do vírus presente na amostra, mas não se eles vêm de vírions infecciosos, partículas virais defeituosas ou células infectadas lisadas. “A infectividade nas populações é afetada por muitos outros fatores clínicos, comportamentais e ambientais. O consenso hoje é que crianças, mesmo com cargas virais elevadas não se comportam como boas transmissoras”.