Colocar estrela na roupa é mal sinal. Olha o Capitão América! Tem estrela no peito e no escudo, acabou numa fria. Enquanto era útil, jogaram o cara nos shows do exército pra entreter soldado bucha de canhão na Segunda Guerra. Depois congelaram o infeliz pra virar um Mel Gibson eternamente jovem na franquia de sucesso e combater os nazistas de hoje.
É, os nazistas de hoje, que às vezes têm nomes diferentes e não usam a suástica pra vestirem (se preparem, notícia bombástica!) estrelas.
O comunismo? O PT? Não, comunistas e petistas não são nazistas. Nazistas são de extrema direita e quando palavras como “socialismo” do partido da Alemanha são assimiladas ao trabalhismo em algum lugar do mundo falta ao falador um pouco de leitura. Bibliografia básica: dicionário. Melhor ainda se for dicionário de Política ou de Sociologia. Quem quiser indicação, pede pro Fernando Perlatto, colunista aqui de O Pharol.
Sabe onde tem muita estrela? Na calçada da fama, em Hollywood. Ali tem estrela que denunciou comunista na caça às bruxas, tem estrela que aceitou dinheiro de governo com pacto internacional que recebeu benefício de nazista, tem estrela que é estrela simplesmente porque brilhava nas telas. Um dia voltaremos a elas, falando de cinema.
Sem mais contornos, vamos ao ponto: a extrema direita brasileira se vestiu de um céu de estrelas não se contentando com uma só. Assumiu a bandeira do Brasil como manto, vestiu a camisa da CBF como uniforme e saiu por aí negando golpes e corrupção. Sugestão de pesquisa: golpe e corrupção. Fonte: dicionário. Agora serve qualquer um. Se não entender o que ler lá, procure um livro de História.
A bandeira do Brasil traz uma ironia enorme. Um monte, mas vamos deixar de lado o que antecede a última década (tem na bibliografia recomendada) pra falarmos dela a partir de 2013. Naquelas marchas pra reclamar dos vinte centavos que não eram apenas vinte centavos, vieram com essa balela de “movimento sem bandeiras”. Vieram não, vamos cortar o plural: a direita, incapaz de ocupar as ruas por mérito próprio, resolveu se apropriar da indignação dos outros (deve ser o que entendem por meritocracia).
Movimentos com histórias de luta, de partidos a sindicatos, uniões estudantis e organizações de diversas instâncias foram anulados nessas marchas. Era abraçar a bandeira do Brasil, cantar o Hino Nacional sentado no chão e falar que tava acordando o gigante, hoje em coma, com Covid e à espera da vacina da rachadinha. Isso aí: o movimento sem bandeira fodeu com a bandeira do Brasil. Pelo menos os idiotas perderam o medo de se autodeclararem idiotas. Devia ter assim pra marcar na inscrição do vestibular: sexo, raça, bandeira na sacada de casa (pra não ter que escrever idiota, eles não devem conhecer etimologia: vide dicionário, se não achar num comum, num de grego).
E a besta insiste em usar a bandeira de um país acelerando ladeira abaixo pra defender a besta que pisa no acelerador, numa equipe que programou o motor pra girar mais rápido do que o regulamento autoriza. Equipe = todo mundo que senta pra jantar com esse povo do acelerador, incluindo o que escreveu a carta, golpista de sucesso (em Hollywood também, Bram Stocker que promoveu).
Se nossa bandeira nunca será vermelha, fica difícil de acreditar. Por um lado, porque os que entendem do positivismo da Ordem e do Progresso sabem que falta o Amor nessa faixa, que poderia ter as palavras grafadas num rubro bem interessante. Por outro, porque o nazismo e o fascismo tinham no vermelho o destaque de suas bandeiras. Na Itália, inclusive, com a palavra liberdade, tão ovacionada pelos patriotas verdeamarelistas no dia 7 de setembro.
Dia 12 de setembro, o MBL, o mesmo que ajudou a propagar as marchas sem bandeira em busca de um país melhor, promoveu mais um movimento com palavras de ordem vazias (democracia é outro conceito que merece consulta, pra entenderem que no Brasil ele sempre foi frágil) e sem bandeiras. Oito anos depois, tem idiota que continua sendo idiota. Mais ainda, porque aviso não faltou. E desde 2013 tem muita estrela nessa marca, falando de mídia nesse caso.
Quem leu o título e achou que fosse encontrar um texto sobre câncer, acertou. Nosso câncer se chama analfabetismo político, que pode ser bombardeado com uma intensa quimioterapia de notícias verdadeiras e com consciência social de fazer cair o cabelo. Também, com paciência, submeter o país à imunoterapia de uma educação de qualidade, intermitente, pensada pra toda a nação (e viva Paulo Freire!).
Estamos longe de ver nascer uma estrela (Barbra Streisand que me perdoe) pra podermos marchar em busca de um Brasil melhor juntos e shalow now.