Conjuntura

Jean Wyllys, Freixo e Dandara: o que acontece com o PSOL?

Jean Wyllys, Freixo e Dandara desempenharão novos papéis nas eleições de 2022 (Fotos: Câmara Federal/Agencia Brasil/Reprodução YouTube)

Primeiro foi Jean Wyllys. O ex-deputado pelo PSOL anunciou em maio deste ano sua saída do partido para se filiar ao PT. Um mês depois foi vez do deputado federal Marcelo Freixo, talvez o mais expressivo dos psolistas fluminenses, migrar para o PSB. E agora, em Juiz de Fora, a suplente de vereadora do PSOL, Dandara Felícia, anunciou sua filiação ao PT.

A saída de quadros ligados historicamente às pautas mais caras da esquerda chama a atenção para o que acontece com o PSOL. Embora as movimentações dos três nomes em questão tenham apelos particulares, é possível vislumbrar um ponto de convergência: as eleições de 2022.

Ao desembarcar do PSOL, Jean Wyllys deixou claro que não seria candidato, mas atuaria para derrotar o presidente Jair Bolsonaro. Primeiro parlamentar abertamente LGBTQIA+ e ativista da pauta, ele mudou de país e renunciou ao mandato em 2019 após ser alvo de ameaças de morte.

Sua avaliação ao migrar para o PT foi de que o ex-presidente Lula seria o único capaz de vencer Bolsonaro. “Decidi me filiar ao partido para fortalecer ainda mais sua candidatura. Agora é hora formar uma frente democrática, e não fragmentá-la.’’

Mesmo tomando caminho diferente, filiando-se ao PSB, Marcelo Freixo se valeu de argumento parecido. “É urgente a ampliação do diálogo e a construção de uma aliança com todas as forças políticas dispostas a somar esforços na luta contra o bolsonarismo.”

Colocando-se como candidato ao Governo do Rio de Janeiro, o deputado tem feito inflexões ao centro, o que dificilmente era concebível no PSOL. Ainda assim, ele mantém acenos à antiga legenda. “O nosso dever histórico é derrotar Bolsonaro nas urnas e o bolsonarismo enquanto projeto de sociedade. E sei que o PSOL e eu estaremos do mesmo lado para cumprir essa tarefa.”

A crítica mais contundente ao PSOL no momento da saída veio com Dandara Felícia em Juiz de Fora. Em um comunicado feito em suas redes sociais, ela diz que sua decisão foi justificada “por discordar da política e do fechamento do espaço para as discussões das minorias, principalmente, quanto ao debate racial e de pessoas LGBTQIA+, que está posto na condução da direção do PSOL-JF”.

No mesmo texto, ela anuncia sua filiação ao PT por meio de uma das tendências do partido. “Encaminhar (minha) filiação à Democracia Socialista do PT, espaço que se abriu ao debate e propôs possibilidades para melhor trabalharmos as políticas supracitadas”. Respondendo a um dos comentários em uma de suas redes sociais, Dandara não descartou disputar uma vaga na Assembleia de Minas.

Também por meio de nota, a coordenação do PSOL de Juiz de Fora tratou a saída de Dandara Felícia como uma perda. Mas considerou relevante a possibilidade de as pautas historicamente abraçadas pelo partido serem incorporadas por outras legendas de esquerda, “em especial o partido que tem a segunda maior bancada da Câmara federal, o PT, que dirige a maior central sindical classista do país, a CUT, importantes sindicatos de categorias majoritariamente femininas como professores”.

Os dirigentes do PSOL lembraram ainda serem sensíveis e urgentes as pautas relacionadas às opressões “para o conjunto da classe trabalhadora, posto que vivemos em um dos países que mais mata LGBTQIA+, mulheres e jovens negros e periféricos”. Na nota, os psolistas consideraram como fundamental “a ampliação deste debate e sua transformação em pauta e programa político dos demais partidos de esquerda”.

Encruzilhada eleitoral interfere nos partidos

A movimentação interna no PSOL não é muito diferente daquilo que acontece em outros partidos. Se Marcelo Freixo, Jean Wyllys e Dandara Felícia saíram, outras lideranças da legenda têm se fortalecido nas últimas eleições. Guilherme Boulos, em São Paulo, Fernanda Melchionna, no Rio Grande do Sul, Professor Tarcísio, no Rio de Janeiro, Áurea Carolina e Andréia de Jesus, em Minas, e Tallia Sobral, em Juiz de Fora.

Os partidos são desafiados quando se aproximam da encruzilhada eleitoral. A definição é do cientista político da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Diogo Tourino, para quem o PSOL pode estar sendo impactado pelas decisões próprias dos processos pré-eleitorais. “Chegou o momento de enfrentar algumas realidades que, fora da disputa eleitoral, os partidos não estão dispostos a fazer”. 

O cientista político explica que o PSOL, como outros partidos, “não é desprovido de disputas internas, algumas delas até muito sérias”. Muitas dessas pelejas envolvem decisões colocadas para o partido nas encruzilhadas eleitorais.

“As eleições ‘sujam’ o partido. Isso porque há algumas realidades que precisam ser enfrentadas em disputas eleitorais que não se restringem apenas ao discurso, mas que é preciso ‘colocar a mão’. Não estou falando de corrupção, mas de escolhas, coligações, alianças.”

O problema, segundo Tourino, é que os desdobramentos desse processo acabam se acumulando ao longo das disputas eleitorais. “Essas encruzilhadas acabam custando quadros do partido. Isso é inevitável”. Essa movimentação, embora comum, muitas vezes não fica muito visível em partidos acostumados com as disputas eleitorais.

Os limites impostos pelo partido para passar pela encruzilhada acabam sendo determinantes para saída de alguns atores, avalia Raul Magalhães, professor de política da Universidade Federal de Juiz de Fora. Embora esclareça ser preciso avaliar mais cuidadosamente cada caso, ele pontua que Freixo buscou a possibilidade de alianças no PSB, enquanto Jean Wyllys e Dandara viram no PT maior amplitude para seus projetos.

“Essas pessoas podem estar buscando espaço em novas legendas para exercer seus trabalhos em outro espectro. Mas chama atenção o fato de serem pessoas muito marcadas no campo da esquerda. Perder esses quadros para partidos não tão à esquerda assim é algo a ser avaliado.”