Polytheama

O samba do mais juiz-forano dos cariocas

Carlos Fernando conheceu Juiz de Fora a partir das rodas de samba da cidade (Foto: Igor Tibiriçá)

Conhecer uma cidade. Conhecer como aquela cidade se alimenta artisticamente, culturalmente. Conhecer o samba local. Conhecer. Conhecer é perceber e incorporar à memória, ficar sabendo ou tomar, ter consciência de algo. Conhecer foi justamente o verbo que fez com que o sambista, músico, pesquisador e professor Carlos Fernando Cunha se apaixonasse por Juiz de Fora. Pois foi em busca de conhecer as rodas de samba juiz-foranas que o carioca nascido no bairro de Jacarepaguá se desfez de sua impressão de que todas as cidades mineiras são pacatas.

Há cerca de 20 anos, Carlos Fernando veio para Juiz de Fora para ser professor titular da UFJF, na Faculdade de Educação Física. Veio para ficar. Sempre ligado ao mundo do samba, é ritmista da Vila Isabel, uma das mais importantes escolas de samba do Rio, há pelo menos 30 anos. E, ao chegar em Juiz de Fora, descobriu por aqui, como ele mesmo diz, “um mundo tão quente quanto aquele do samba do Rio de Janeiro”. Foi conhecendo as rodas de samba da cidade que Carlos Fernando se aproximou de nomes como Mamão, Flavinho da Juventude e Sandra Portella, verdadeiros ícones da música juiz-forana.

Participação em eventos presenciais

Lentamente, a Prefeitura começa a liberar as atividades artístico-culturais em formato presencial. Após quase dois anos sem eventos desta categoria, a Praça Armando Toschi Ministrinho vai receber, segundo Carlos Fernando, uma roda de samba no próximo domingo, dia 07 de outubro, a partir das 13h (em ponto!). “A gente vai retomar o projeto do Ponto do Samba, que acontecia na praça, no Jardim Glória, onde tem o Bar do Léo, o Biroska. Vai se chamar Ponto do Samba, a Roda dos Encontros. Se São Pedro ajudar”, conta Carlos Fernando, completando que, nesse projeto, eles só tocam sambas produzidos por artistas juiz-foranos com o objetivo de difundir a obra local.

Carlos ainda vai participar do seminário “O Carnaval e a Cidade”, que a Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), promove entre os dias 09 e 12 de novembro, no Teatro Paschoal Carlos Magno. O evento integra a programação do Mês da Consciência Negra e é um dos primeiros a serem realizados pela Prefeitura em formato presencial. Estarão reunidos órgãos diretamente envolvidos na organização das atividades carnavalescas da cidade, como a Liga Independente das Escolas de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf) e a Associação de Entidades Carnavalescas de Juiz de Fora e Região (Aesbloc).

Dentro da programação do seminário, estão incluídas discussões sobre perspectivas sanitárias, segurança pública, memória, participação popular e direito à cidade. E entre os convidados para os debates e mesas, está Carlos Fernando Cunha, que é um dos responsáveis pela criação do projeto Ponto do Samba e também doutor em Educação pela UFMG, pós-doutor em Educação pela UERJ e formado em Canto Popular na Bituca: Universidade da Música Popular. A palestra de Carlos, intitulada “Juiz de Fora: conheço você de outros carnavais” acontece na quarta-feira, dia 10, às 14h. “Eu adorei o título da mesa. Eu passei a conhecer Juiz de Fora de outros carnavais, me aprofundei nessa história maravilhoso que Juiz de Fora tem com o carnaval, com o samba e com as escolas de samba”, ressalta, lembrando que a primeira vez que veio à cidade foi para fazer a prova do concurso da UFJF.

Lançamentos realizados e à vista

Em outubro, Carlos Fernando lançou nas principais plataformas de streaming o single “Lua Formosa”, composto a oito mãos com os músicos Roger Resende, Luizinho Lopes e Cacáudio. A música foi gravada no início do ano nos estúdios Carbon, no Rio de Janeiro, e Sensorial Centro de Cultura, sob a produção de Alexandre Elias. Este é o primeiro trabalho que reuniu o grupo de amigos, composto por grandes nomes do cenário musical da cidade. Carlos Fernando conta que a canção foi composta em sua casa, durante a comemoração de aniversário de sua esposa, Andréa Mello, com inspiração, obviamente, na lua. “Essa foi a primeira música dos quatro juntos. Tinha uma lua maravilhosa naquela madrugada. Não me lembro quem estava com o violão na mão. Sei que ele foi passando de mão em mão. Meses depois, achei o áudio que gravamos daquele momento, daquela confusão de composição, com barulhos de pratos, garrafas, copos”, conta.

Carlos Fernando diz que, durante a pandemia, no período em que ficou quarentemado com a esposa e o filho, Arthur, conseguiu compor como uma “válvula de escape”. Acostumado a compor sozinho, trabalhou bastante musicalmente. Lançou o single “Maré Cheia”, com a cantora Ana Costa; lançou ainda o EP “Vem pro Samba”, com seis músicas inéditas, e está terminando o documentário “Vai manter a tradição”, ambos os projetos feitos com e para homenagear Mamão; e, para finalizar o ano, em dezembro, com recursos da Lei Murilo Mendes, ainda vai colocar na roda o disco “Bons Navegantes”, realizado em parceria com Cacáudio.

Carlos Fernando Cunha revela que o documentário “Vai manter a tradição” e o EP “Vem pro Samba” nasceram justamente por conta da música “Tristeza e pé no chão”, gravada e eternizada por Clara Nunes no ano de 1981. “Todo mundo, quando fala do Mamão, fala desta canção. Mas ele tem uma obra para além de ‘Tristeza e Pé no Chão’, que eu sempre fiquei incomodado de não ter a reverberação que ela merece. Discuti com Mamão e fiz ele me confessar as dez músicas – que viraram onze – que ele mais gosta e que foram gravadas”, comenta Carlos. O documentário então irá contar com as histórias de produção dessas canções, narradas por Mamão, e com a interpretação de Carlos Fernando e a participação de Roger Resende, no violão e no cavaquinho, de Julinho Sete Cordas, no violão de sete cordas, e e Maíra Delgado, no pandeiro. E a previsão de lançamento não tem data mais adequada: o carnaval.

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