Diversidade

Pesquisador de textos inéditos de Luís Gama fala sobre obras e legado do abolicionista

Para celebrar a resistência do povo negro, o Coletivo Pretxs em Movimento realiza neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o evento “Da Serrinha para o Mundo”, no bairro Dom Bosco. Com participação reduzida de pessoas devido à pandemia da Covid-19, a roda acontece em formato híbrido, com transmissão on-line pelo Youtube e contará com roda de samba, live e feijoada.

A conversa terá como tema o legado de Luís Gama, figura-chave no movimento abolicionista brasileiro. Para debater sua vida a obra, o convidado será Bruno Lima, pesquisador-visitante do Max-Planck-Institut für europäische Rechtsgeschichte, em Frankfurt, na Alemanha, e autor dos dez volumes das Obras Completas de Luís Gama.

O trabalho de Lima é resultado de nove anos de pesquisas nos quais buscou arquivos de jornais e de órgãos do Poder Judiciário brasileiro. Ao todo, reuniu cerca de 800 textos de Gama, dos quais 600 são inéditos. Na edição da Editora Hedra, com mais de cinco mil páginas, os volumes são divididos pelas temáticas Poesia, Profecia, Comédia, Democracia, Direito, Sátira, Crime, Liberdade, Justiça e África-Brasil.

“Ressaltamos a importância de celebrar a memória das pessoas e dos grupos que enfrentaram e enfrentam até os dias de hoje o preconceito e a discriminação e se engajam na defesa das vivências e dos valores da cultura negra”, declara Mateus Fernandes, professor de história, membro do Coletivo e mediador da conversa com Bruno Lima.

Segundo Paula Rocha, assistente social e membra do Coletivo Pretxs em Movimento, “saudar a comunidade e dar às moradoras e moradores do Dom Bosco o protagonismo e representatividade, tanto na comunidade, como na cidade de Juiz de Fora, é oportunidade de nos organizar coletivamente para enfrentarmos os muitos ataques que sofremos ainda nos dias atuais e celebrar nossa re-‘existência’.”

Vendido pelo próprio pai

Nascido em Salvador, Luís Gama era filho de uma escrava liberta, Luiza Mahin, com um descendente de portugueses. Quando tinha 10 anos, seu próprio pai o vendeu como escravo. Mandado para São Paulo, conseguiu a alforria aos 17 anos, ainda analfabeto. Sem nunca ter tido educação formal, tornou-se um estudioso das letras frequentando a biblioteca da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Jornalista e figura-chave do movimento abolicionista, ele só foi reconhecido como advogado 133 anos após sua morte.