A vida dos outros

O Natal mais triste da história de Juiz de Fora

O Paraibuna alcançou a esquina da avenida Getúlio Vargas com rua Batista de Oliveira (Foto: Leonardo Costa sobre reprodução do acervo Maria do Resguardo)

A chuva dos últimos dias havia dado uma pequena trégua. Dado o adiantado da hora, a redação do Diário Mercantil estava quase vazia. Ouvia-se apenas o estalar da máquina de escrever de Geraldo Lage. Ao perceber a curta estiagem, o experiente jornalista aproveitou para descer até a rua e fumar um cigarro.

Não havia mais ninguém na parte baixa da Rua Marechal Deodoro. Embora não estivesse chovendo naquela hora, as vias permaneciam molhadas. Geraldo Lage pitou sem pressa. Desfez-se da guimba e ficou observando ela sendo levada pela enxurrada. Foi quando percebeu que, ao invés de descer em direção à avenida Francisco Bernardino, as águas estavam subindo em direção à Getúlio Vargas.

Quando o jornalista do Diário Mercantil percebeu que os bueiros da região central de Juiz de Fora estavam jorrando água no sentido inverso eram 23h30 do dia 23 de dezembro de 1940. Nesse mesmo dia, no final da tarde, os delegados de polícia, Alves Valadão e Pedro Mendes, foram avisados sobre uma forte chuva em Santos Dumont e Ewbank da Câmara.

O risco de inundação do Rio Paraibuna era iminente. As forças policiais iniciaram a imediata retirada das pessoas das precárias habitações nas imediações do curso do rio. O então vereador Antônio Ribeiro de Sá relataria mais tarde que, naquele dia, desde as 17h, as águas do Paraibuna começaram a subir cinco centímetros a cada meia hora.

Ainda assim, como a memória de uma grande cheia do Paraibuna reportava à já distante inundação de 1906, muitos desacreditaram o apelo de remoção imediata feito pelos delegados de polícia. Inicialmente, apenas os chamados ribeirinhos foram mobilizados, mesmo assim, conforme os jornais, sob forte coação policial.

Duas horas da madrugada do dia 24 de dezembro. Somente nesse horário, moradores da parte baixa das ruas Marechal Deodoro, Fonseca Hermes e Floriano Peixoto, de toda a avenida Francisco Bernardino e da rua Batista de Oliveira começaram a deixar suas casas, como relataram os repórteres do jornal carioca A Noite.

No bairro Vitorino Braga, Waldecyr Apparecido Martins, então com três anos, e sua família resolveram deixar a casa na rua Heitor Guimarães. “Passamos o Natal na casa da minha tia.” O mesmo movimento foi feito pelas famílias do bairro Costa Carvalho. E assim, ao longo de toda a madrugada, os imóveis próximos ao curso do rio e nas suas imediações foram sendo esvaziados.  

A manhã trágica do dia 24 de dezembro de 1940

Quando veio o alvorecer do dia 24 de dezembro, os juiz-foranos foram surpreendidos com toda área central alagada, além dos bairros Mariano Procópio, Manoel Honório e Poço Rico. As águas do Paraibuna haviam tomado as avenidas Getúlio Vargas, Rio Branco e Francisco Bernardino, cobriram o Largo do Riachuelo e atingiram as praças Dr. João Penido (Estação) e Antônio Carlos.

Na Praça Dr. João Penido, o pequeno Wilson Coury Jabour, com 12 anos, acompanhou a inundação avançar sobre o comércio do seu pai. Já na sua casa, no segundo andar de um sobrado na rua Marechal Deodoro, a enchente bateu no 11º degrau das escadas. Em algumas ruas, as águas alcançaram mais de dois metros. Na rua Halfeld, passaram pelas escadarias do Cine-Theatro Central e atingiram a Galeria Pio X.

Carroceiros ajudavam no resgaste dos desabrigados na avenida Getúlio Vargas (Foto: Leonardo Costa sobre reprodução do acervo Maria do Resguardo)

Dados apresentados pelo Diário Mercantil, em uma edição especial sobre o episódio, publicada em março de 1941, mostram a altura da inundação registrada em várias partes da cidade. Na esquina das ruas Feliciano Pena e Barão de Ibertioga, a água alcançou 2,4 metros. Na rua Hipólito Caron com a Floriano Peixoto, 1,77 metro. Nas esquinas da Fonseca Hermes e Francisco Bernardino e da Roberto de Barros com a Rio Branco a marca foi de 1,5 metro.

O tamanho da tragédia foi resumido em relatório pelo prefeito Raphael Cirigliano. “Além de ter sido interrompido o trânsito na cidade, a ponto de só se poder comunicar com os bairros de Botanágua, Poço Rico, Manoel Honório e Santa Terezinha (Tapera) por telefone, a cidade se viu privada também, nos dias 24 e 25 de dezembro, de comunicação com quaisquer outras cidades, em vista de terem sido suspensos os trens da E. F. Central do Brasil entre Matias Barbosa e Mariano Procópio, de não terem podido sair ou entrar na cidade os ônibus das várias linhas e de não ter a E. F. Leopoldina podido fazer chegar à sua estação os seus trens, que ficaram retidos além da ponte metálica da Rua São Sebastião.”

Ainda nas primeiras horas da manhã do dia 24 de dezembro as autoridades iniciaram um intenso processo de remoção de moradores ilhados em suas casas. Como as águas não recuavam e muitos edifícios davam sinais de desmoronamento, o passar do tempo aumentava os riscos.

Na rua Batista de Oliveira as águas quase alcançaram as janelas das casas (Foto: Leonardo Costa sobre reprodução do acervo Maria do Resguardo)

O general Christovão Barcellos, comandante da 4ª Região Militar, médicos e engenheiros da Prefeitura, além de delegados e policiais, criaram uma força tarefa com 60 canoas, 300 carroças, cavalos e caminhões. Os desabrigados foram levados para escolas públicas, colégios privados, igrejas, lojas maçônicas e centros espíritas. Foram montadas tendas pelo Exército nas regiões mais altas da cidade.

Entre as pessoas atingidas pela inundação estavam as prostitutas que ficavam na parte baixa da cidade, próximas ao Rio Paraibuna. Desabrigadas pelas águas e acossadas pelo estigma dos padrões de moralidade vigentes, estavam sem paradeiro. Walter Harvey Moore, o Mister Moore, então reitor do Instituto Metodista Granbery, foi até elas e as acolheu no Colégio Granbery.

No bairro Manoel Honório, quando uma equipe de salvamento chegou a uma residência tomada pelas águas, encontrou uma mulher em trabalho de parto. Sem tempo para remoção, os médicos ajudaram-na dar à luz ali mesmo. Somente após o parto, mãe e filho foram levados para um abrigo.

Durante o decorrer do dia, moradores relataram animais e objetos sendo levados pela força das águas do Paraibuna. O jornal A Noite noticiou a informação de dois afogamentos. Também foi informado pela imprensa ataques de cobras e escorpiões, além de um forte mau cheiro em toda a área alagada.

De onde vinha tanta água?

Os jornais A Noite e Diário da Noite e, mais tarde, o próprio Diário Mercantil, relataram um aviso vindo de Santos Dumont direcionado ao delegado Alves Valadão sobre ocorrência de uma forte tempestade entre aquela cidade e Ewbank da Câmara, com risco iminente de inundação do Rio Paraibuna. Esse excesso de chuvas teria desencadeado a tragédia de dezembro de 1940.

O imenso volume de água, superando inclusive a inundação de 1906, até então a maior da história do município, e a demora para a enchente abrandar provocaram indagações quanto a essa versão das intensas chuvas nas cabeceiras dos rios nos municípios vizinhos. Mesmo porque, não há relatos nos jornais quanto à persistência das chuvas nos dias 24 e 25 de dezembro, quando a inundação se mantinha.

Uma outra versão sobre o que teria acontecido foi apresentada pelo vereador Antônio Ribeiro de Sá em seu livro “Juiz de Fora: Comentários sobre Administrações do Município”, lançado em 1969. Num extenso artigo rico em detalhes, ele se propõe a contar o que tratou como “A verdade sobre a inundação de 1940”.

Seu relato se inicia com a descrição da segunda quinzena de dezembro de 1940, com abundantes chuvas, mas com proporções semelhantes às dos últimos anos. “Ao se aproximar, porém, do dia do Natal, fortes chuvas regaram as cabeceiras do Córrego dos Pintos, alimentador da represa que abastece a cidade.”

Os ribeirões dos Pintos e dos Burros são ainda hoje responsáveis por alimentar a Represa Dr. João Penido, que começou a ser construída em 1934. Embora o excesso de chuvas nas cabeceiras, Ribeiro de Sá chama atenção em seu relato que o Paraibuna seguia “cauteloso e inofensivo”.

No dia 23 de dezembro, no entanto, “as águas começaram a crescer de volume e a subir vertiginosamente”. E o vereador segue narrando o avançar do Paraibuna sobre a cidade no dia seguinte e também no Natal, mesmo “cessadas as chuvas”. “O rio continuava a se avolumar ainda mais, espelhando em suas águas os raios solares de dias lindos e claros”.

Com isso, prossegue Ribeiro de Sá, “a perspicácia popular começou a afirmar que não eram as benfazejas chuvas que arrasavam a cidade, mas as torrentes caudalosas advindas da represa”. Para verificar de onde provinha a enchente, o vereador revela ter ido pessoalmente até a Represa Dr. João Penido naquele dia 23 de dezembro.  

“O Paraibuna, ao montante de sua confluência com o córrego que vinha da represa, não havia saído do seu leito normal, tanto assim que nas imediações de Benfica não existia inundação. Toda a caudal que impiedosamente submergia Juiz de Fora provinha da barragem”.

Sua narrativa segue com a explicação do que teria acontecido. “Temendo que as chuvas caídas nas vertentes do manancial dos Pintos fizessem transbordar a represa e arrebentar a muralha (cuja construção, sabiam, não oferecia grande solidez e segurança), o prefeito e o delegado de polícia mandaram movimentar as engrenagens do ‘sangradouro’, e fizeram abrir os dois imensos tubos de descarga, situados no fundo da comporta”.

Construção da barragem da Represa Dr. João Penido (Foto: Acervo Maria do Resguardo)

Acontece, por fim, conforme o relato de Ribeiro de Sá, que “no dia seguinte, passado o perigo iminente, quando determinaram o fechamento da descarga, o maquinismo não obedeceu ao esforço dos técnicos, (enguiçou), e a volumosa caudal, em catadupas irreprimíveis, continuou a se precipitar sobre a cidade”.

O vereador ainda ressalta que, como se vivia na época da ditadura do Estado Novo, “quem ousasse afirmar que Juiz de Fora estava sendo vítima das águas daquele reservatório, era chamado polícia e enxadrezado”. E para evitar acesso de populares à represa, “o prefeito e o delegado, em ação conjunta, mandaram guarnecer as respectivas estradas”.

As informações trazidas quase três décadas depois dos acontecimentos por Ribeiro de Sá contrariam a versão oficial relatada pelas autoridades e pela imprensa da época. No entanto, alguns aspectos chamam atenção, como a ausência de chuvas no farto material fotográfico existente sobre os dias da inundação.

Embora o Diário Mercantil, na edição especial sobre a tragédia, publicada em março de 1941, tivesse colocado o bairro Benfica no rol das áreas inundadas, não há fotos da região alagada. Também não há registro histórico dos índices pluviométricos, o que impossibilita o comparativo do volume de chuvas registrado em 1940 e nos anos anteriores.

Se era impossível determinar a origem do aguaceiro, não menos improvável era naquela noite véspera de Natal dimensionar o alcance da destruição e o número de desabrigados.  Com as equipes de salvamento nas ruas e sem sinal de trégua no Paraibuna, os juiz-foranos enfrentaram a segunda madrugada de medo.

O Natal mais triste da história

O Natal de 1940 chegou com Juiz de Fora debaixo d’água. Wilson Coury Jabour definiria aquele como “o mais triste Natal da história de Juiz de Fora”.  Mesmo com donos de padarias em canoas distribuindo pães e donativos para os desabrigados começando a chegar, o clima retratado pelos jornais é do mais completo desalento.

O editor do Diário da Noite publicaria na edição do dia 27 de dezembro que “1940 ficará assinalado na história de Juiz de Fora como o ano em que não houve Natal”. O jornal A Noite informou que o Exército montou cozinhas de campanha na Escola Normal e no prédio da Prefeitura para servir alimento para os desabrigados. 

Em meio à tragédia, às 10h do dia 25 de dezembro, após verificação junto às réguas colocadas em pontos do Rio Paraibuna, veio a notícia de que as águas começaram a baixar. Ao término do dia de Natal, algumas ruas já estavam sem água. Segundo o jornal A Noite, na madrugada do dia 26, a inundação já havia descido cerca de um metro.

A inundação alcançou as escadarias do Cine-Theatro Central e chegou até a Galeria Pio X ( Foto: Leonardo Costa sobre reprodução do acervo Maria do Resguardo)

A enchente teve duração de 91 horas e 30 minutos e deixou 6.800 desabrigados. A descarga máxima de água, segundo Hildebrando de Araújo Góis, diretor do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), foi de 245 metros cúbicos por segundo, ou seja, muito superior à capacidade da calha do Rio Paraibuna, na época estimada em 120 metros cúbicos por segundo.

O abaixar das águas revelou uma cidade destruída. A zona comercial no entorno da Praça Dr. João Penido, onde fica a estação ferroviária, foi praticamente destruída. Os produtos comprados em grande quantidade para serem comercializados no Natal foram quase todos perdidos e as lojas danificadas.

Os jornais locais não circularam por conta da água em suas oficinas. Livrarias inteiras foram encharcadas e pequenas e médias indústrias devastadas. Sacas de grãos e outros alimentos perecíveis foram perdidos. O armazenamento de vários produtos estava completamente comprometido.

Uma comissão de engenheiros, chefiada por Paulo Correia de Castro, realizou vistoria na área atingida pela inundação. O relatório apontou o desmoronamento de 72 prédios e a danificação parcial de outros 44. O delegado de polícia confirmou o registro de cinco mortos devido à inundação.

Por outro lado, equipes dos governos federal e estadual chegaram à cidade com caminhões pipa para atuarem na limpeza. Os transportes ferroviário e rodoviário começaram a ser restabelecidos. Empresários, fazendeiros e diversas entidades iniciaram arrecadação de donativos para ajudar os desabrigados.

A pedido do ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, profissionais de diversas áreas estiveram na cidade avaliando as condições sanitárias após a tragédia. Foram disponibilizadas vacinas e donativos para os desabrigados. O consumo de água foi restringido às fontes não afetadas pela inundação.

As chuvas seguiam caindo nos momentos iniciais do avançar da inundação (Foto: Leonardo Costa sobre reprodução do acervo Maria do Resguardo)

O presidente Getúlio Vargas, em razão da severidade do evento e de certa proximidade com Juiz de Fora, decretou a “suspensão, por um prazo de 15 dias, do vencimento das obrigações comerciais, civis e fiscais, inclusive o protesto cambial de títulos em moeda nacional no município”.

O governador de Minas, Benedito Valadares, enviou recursos para ajudar na reconstrução da cidade. Artistas aclamados na época, como a dupla Alvarenga e Ranchinho e Grande Otelo, fizeram espetáculos beneficentes no município para ajudar os desabrigados.

A maior ajuda para Juiz de Fora, no entanto, seria anunciada pelo prefeito Raphael Cirigliano no dia 11 de janeiro de 1941. Ele relatou que, naquele dia, “havia recebido comunicação oficial da resolução do senhor presidente Getúlio Vargas, em retificar o rio Paraibuna”. O grave problema que há quase um século assolava a cidade e sua população seria solucionado.

A retificação do Paraibuna

Waldecyr Apparecido Martins, que era criança em 1940 e depois se tornaria presidente da Câmara de Juiz e Fora, hoje é taxativo: “A cidade tem uma dívida histórica com Getúlio Vargas. Foi ele quem fez a maior obra da história de Juiz de Fora.” Mas o que foi a retificação do Rio Paraibuna?

O professor Pedro Machado, do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explica que antes de 1940 o Paraibuna era “totalmente distinto do rio degradado que corta toda a extensão urbana do município hoje”. Era sinuoso, transportando suas águas em baixa velocidade, o que sempre resultava em transbordamentos.

Mais estreito e volumoso, o Paraibuna chegou a abrigar um transporte fluvial regular de passageiros, inaugurado em janeiro de 1914, pelo empresário Abel Araújo de Montreuil, que fazia a ligação entre o centro da cidade e o bairro Benfica por meio de lanchas. Antes, no final do século XIX, pela Resolução Municipal nº 94, André Alfeld e Adolfo Januska obtiveram privilégio para navegação do Rio Paraibuna, transportando cargas e passageiros.

O professor lembra que Pedro Nava descrevia o rio como “tortuoso, barrento, águas propícias ao afogamento de meninos, aos suicídios das moças seduzidas e das escravas judiadas do Visconde de Monte Mário”, em “Baú de Ossos”.

Com o passar do tempo, segundo Pedro Machado, a calha do Paraibuna ficou pequena para o progresso da cidade. “Os inúmeros aterros realizados para construção de casas, praças e ruas intensificaram sua falta de capacidade para escoar as descargas máximas do período chuvoso”.

Alcance da enchente de 1906 (em vermelho) e de 1940 (em amarelo) sobre o traçado atual do Paraibuna (em azul) – (Gráfico: Pedro Machado/UFJF)

A natureza resolvia esse problema espraiando o excesso de água pelas várzeas localizadas ao longo do seu médio vale e na várzea central. Mas, explica o professor, era exatamente sobre essa última área que a cidade havia se expandido. “As cheias ocorriam agora numa várzea ocupada pela cidade, gerando enormes prejuízos humanos e econômicos”.

Com a resolução de Getúlio Vargas após a enchente de 1940, Hildebrando Góis desembarcou em Juiz de Fora e, após estudo aprofundado da dinâmica do rio e dos vários planos e projetos até então existentes, anunciou seu plano para solucionar as inundações em março de 1942.

As obras de retificação mudaram o traçado do rio e envolveram dragagem, aterros, desmonte de rochas, escavação, proteção das margens, reconstrução e alargamento de pontes, desvio da estrada União e Indústria e desapropriações. Com as alterações, que implicaram em um ganho de declividade, a capacidade de descarga do Paraibuna passou para 340 metros cúbicos por segundo.

Pedro Machado chama a atenção para a intervenção conhecida como Variante Howyan. “Sem dúvidas, a intervenção mais espetacular do plano de retificação foi a construção do canal extravasor, entre os bairros Poço Rico e Costa Carvalho (antiga região das Três Pontes), proposto por Howyan em 1892 e em sua homenagem chamada Variante Howyan.” Nesse trecho, o curso do sinuoso do Paraibuna foi reduzido de 1.440 metros para 840 metros, permitindo maior fluidez às águas.

A retificação do rio, com o aterro das várzeas, das margens e do seu antigo leito, promoveu ocupação e incorporação de novas áreas ao processo de urbanização. A partir daí, foi possível viabilizar a Avenida Brasil, principal ligação entre as regiões sudeste, centro e norte da cidade.

Mudança do traçado do Rio Paraibuna em uma área localizada nos fundos do Museu Mariano Procópio (Foto: Acervo Maria do Resguardo e reprodução Google Earth)

Da mesma forma, a mudança do traçado do rio trouxe a expansão da cidade para a zona sudeste. Muitos dos 6.800 desabrigados pela enchente foram alojados em 150 casas populares, construídas com recursos públicos em terrenos doados pela Prefeitura.

De acordo com Paulino de Oliveira, no entanto, “poucos flagelados se abrigaram (ali), preferindo muitos reconstruir seus barracões, em terreno alheio, à beira do rio, enquanto outros se negaram (…) a morar naquele local, que o povo crismara de Flagelo”. Mais tarde, o local recebeu o nome de Vila Furtado de Menezes.

Para Pedro Machado, a enchente de 1940 acabou desencadeando a necessária retificação do Paraibuna, sendo responsável “pela consolidação da área central e pela expansão da mancha urbana nos sentidos norte e sudeste, constituindo-se num marco fundamental do processo de urbanização local”. 

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