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Qual a avaliação dos autotestes para Covid-19 um mês após sua liberação no Brasil?

Embora mais baratos e práticos, os autotestes não têm validade como documento (Foto: Divulgação)

No final de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a utilização de autotestes de Covid-19 no país. Logo, os primeiros produtos começaram a chegar às farmácias em todo o Brasil. Uma pesquisa rápida na internet aponta que esse método de testagem pode ser comprado por até R$ 69,90.

Em janeiro, o médico sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ex-diretor da Anvisa, avaliou o uso do autoteste como uma alternativa mais rápida e barata que poderia ter um papel importante na pandemia.

Na ocasião, ele citou como exemplo um bairro com alta incidência de casos e internações pela doença, onde os moradores pudessem realizar o diagnóstico e se isolarem voluntariamente. Outra boa aposta seria seu uso nas escolas, onde o autoteste também seria de grande valia, de acordo com Maierovitch, para controlar a incidência.

De forma oficial, o Ministério da Saúde anunciou a adoção dos autotestes como uma nova estratégia de triagem. A ideia era de que eles contribuíssem para um isolamento imediato, antes de o infectado se reunir em ambientes fechados com outras pessoas.

Também teriam o papel de contribuir para não sobrecarregar o sistema de saúde, sendo alternativa aos demais métodos de testagem. Vale lembrar que, na ocasião – em janeiro -, havia um cenário de escassez de testes por conta do avanço da variante Ômicron.

Um mês após a liberação do uso de autotestes no Brasil, com a modalidade disponível em todas as farmácias, a percepção em relação à novidade mudou. Com a procura por testes RT-PCR, que é realizado em laboratório e detecta o RNA (material genético) do vírus, normalizada após o impacto inicial da Ômicron, a importância do autoteste passou a ser repensada.

O fato de não haver obrigatoriedade de compartilhar o resultado com órgãos governamentais, que faz com que muitos casos positivos se percam no meio do caminho, é um dos complicadores, conforme explica o infectologista e responsável pelo setor de vigilância em saúde do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rodrigo Daniel.  “O autoteste tem um custo um pouco menor do que o de farmácia, mas ele é muito semelhante em relação à eficácia. Mas como ele não pode ser usado como documento, acaba não tendo tanta utilidade.”

Conforme o Ministério da Saúde, “o autoteste não fornece um diagnóstico e serve como triagem para orientar o usuário sobre o risco de transmissão do vírus e as medidas que podem ser adotadas”. Por isso, ele não pode ser usado para solicitar atestado médico para licença laboral, nem para as viagens que requerem apresentação de testes de Covid-19.

Atualmente, apenas os testes realizados por profissionais de saúde, que apresentam laudos oficiais quanto à identificação ou não do antígeno ou material genético do vírus na amostra, é que são aceitos como comprovantes.

Desta forma, conforme o infectologista Rodrigo Daniel, o que era para ser mais econômico, pode pesar mais no bolso. “Se der positivo, tem que fazer outro teste. Se a pessoa tem suspeita e tem acesso a outro tipo de teste, o ideal é que já faça esse outro teste. Se pensar que vai economizar (com o autoteste), pode sair mais caro depois, porque ao invés de pagar um só de R$120, por exemplo, vai pagar um de R$ 70 e outro de R$ 120. Particularmente, não vejo muita utilidade.”

Em relação a outro impacto causado pelos autotestes, que é o rico de subnotificação, o especialista alerta que, apesar disso, o número de casos não é o principal indicador da pandemia. Nesse sentido, as internações e óbitos demonstram um cenário “mais real” sobre o quanto a Covid-19 está afetando determinada localidade.