A Mercedes-Benz anunciou nessa segunda-feira (4) a inclusão de 600 funcionários de sua planta em Juiz de Fora no programa de férias coletivas entre os dias 18 de abril e 3 de maio. A mesma medida deve alcançar outros cinco mil trabalhadores de sua fábrica em São Bernardo do Campo, em São Paulo.
A medida se faz necessária, segundo comunicado da montadora, em virtude da escassez de componentes para a montagem de caminhões e ônibus. “Em razão da crise global de abastecimento de semicondutores, a Mercedes-Benz está ajustando sua produção de caminhões, chassis de ônibus e agregados (câmbios, motores e eixos) na fábrica de São Bernardo do Campo e de cabinas de caminhões em Juiz de Fora.”
A Mercedes-Benz disse que tem adotado diversas alternativas junto à cadeia brasileira de suprimentos e ao grupo Daimler Truck mundialmente para enfrentar “os desafios diários de abastecimento de peças”, que tem impactado a indústria há meses.
A redução da produção acontece em um momento de aquecimento do setor no país em virtude da demanda ter ficado reprimida em função da pandemia de Covid-19 e da aceleração das exportações geradas pelo agronegócio. Também atuou para impulsionar o negócio a antecipação das compras provocadas pelo Euro 6, conjunto de normas regulamentadoras sobre emissão de poluentes para motores diesel válida a partir de 2023.
Mas o que aconteceu com os semicondutores?
Para saber o que aconteceu com os semicondutores, antes é preciso saber do que se trata. Eles são uma classe de materiais capazes de conduzir correntes elétricas e são usados como matéria-prima para a produção de chips presentes nos mais diversos aparelhos eletrônicos.
Os semicondutores estão por toda parte, nos smartphones, nos videogames, nos computadores e nos veículos. Para se ter uma ideia, de acordo com a GM (General Motors), cada um dos seus modelos utiliza cerca de mil semicondutores, e a incapacidade de tê-los todos disponíveis ao mesmo tempo é um sério problema.
Numa cadeia de produção como a automobilística, com fluxo de suprimentos rigidamente cronometrado e metódico, a demanda por semicondutores vinha crescendo ano após ano com a oferta acompanhando de forma satisfatória. Isso até o surgimento da Covid-19, que levou a um forte desalinhamento do ritmo de negócios em todo o planeta.
Por conta de medidas sanitárias, como lockdowns, a produção mundial de automóveis parou por dois meses em 2020. Após esse período, as montadoras retomaram as atividades, com a perspectiva de reativar a cadeia de pedidos de peças e matérias-primas. Foi quando a nova realidade se impôs. Após encontrar dificuldades com a falta momentânea de aço e borracha, o que foi contornado com mais investimento e encarecimento do produto final, o setor se deparou com algo maior: a escassez dos semicondutores.
Bastou o curto período sem a demanda do setor automobilístico – em alguns casos até cancelamento de pedidos – para os produtores transferirem as cotas de produção para outros setores. Com notebooks, TVs e todos os tipos de eletrodomésticos com disparo na demanda por conta do home office ou mero lazer, a indústria automobilística foi jogada para o fim da fila.
Isso sem contar que a mineração de criptomoedas também ganhou força e abocanhou parcela significativa da produção. Soma-se a tudo isso o fato de a indústria de semicondutores ser uma das mais concentradas do mundo. Praticamente toda a produção é feita em Taiwan e na Correia do Sul, onde a atual política industrial tem como foco a fabricação de chips mais elaborados, necessários para equipamentos com 5G e servidores, que são mais lucrativos.
É nesse contexto que o ano de 2022 começou. A expectativa era de que, até o início do segundo semestre, a situação se normalizasse, embora alguns especialistas mais céticos falassem em um novo normal apenas em 2023. Com a invasão da Rússia na Ucrânia, todas as apostas mudaram repentinamente. O receio agora é da “segunda fase” da crise dos semicondutores.
Isso porque a Ucrânia é responsável por aproximadamente 70% da produção mundial de néon, gás necessário para a fabricação dos chips semicondutores. As fabricantes de chips dos EUA, por exemplo, dependem quase inteiramente do gás laser da Ucrânia e da Rússia.