No outono é sempre igual: chega uma massa de ar polar vinda da região da Antártida e derruba as temperaturas no Brasil. Vários municípios registraram madrugadas e noites de frio intenso nos últimos dias. Bom Jardim da Serra, no estado de Santa Catariana, teve temperatura negativa de -2,4°C na terça-feira (17). O frio também assustou o juiz-forano na manhã da quarta-feira (18), quando os termômetros marcaram 6,9 °C.
Os meteorologistas preveem a manutenção do frio pelo menos até próxima segunda-feira (23). Mas por que dessa vez a tal massa de ar polar está demorando a passar? E se existe aquecimento global e o planeta já está mais quente, como pode fazer tanto frio?
A massa de ar polar, de fato, deu uma “estacionada” no Brasil em virtude da presença da tempestade Yakecan, que criou uma espécie de barreira para o ar frio, mantendo-o no interior do país, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Inicialmente chamada de ciclone, Yakecan foi reclassificada como tempestade subtropical pela Marinha do Brasil na segunda-feira (16), quando a Defesa Civil Nacional emitiu alerta sobre o fenômeno.
A tempestade se formou 900 km a sudeste da costa do Rio Grande do Sul. Sem equipamentos em funcionamento na costa do extremo Sul, o Inmet só começou a acompanhar a velocidade do vento da tempestade quando ela já havia andado cerca de 200 km pela costa gaúcha. Na quarta-feira (18), ela seguiu em direção aos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, com menos intensidade do que o previsto e se afastando da costa.
Quanto ao frio intenso em meio ao aquecimento global, o professor e pesquisador do programa de pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza da Universidade Federal de Juiz de Fora, Nathan Barros, explicou que, quando se diz que a temperatura no planeta está esquentando, a referência é a temperatura média.
“Em outras palavras, a temperatura média no planeta está esquentando. Isso não impede que existam amplitudes térmicas nos países, provocadas por estações do ano diferentes. Nesse momento, estamos tendo temperaturas baixas no Brasil, provocada pela chegada de uma massa de ar frio, o que é comum nessa época do ano na nossa região”.
Ele lembrou, por outro lado, que o último verão foi um dos mais quentes já registrados. “Agora não nos lembramos disso devido ao frio que estamos sentindo. Mas, de fato, mesmo considerando a variação da temperatura ao longo do ano, em média, nosso planeta está esquentando.”
O aquecimento global é o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra que pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas. Isto se deve principalmente ao aumento das emissões de gases na atmosfera que causam o efeito estufa, notadamente o dióxido de carbono (CO2).
O professor chamou atenção ainda para a diferença entre tempo e clima. “São coisas diferentes. Tempo é um estado momentâneo, como, por exemplo, dizer que hoje está frio. Já o clima é algo duradouro. Nesse caso, mesmo que o tempo fique frio hoje, o nosso clima ainda é o tropical. E comparando vários anos, a temperatura média de todas as regiões está aumentando”.