Quando aterrissou no Aeroporto da Serrinha de Juiz de Fora na última sexta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu as bênçãos e as boas-vindas de um pastor ainda no saguão. No mesmo local, foi homenageado com o título de cidadão honorário do município e ganhou uma nova “certidão de nascimento” com a data de 6 de setembro de 2018.
O presidente caminhou brevemente por uma área com proteção de grades próxima ao aeroporto e cumprimentou vários apoiadores. Depois seguiu direto em “motociata” para o Centro Educacional e Social Betel, onde acontecia a 43ª Assembleia Geral Extraordinária das Assembleias de Deus Madureira de Minas Gerais.
Durante o percurso, Bolsonaro parou brevemente na avenida Itamar Franco, próximo ao cruzamento com a rua Monsenhor Gustavo Freire, para cumprimentar simpatizantes, quando foi surpreendido por uma mulher o chamando de “corrupto”. Ela foi imediatamente retirada do local. A “motociata” seguiu sem novas paradas.
No Centro Educacional e Social Betel, esperavam pelo presidente pastores e missionários da Assembleia de Deus de todo o estado. Ele chegou ao evento por volta das 10h e saiu de lá próximo das 12h. Em seguida, foi para a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, onde permaneceu por cerca de uma hora e retornou para Brasília.
Mesmo com toda a expectativa criada em torno de sua primeira visita a Juiz de Fora após o atentado ocorrido no dia 6 de setembro de 2018, quando foi alvo de uma facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira, Bolsonaro manteve o propósito de suas últimas viagens pelo país e focou em sua base evangélica.
Desde a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos pela Polícia Federal por tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), o núcleo político do governo trabalha para tentar manter a vantagem do presidente neste eleitorado.
A avaliação no final de junho era de que o episódio da prisão somado aos desgastes gerados pelo negacionismo da pandemia e a crise econômica teriam potencial para anular a boa dianteira de Bolsonaro sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto aos evangélicos. Esse segmento representa 31% da população, segundo pesquisa Datafolha.
Além da importância direta para o presidente em seu projeto de reeleição, a base evangélica também é vista pelo Planalto como estratégica especificamente na composição das forças políticas na sucessão em Minas Gerais. A pré-candidatura do senador Carlos Viana (PL), que é evangélico, ao governo do estado é vista com poder de aumentar a pressão para um aceno a Bolsonaro por parte do governador Romeu Zema (Novo).
O presidente já revelou publicamente o propósito de querer caminhar com Zema, que lidera as pesquisas de intenção de votos no estado. O governador, no entanto, tem se mostrado reticente à parceria por ter em seu eleitorado muitos eleitores de Lula. Ainda sem desistir do acerto com Zema, mas com o risco de ficar sem palanque, Bolsonaro se viu obrigado a viabilizar Carlos Viana e espera contar com os evangélicos para isso.
Se a proximidade com a base evangélica e a possibilidade de fortalecimento da pré-candidatura de Carlos Viana ao governo de Minas Gerais levam, de certa forma, a visita a Juiz de Fora a ser vista como bem-sucedida, por outro lado, Bolsonaro não convenceu ao tentar explicar a falta de repasses para os hospitais filantrópicos durante seu encontro com os médicos que o operaram em 2018.
“Derrubaram um veto agora que tem a ver com R$ 7 bilhões para a Cultura. E a gente precisando de R$ 2 bilhões para atender as Santas Casas. Nem tudo passa por mim. A decisão passa pelo Parlamento”, disse Bolsonaro, ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do médico Renato Loures, presidente da Santa Casa. O hospital fechou 2021 com déficit de R$ 47 milhões.