Paraense radicada em Belo Horizonte, a professora da rede pública de educação, Sara Azevedo, 36 anos, será candidata ao Senado pelo PSOL. “Viemos com uma proposta muito clara em relação ao enfrentamento: Minas tem que ser para os mineiros e não para as mineradoras, Minas tem que ser um estado que referencia a educação”.
Mulher lésbica e feminista, ela considera a política ainda hostil às mulheres, às LGBTs e à classe trabalhadora. Por isso, sua candidatura se apresenta como subversiva. Especificamente sobre a pauta LGBT, Sara Azevedo vê a questão ainda “muito amarrada” e usada como um mecanismo de pressão constante. “Os discursos da extrema direita conservadora hoje sempre recaem sobre as LGBTs, é impressionante, sempre tem um recurso”.
A candidata defende o apoio do PSOL ao ex-presidente Lula como uma forma de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o bolsonarismo. Por outro lado, não vê Alexandre Kalil (PSD) e Alexandre Silveira (PSD), candidatos a governador e senador, como representantes da esquerda. “Não são referências da esquerda, não são nem oriundos da esquerda. São figuras que nascem do fenômeno dos políticos gestores”.
Sara Azevedo conversou pessoalmente com O Pharol, na última quinta-feira, durante sua visita a Juiz de Fora.
O Pharol: Você nasceu no Pará. Como foi sua trajetória até chegar a Minas Gerais?
Sara Azevedo – Sou de Belém. Estudei na Universidade do Estado do Pará. Foi lá que, ainda muito cedo, me descobri no movimento estudantil. A partir disso, foi uma série de outras descobertas. Estou falando dos anos 2000. Se entender enquanto feminista e se entender enquanto uma mulher lésbica, nesse período, era outra conotação diferente do que a gente tem hoje. Apesar do pouquíssimo tempo, tem uma diferença já gritante entre duas décadas. Foi nesse tempo que me descobri como uma mulher política, entendendo que era necessário mudar a sociedade. Foi também nesse período que me filiei ao PSOL. Foi um período de efervescência da juventude, que me despertou como socialista, quando defendo as pautas da classe. Depois veio outro processo, que foi a saída da universidade, entrar no mundo do trabalho, que não é fácil. É um processo mais doloroso, porque você sai do ambiente de formação e formulação para um ambiente muito pesado, para o que, na verdade, a gente quer que seja o mundo do trabalho, mas é o mercado de trabalho no final das contas.
O Pharol – Foi quando você veio para Belo Horizonte?
Sara Azevedo – Foi nesse período em que entendi que era necessário sair de Belém e ir para outros lugares. Belo Horizonte foi a cidade que me recebeu, porque tinha relações sociais estabelecidas, relações políticas com o próprio partido. Aqui consegui muitas coisas, fiz disciplinas isoladas no mestrado, fiz parte de projetos sociais, projetos que eram ligados à Prefeitura de Belo Horizonte. Depois ingressei na carreira docente do estado.
O Pharol – E em Minas Gerais você seguiu com sua construção política.
Sara Azevedo – Então, essa trajetória me fez perceber duas coisas: primeira, que é necessário organização política, por isso estou no PSOL até hoje, são quinze anos de partido. Depois, que é de me perceber sujeito político nesse processo. A partir da construção partidária, a partir da construção dos movimentos, a gente fundou o movimento juventude, o Juntos. Construímos o Juntas, que é um coletivo feminista, a Rede Emancipa, que é um movimento social de educação popular, que tem os cursinhos populares que estão espalhados pelo estado, desde Pouso Alegre até Manga, no Norte de Minas. Fui presidente do PSOL durante a gestão de 2015 a 2017, e hoje estou na vice-presidência do partido, sou da direção da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco. E agora, nesse novo arranjo político eleitoral do sistema partidário, estou na executiva da federação PSOL/Rede.
O Pharol – As mulheres do PSOL, principalmente, vivem uma série de ataques e violências, tentativas de afastá-las do espaço político, antes, durante e após o período eleitoral. Como tem sido sua vivência em relação a essa exposição e à violência política?
Sara Azevedo – A minha história corrobora um pouco das vivências políticas da nossa própria geração. Hoje a gente fala de política constantemente, a gente fala de política no corredor, a gente fala de política no restaurante, a gente fala de política em qualquer lugar e em todo momento. Então, a política se tornou muito latente. Isso tem a ver com os movimentos que, a partir de 2013, vem como uma chamada às lutas democráticas de maneira mais ampla. De 2011 para cá, a luta das mulheres foi muito exponencial, a luta das LGBTs e das paradas se tornaram multitudinárias. Aqui em Juiz de Fora mesmo, uma das cidades que, na década de 1990, teve uma das maiores paradas LGBTs do Brasil. Esses fenômenos deixaram de ser fenômenos para serem algo de fato constante, parte da política. Mas, com isso, também temos a reação, mais conservadora e mais violenta. Especialmente nos últimos cinco anos, até antes um pouquinho do governo Jair Bolsonaro (PL), mas que teve um salto gigantesco, uma escalonada gigantesca com a eleição do presidente Bolsonaro, que é um presidente genocida, um assassino, que promove a política do ódio. Ele faz uma escalada de violência no país a partir do seu discurso que é de confronto constante com o diferente e que vem construindo uma série de ações que vão desenvolvendo isso na prática no nosso cotidiano.
O Pharol – Você já foi vítima de ameaças ou outro tipo de violência política?
Sara Azevedo – Já recebi várias ameaças. Ameaças nas redes sociais não são novidade. Quando houve, por exemplo, um ato em Belo Horizonte em que a polícia militar invadiu a casa de uma pessoa que estava protestando contra a manifestação. Um deputado estadual junto com a polícia invadiram a casa dessa pessoa. A gente faz essa denúncia, e o próprio deputado veio para cima, com ameaças, com vários processos. Ainda tem as ameaças físicas, de que vai acontecer alguma coisa você. Essas violências ocorrem e é necessário mais do que nunca resistir. Porque é na resistência que a gente vai conseguir trazer (outras pessoas) com a ideia, com o exemplo. Óbvio que isso chega ao limite. Tivemos deputadas que foram ameaçadas por jagunços no Norte de Minas. Vereadoras foram assassinadas, como é o caso da Marielle (Franco). Mas, no caso, justamente por termos uma Marielle como exemplo e referência é que a gente segura muito essa barra de ter ainda muito mais mulheres e por isso vai ter muito mais violência. Isso tem a ver com a estrutura da sociedade, que mudou, mas não mudou o suficiente ainda para a gente conseguir de fato alterar essa relação.
O Pharol – Uma mulher lésbica concorrendo ao Senado por Minas Gerais. Qual a importância disso e quais as dificuldades da sua candidatura?
Sara Azevedo – A gente vem de uma sociedade em que sermos quem somos já é subversivo. Ser uma mulher lésbica e assumir isso para sociedade é ser subversivo. Porque a lógica da sociedade, uma heteronormatividade construída, é de que as mulheres não têm direito nem mesmo à sua própria sexualidade. Então, ainda que tenhamos avanço de aceitação com relação às pautas que são das liberdades democráticas, a questão LGBT ainda é muito amarrada e é usada como um mecanismo de pressão constante, de violências inclusive. Os discursos da extrema direita conservadora hoje sempre recaem sobre as LGBTs, é impressionante, sempre tem um recurso. Ao mesmo tempo, o recurso contrário de certa fração do campo progressista também é usar as questões que tem a ver com a sexualidade. A política não foi feita para nós, a política institucional que temos no nosso país, não foi feita para as mulheres, não foi feita para as LGBTs, não foi feita para os trabalhadores. Para ser uma candidata, para ser um candidato, você tem que ser rico, ter condições financeiras para se sustentar. Para ter competitividade, é preciso ter grana. Tem candidato ao Senado que está usando R$ 300 mil para fazer campanha de redes toda semana. Isso (R$ 300 mil) vai ser o financiamento total da nossa campanha durante toda a eleição, que ainda nem começou. Isso mostra que existe uma desigualdade muito grande. E a política do jeito que ela é feita, aparta justamente esses setores da sociedade que são os setores marginalizados, com menores condições. Aí a gente subverte novamente a sociedade fazendo campanha, sendo candidata, sendo uma professora, trabalhadora durante o processo eleitoral. Hoje, se não me engano, no Congresso, temos dois ou três LGBTs assumidamente, porque tem vários que não são assumidos. No senado só tem um, o Fabiano Contarato (PT). Isso mostra que ainda tem muito chão. É um lugar que não foi nem sonhado, mas que só de ter chegado já é uma grande vitória para as LGBTs. Vencer é uma vitória ainda maior, porque significa um empoderamento da representação de uma mulher lésbica que conseguiu chegar no espaço da política.
O Pharol – As questões relacionadas aos direitos LGBTs aqui no Brasil ainda são muito pouco desenvolvidas e o que tem sido desenvolvido partiu do STF, e não do Congresso.
Sara Azevedo – Hoje, no campo do Congresso, a gente só conseguiu coisas muito especulativas e estéticas, mas que são importantes. Por exemplo, no dia do orgulho LGBT pintaram o Congresso com as cores do arco-íris, as cores da bandeira LGBT. Já é um avanço simbólico e significativo. Só que esses avanços simbólicos precisam se reverter em avanços concretos na legislação, que ainda é muito retrógrada. E hoje tem maiores dificuldades do que antes. Está engavetada já há um bom tempo a proposta de casamento civil igualitário no Brasil. Como não havia possibilidade de o Congresso aprovar, ela foi aprovada via decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e via as decisões do próprio CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Eu sou casada, por exemplo, no civil, com todos os direitos de qualquer casamento, seja hétero, seja homo. Mas existem cartórios civis, especialmente nos interiores mais profundos do país, que não aceitam. Algo que existe por conta do preconceito e que é muito forte ainda. Com a legislação a gente poderia inclusive entrar com processos contra os próprios cartórios que não aceitam. Então você tem que fazer essa movimentação para poder acontecer. Só que hoje o Congresso, com a forma e o jeito que está, não consegue aprovar. Existe uma maioria estabelecida que é muito conservadora. Extremamente conservadora. Mesmo aqueles que são contra o presidente Bolsonaro, que não necessariamente seja por conta das pautas conservadoras, mas também pelas pautas econômicas. Seja no Senado, seja na Câmara, é importante construir propostas de ampliação da participação política das LGBTs, de atendimento, porque hoje nossa principal pauta ainda é a sobrevivência.
O Pharol – São as pautas relacionadas à saúde e à segurança?
Sara Azevedo – Atendimento à saúde, especialmente às travestis e às transsexuais, com a construção de ambulatórios, equipamentos de saúde para esse público em específico, mas também para as lésbicas. Uma ideia de uma saúde que seja humanizada, que consiga ter uma referência com relação aos LGBTs, pensar em políticas públicas que são para educação, que aí tem a ver também com a manutenção das LGBTs nas escolas. Foi um avanço a construção do nome social para manutenção dessas alunas dentro da escola. Mas você vai encontrar vários outros elementos para a garantia de que as LGBTs tenham condições de seguir com as suas vidas de forma não marginalizada. Garantia de saúde, garantia de educação, garantia de moradia, garantia de transporte, garantia de segurança. No campo da segurança, a questão da criminalização da LGBTfobia é um ponto importante, que teve uma aprovação no STF e no Congresso provavelmente não passaria. Mas tendo a aprovação no STF, a gente consegue construir elementos para outras pautas que podem ser vinculadas à questão da segurança.
O Pharol – Você falou sobre essa questão da educação, que envolve a manutenção das LGBTs nas escolas. Ainda há evasão?
Sara Azevedo – A educação sempre foi estabelecida como poder. Ter acesso à educação é poder. No país, a questão da educação ser garantida, a gratuidade dela, é da Constituição de 1988. Então era muito recente. Como estabelecido que a educação é poder, e ter acesso à educação é poder, dar continuidade à educação também é poder. Ter estudantes de baixa renda, estudantes que são das periferias, estudantes que nem sonharam que a universidade poderia existir, mas hoje dentro da universidade, é dizer que esses estudantes têm poder. Isso é um passo importante para garantias, porque apesar de ter sido garantida a gratuidade, não é garantido o acesso. O acesso ainda é muito travado, assim como a permanência. Então os grandes desafios das universidades, mas também das escolas, é o acesso permanente. É obrigatório hoje, a partir do ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que toda criança e adolescente precisa estar numa escola regularmente matriculada. Mas e a permanência dessa criança nessa escola? A permanência dela precisa ser através da alimentação, porque não necessariamente ela vai ter alimentação em casa, então ela precisa da alimentação. E na universidade é a mesma coisa.
O Pharol – Falando um pouco mais sobre essa questão das universidades. Em Minas Gerais, as universidades também estão sofrendo bastante com os cortes de verbas, na UFJF foram mais de R$ 15 milhões e na UFMG mais de R$ 32 milhões. É um processo de desmonte?
Sara Azevedo – O desmonte das universidades é um projeto político de longo prazo. Porque, se você desmonta a universidade, você desmonta a ciência e tecnologia e tudo aquilo que pode derrubar governos, que pode derrubar políticos, que pode derrubar toda a gama de uma sociedade que é movida pelo fake, pelo factóide. Então, desmontar a universidade significa diminuir o poder que a universidade tem. A escola e a universidade são lugares que movimentam, que mobilizam. Se você desmonta, você desmonta também esse poder de movimentar, de mobilizar. Esse desmonte que existe hoje é encabeçado pelo MEC (Ministério da Educação). Aqui no governo do Estado, por exemplo, nós temos o projeto “Trilhas do Futuro”, que é comandado pela Secretaria de Estado de Educação, e é uma ideia de formação continuada dos professores da rede estadual. Eles têm alguns projetos de especialização lato sensu, com pós-graduação em universidades públicas e federais e universidades privadas, que são a maioria. Ou seja, é investimento público em universidades privadas, onde está a maioria das vagas, sendo que temos duas universidades estaduais que não receberam, que tiveram cortes de verbas recentemente. Não é um corte direto, é um corte indireto.
O Pharol – Recentemente houve a questão envolvendo mais um projeto de mineração, agora na Serra do Curral. Qual a saída para gerar desenvolvimento econômico com preservação ambiental?
Sara Azevedo – Não existe hoje um projeto real de mineração que consiga estabelecer as relações entre o homem e a natureza de maneira sustentável. Isso não existe. O que existe é uma exploração predatória, que não tem nenhuma vinculação com o restante da sociedade. O que vai causar uma série de problemas, uma ampliação de uma malha de trabalhadores precarizados, uma ampliação das grandes favelas e grandes conglomerados e aglomerados, porque se não têm onde morar, as pessoas vão morar onde tem espaço para morar. Também teremos uma série de problemas que tem a ver com a degradação do próprio meio ambiente e do bioma e com isso vai colocar em risco a nossa própria sobrevivência enquanto seres humanos. O que aconteceu em Brumadinho deixou em risco, por exemplo, o Rio Paraopeba, que é um dos principais rios que cortam o estado, de leste a oeste, assim como o Rio Doce, que poderia causar o desabastecimento de água como causou em Governador Valadares e outras tantas cidades da região. Então nós estamos falando não mais somente “é porque você é contra os ricos”. Não, eu sou contra que haja especulação sobre as vidas que existem na região. Se há um projeto de mineração que consiga ser sustentável do ponto de vista da sociedade, a gente consegue trabalhar alguma coisa que consiga de fato ampliar tanto economicamente, quanto às questões sociais. São mais de trinta barragens em risco só aqui em Minas Gerais. É uma bomba relógio constante. A vida das pessoas que estão na região mineradora, Nova Lima, Brumadinho, Barão de Cocais, Itabira, Itabirito, entre outras, é uma relação de constante bomba relógio. As 272 vidas perdidas em Brumadinho não podem ser esquecidas. É possível fazer de forma diferente. Só não tem hoje nenhum tipo de vontade política para que isso aconteça. A Serra do Curral é uma vitória, mas para que se consiga frear a exploração, isso vai depender também de muitos fatores, a gente vai precisar ampliar as nossas relações
O Pharol – Como anda o projeto político do PSOL em Minas Gerais?
Sara Azevedo – Tivemos um avanço significativo de 2016 para cá. Elegemos uma bancada (de vereadores) em Belo Horizonte, elegemos a Tallia (Sobral) aqui em Juiz de Fora, elegemos a Áurea Carolina, nossa deputada federal, tivemos uma vaga na Assembleia Legislativa. Neste ano, a gente está para retomada de um espaço político com a saída da Áurea, que não será candidata, e também pela ausência que temos na Assembleia Legislativa. Quero ocupar o espaço de disputa para que a gente tenha possibilidade hoje de fazer o PSOL ser um partido de envergadura política suficiente para disputar os rumos de Minas Gerais. Um partido que tem referências políticas muito fortes e que vem construindo uma política pela esquerda, tendo um lado bem definido, como alternativa política de fato hoje e que apresenta um programa de intervenção direta. Um programa que tem a ver com um diálogo com os movimentos sociais, com um diálogo com a sociedade como um todo e construindo pautas que são urgentes para a população, mas que não são colocadas no processo como um todo, porque não tem interesse político para isso. O PSOL não se vende pelas suas propostas. Não é um partido que se vende. Esse é um partido ideológico, que vem tendo grandes vitórias a partir disso. Eu acho que essa é a grande sacada do partido nos últimos anos.
O Pharol – O PSOL vai apoiar o ex-presidente Lula. Como foi essa definição?
Sara Azevedo – Neste ano, não vamos ter, pela primeira vez, uma candidatura presidencial. Por entender o processo político como um todo, queremos eleger o Lula no primeiro turno. O presidente Lula hoje vai ser quem melhor terá condições para disputar contra o Bolsonaro. Nossa principal tarefa é derrotar Bolsonaro nas urnas, mas também derrotar o bolsonarismo nas urnas e nas ruas. Aqui em Minas Gerais, estamos com o Lula como presidente, nós vamos ter a Lorene Figueiredo, daqui de Juiz de Fora, professora da UFJF, como nossa candidata ao governo. Eu estou como candidata ao Senado. Viemos com uma proposta muito clara em relação ao enfrentamento: Minas tem que ser para os mineiros e não para as mineradoras, Minas tem que ser um estado que referencia a educação. O estado que tem o maior número de universidades federais precisa ser o que precisa se referenciar na educação. Minas precisa ser o estado que consiga referenciar também esse espaço da esquerda e as pesquisas estão dando esse indicativo. Temos uma grande chance de consolidar esse partido, que vem sendo o grande guarda-chuva da esquerda brasileira dos últimos dezoito anos.
O Pharol – O PSOL fez opção por ter uma chapa própria para o governo do estado e para o Senado em Minas Gerais ao invés de apoiar os candidatos apoiados pelo PT, que são Alexandre Kalil (PSD) e Alexandre Silveira (PSD). O que essa chapa majoritária do PSOL representa?
Sara Azevedo – Primeiro que é uma ausência o PT não ter candidato (ao governo e ao Senado) e isso é ruim para o processo político democrático do país. Ao mesmo tempo, tanto Kalil quanto Silveira não são de esquerda. Não são referências da esquerda, não são nem oriundos da esquerda. São figuras que nascem do fenômeno dos políticos gestores. A ideia de que a política precisa ser gestada, ser administrada. Política não é administração. Política é a força do diálogo, a força da democracia. Óbvio que Kalil teve uma excelente gestão, em partes, com relação à questão da pandemia. Mas fora isso, você vai ter uma série de outros elementos e fatores que são importantes de serem levados em conta, como a questão das ações contra o funcionalismo público municipal em Belo Horizonte, a agressão às professoras da educação infantil. Não foi uma vez, foram várias vezes, que tivemos portas fechadas para negociação. A gente está falando de um estado, de Minas Gerais, então acho que mais do que nunca é necessário que a gente tenha uma candidatura de esquerda. Não existe ausência na política. Os espaços precisam ser ocupados e esse espaço vai ser ocupado pela Lorene. Ao Senado, Alexandre Silveira também não é de esquerda. É um empresário que está hoje senador após ter sido suplente do Antonio Anastasia, que foi o governador do choque de gestão em Minas Gerais. Então as correlações estão muito bem lincadas nesse processo. É o senador que estava debatendo o orçamento secreto do governo Bolsonaro. Nem de longe chega a ser próximo do que é ser de esquerda. Novamente, na ausência, é preciso que esse espaço seja ocupado.
* Estagiária sob supervisão de jornalista profissional.