Diversidade

Rainbow Fest, Baile do Manifesto e Miss Brasil Gay agitam Juiz de Fora com críticas a Bolsonaro

Eventos foram marcados por críticas ao presidente Jair Bolsonaro (Foto: Leonardo Costa)

Juiz de Fora foi tomada no sábado (20) por pessoas com bandeiras de arco-íris. Depois de um período de interrupção devido à pandemia, o Rainbow Fest, o Baile do Manifesto e o Miss Brasil Gay voltaram a movimentar a cidade, trazendo nessa retomada um tom político.

Com muita música e protestos, artistas fizeram suas performances em apresentações que exploravam a fronteira entre diversidade e resistência no Parque Halfeld e na Praça João Pessoa, em frente ao Cine-Theatro Central. Nos dois eventos, não faltaram bandeiras de arco-íris e muitas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

No Parque Halfeld, o Rainbow Fest contou com a participação de artistas transformistas, de apresentações de artistas, como a cantora Sandra Portella, e do coletivo “Mães pela Liberdade”. O ator e humorista Gustavo Mendes, que é candidato a deputado federal pelo PT, também apareceu por lá.

O evento é organizado pelo MGM (Movimento Gay de Minas) em parceria com a Secretaria de Turismo de Juiz de Fora. Com 24 anos de existência, ganhou status de um dos maiores eventos turísticos da cidade. “Esse aspecto mostra o valor que o evento tem”, destacou Oswaldo Braga, do MGM.

Sobre os protestos de natureza política, ele falou do caráter democrático das manifestações e reafirmou o compromisso de levar a cultura LGBT para a rua. “O evento é político e, neste ano, está ainda mais. Mas não é a primeira vez que acontece em ano de eleição”. Oswaldo ainda revelou que toma cuidado com políticos “aproveitadores” e cravou: “Aqui eles não vieram não.”

As manifestações políticas foram muito recorrentes no evento. Os gritos de Fora Bolsonaro foram tão comuns quanto a expressão “faz o L”, em alusão ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A importância de se votar em candidatos que respeitem os direitos do público LGBTQIA+ foi uma das pautas levantadas quando o assunto era consciência política e corpos marginalizados. Também foi cobrada a inclusão desse grupo nas políticas públicas do governo e nos cargos institucionais.

A cantora juiz-forana, Sandra Portella, destacou a importância de a sociedade compreender a diversidade e reconhecer de perto o papel da arte enquanto instrumento político. “A arte é política, principalmente na minha área que é o samba, a gente faz política o tempo todo e é importante isso.”

Baile do Manifesto

Também ao longo da tarde, em frente ao Cine-Theatro Central, aconteceu o Baile do Manifesto. O evento teve a apresentação voluntária de artistas locais e a presença da vereadora do PSOL, Tallia Sobral, que é candidata a deputada estadual, e de Dandara Felícia, da Associação de Travestis, Transgeneres e Transexuais de Juiz de Fora, que é candidata a deputada estadual pelo PT. Dandara também passou pelo Rainbow Fest.

A opção por fazer o evento no mesmo horário e próximo ao Rainbow Fest envolve uma questão de identidade. A organizadora do Baile do Manifesto, Sol Mourão, disse que, diante da falta de identificação com um evento que a representasse, o baile surgiu como uma oportunidade da construção de novos espaços.

Ela revelou que teve dificuldade em traçar um diálogo junto a Prefeitura de Juiz de Fora e denunciou o “boicote” de uma determinada secretaria. Sol Mourão explicou que inicialmente havia uma verba destinada para a realização do evento ali, em frente ao Cine-Theatro Central, mas houve problemas para liberar os recursos.

A Funalfa (Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage) acabou apoiando a festa por meio da liberação do espaço e do som. Em relação à emenda que seria destinada ao evento e não chegou ser executada, O Pharol questionou a Prefeitura de Juiz de Fora, mas ainda não obteve resposta.

Miss Brasil Gay tem trio elétrico com “Fora Bolsonaro”

O Miss Brasil Gay, que teve como vencedora Leticia Valientinni, representante do estado do Rio de Janeiro, contou ainda como destaque com o show de Gloria Groove e performances de vários artistas. A 40ª edição do evento foi celebrada ao longo de toda noite, com várias passagens dos 40 anos de história sendo relembradas.

Os protestos políticos que marcaram os eventos da tarde no Parque Halfeld e na Praça João Pessoa, em frente ao Cine-Theatro Central, também apareceram durante a noite. No mais emblemático deles, a candidata representante do estado da Bahia foi para passarela com traje típico em formato de um trio elétrico com um “Fora Bolsonaro” na parte de trás.

Após o show de Glória Groove, Michel Brucce, organizador do evento, aproveitou para agradecer a presença da professora Sara Azevedo, candidata LGBTQIA+ ao Senado pelo PSOL. Ela agradeceu a menção e ressaltou a força do movimento LGBTQIA+ de Juiz de Fora. “É um dos mais tradicionais e combativos do país. A cidade representa a vanguarda nessa luta.”

Público LGBTQIA+ ainda enfrenta resistência da Câmara Municipal

O projeto de lei que proíbe a adoção de banheiros unissex em Juiz de Fora também foi relembrado durante os eventos. Aprovado na última sexta-feira (19), o texto torna ilegal a existência de banheiros multigêneros em todos os estabelecimentos públicos ou privados da cidade. 

O coletivo Mães pela Liberdade fez questão de levantar a bandeira “Fora Bolsonaro” enquanto denunciava o caráter conservador das decisões legislativas da cidade. O grupo também reivindicou o direito de seus filhos usarem os banheiros com os quais se identificam.

Há pouco tempo, outro projeto de lei relativo aos direitos do público LGBTQIA+, também com autoria do vereador Sargento Mello Casal (PTB), conseguiu maioria na Câmara. Nele, o uso de linguagem neutra nas escolas se torna proibido. 

Sem nenhum respaldo técnico para a elaboração da proposta, o projeto aprovado estabelece que “fica garantido aos estudantes do município de Juiz de Fora o direito ao aprendizado da língua portuguesa de acordo com as normas legais de ensino estabelecidas com base nas orientações nacionais de educação, pelo vocabulário ortográfico da língua portuguesa e da gramática elaborada de acordo com a reforma ortográfica”.

A vereadora Laiz Perrut (PT), por sua vez, destacou as vitórias das pautas LGBTQIA+ em Juiz de Fora. “Minha primeira lei aprovada, no início do ano passado, foi a que reconhecia o nome social na cidade.” Segundo ela, mesmo em um cenário conservador, é possível avançar. “Na sessão de ontem (sexta-feira-19), por exemplo, aprovamos um conselho LGBTQIA+ na cidade”.

*Estagiária sob supervisão de jornalista profissional.