Romeu Zema (Novo), reeleito governador de Minas Gerais, adotou a mesma postura de 2018 ao apoiar Bolsonaro (PL) na disputa do segundo turno. Mas, afinal, até onde essa adesão formal vai influenciar nos resultados do segundo turno da eleição presidencial?
Para quem chegou à política carregando o status de “outsider”, Zema assimilou rápido demais a velha política para seguir agora dentro do jogo. Com uma boa avaliação entre os eleitores mineiros, o governador foi de azarão a favorito e emplacou mais um mandato ao vencer seu principal oponente Alexandre Kalil (PSD) ainda no primeiro turno, com 71,8% dos votos válidos.
Seu desafio agora é satisfazer a aposta dos bolsonaristas que esperam por uma enxurrada de votos no estado que é o segundo com maior colégio eleitoral do Brasil, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso no primeiro turno com 48,29% dos votos válidos.
Lembrando que, embora já eleito, Zema viu a bancada mineira do Novo desaparecer em Brasília e seu candidato ao Senado – Marcelo Aro (PP) – terminar em terceiro lugar.
Enquanto Lula tem uma dianteira de seis milhões de votos, Bolsonaro aposta nos apoios nos estados, notadamente em Minas Gerais e São Paulo. Mas o apoio de Zema será suficiente para uma guinada bolsonarista? O Pharol conversou com dois cientistas políticos para responder essa pergunta.
Paulo Roberto Figueira Leal, doutor e professor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) explica que Minas Gerais tem um histórico eleitoral descasado para presidente e governador. “Em 1998, o estado votou majoritariamente em Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para presidente e em Itamar Franco (então oposição ao tucano) para governador. Em 2002 e 2006, Lula foi presidente e Aécio Neves (PSDB) governador. Em 2010, Dilma Rousseff (PT) foi eleita presidente e Antônio Anastasia (PSDB) governador.”
O professor concorda que a declaração de Zema “é inegavelmente positiva para Bolsonaro”, porém, “não é certo que os eleitores deixarão de votar em Lula só porque Zema está indicando Bolsonaro”.
Diferentemente de 2018, Zema não declarou apoio a Bolsonaro no primeiro turno. Ao contrário, procurou até tomar uma posição neutra em relação ao pleito presidencial. Paulo Roberto avalia, no entanto, que apesar de não anunciada, “não há qualquer dúvida da proximidade ideológica de Zema com Bolsonaro.”
A recente mudança de posicionamento público seria parte da estratégia do governador de construir uma base com o PL de Bolsonaro na Assembleia de Minas e pavimentar o caminho entre os bolsonaristas para 2026. Após vencer as eleições no último domingo (2), Zema foi recebido por apoiadores com gritos de “presidente”.
Para Diogo Tourino de Souza, professor de ciências sociais na UFJF, “a posição de Zema é cômoda”. Ele explica que, se antes o governador procurou não se comprometer, até porque as pesquisas indicavam sua boa aceitação entre eleitores lulistas, agora “ele pode deixar transparecer suas próprias convicções”. A grande questão, segundo o professor, é saber se Zema vai levantar as mangas e tentar virar voto.
A despeito da promessa de eleição apertada no segundo turno, com possibilidade de acirramento ainda maior dos ânimos, Diogo ressalta o saldo positivo do primeiro turno. “O que vimos no domingo foram as pessoas indo votar, pessoas na fila com adesivos de candidatos opostos” e apenas casos isolados de violência.
* Estagiária sob supervisão de jornalista profissional.