A vida dos outros

Por que Isabel Cristina será beatificada sem comprovação de milagre?

Túmulo onde foi sepultado os restos mortais de Isabel Cristina na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena (Foto: Arquidiocese de Mariana)

No próximo sábado (10), o arcebispo emérito de Aparecida, cardeal Raymundo Damasceno Assis, representando o papa Francisco, vai presidir a cerimônia de beatificação de Isabel Cristian Mrad Campos. O próximo passo é a canonização, que pode levar a estudante brutalmente assassinada em Juiz de Fora em 1982 à condição de santa da Igreja Católica.

Antes de ser considerada santa, qualquer pessoal precisa passar por três estágios. Primeiro, é reconhecimento como “Servo” ou “Serva de Deus”, quando o Vaticano aceita abrir o processo de beatificação encaminhado por alguma diocese. No caso de Isabel Cristina, isso aconteceu em 2001, quando um grupo de pessoas de Barbacena iniciou o processo junto à diocese de Mariana.

Para a candidatura a santa ser reconhecida, é necessário o cumprimento das “virtudes heroicas”. O responsável pelo processo deve reunir toda informação, de testemunhos a cartas e escritos, para demonstrar a prática de forma heroica e continuada as virtudes da fé. A partir daí, o postulante passa à condição de “Venerável”. Havendo a comprovação de um milagre, o candidato ou a candidata é considerado “Beato” ou “Beata” e sua imagem pode, então, ser cultuada no país onde morreu.

Mas Isabel Cristina se tornará beata sem a comprovação de nenhum milagre. Isso porque, no caso de martírio reconhecido em função da fé, o milagre é dispensado. Além da martirização e da comprovação de milagres, o processo de beatificação e canonização pode ser feito ainda por decreto do papa. Os três modelos já foram usados nos processos de beatos e santos brasileiros.

O decreto de “martírio” para Isabel Cristina foi autorizado pelo papa Francisco em outubro de 2020. Devido a pandemia de Covid-19, a cerimônia será realizada apenas no próximo sábado (10). A princípio, a celebração seria presidida pelo prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, que acabou substituído pelo cardeal Raymundo Damasceno Assis.

O martírio

Isabel nasceu em uma família católica no município de Barbacena em 1962.  Desde sua adolescência, fez parte da Associação de Voluntários da “Conferência de São Vicente”, com trabalho junto às pessoas com deficiência e aos mais pobres. Aos 20 anos, mudou-se com seu irmão para a cidade de Juiz de Fora, onde se matriculou em um curso pré-vestibular com o objetivo de cursar faculdade de medicina.

No dia 1º de setembro de 1982, ao voltar para seu apartamento, um homem que foi montar um guarda-roupa em seu apartamento tentou violentá-la. Por oferecer resistência, ele a espancou com uma cadeira, amarrou-a, amordaçou-a e rasgou suas roupas. Como continuou a resistir, foi morta com 15 facadas.

Sua morte violenta foi considerada pelos católicos como um verdadeiro martírio, e os fiéis compararam a jovem vítima a Santa Maria Goretti, que também morreu lutando contra seu agressor. Por causa da maneira como morreu e, sobretudo, pela forma como viveu, algumas pessoas tiveram a iniciativa de entrar com o pedido de um processo para sua beatificação.

Seu túmulo, que está localizado na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, é um destino para os fiéis que também vêm de partes distantes do Brasil, os jovens colocam em seu túmulo pedidos de orações e agradecimento pelas graças alcançadas.