Colunas

Atender o telefone pode salvar vidas

“Senhor Watson, venha cá.”

Nada de Sherlock Holmes: esta foi a frase que Thomas Watson, que trabalhava com Graham Bell, ouviu assustado ao telefone. Comunicação simples e objetiva, um telefonema exemplar. Desde esse primeiro chamado de 1875 a comunicação por fio e além dele está presente no cotidiano da civilização.

Teve até Dom Pedro II na história dos telefones e o aparelho já começou e acabou guerras (políticas e conjugais) e fez cair muros e governos. Além de ser o exemplo inevitável para estudo da função fática da língua: ‘alô’ a gente fala quando quer testar o canal, depois começa a mensagem planejada.

No popular, a expressão “caiu a ficha” segue ativa, mesmo quando até os telefones com cartão estão caindo em desuso graças aos celulares. E telefonar por celular “é luxo”, como dizem alguns, porque a conversa pode ficar nas palavras, emojis e cansativos áudios das redes sociais.

Por mais antigo que seja, o telefone está em constante reinvenção e segue vivo, ativo socialmente e necessário. Por mais que a internet aproxime pessoas, ouvir uma voz amiga é bem mais caloroso.

No jornalismo, o telefone se torna essencial. Com grandes distâncias entre fonte e redação, pode-se ligar para o entrevistado e apurar a matéria ou, em caso da presença do jornalista no evento, ligar de lá para a redação e passar as informações. Dinamismo e atualidade de mãos dadas depois de clicar alguns números (ou girar o disco com eles, como antes).

Alguns telefones são simples em todos os lugares do mundo, poucos dígitos, para facilitar a discagem em casos de emergência, como no caso da polícia ou do Samu. Os telefones de centrais de cartão de crédito deveriam ser curtos também, porque perder um cartão (por furto ou de qualquer outro jeito) é um tanto desesperador.

Há outros números, do tamanho padrão dos demais, que também podem ajudar a salvar vidas. Como o do Departamento de Saúde da Mulher Gestante, Criança e Adolescentes (DSMGCA), na rua São Sebastião, no Centro de Juiz de Fora. Às vezes ele toca à exaustão, às vezes dá ocupado. Significa que tem gente lá.

O telefonema não atendido seria desnecessário se as informações fornecidas pela Prefeitura de Juiz de Fora estivessem corretas, mas algum jornalista ou assessor também deve ter ligado para o DSMGCA sem sucesso. Por isso o informe à população segue o mesmo em dias de serviços diferentes.

Por exemplo, quando dizia que apenas crianças de até três anos com comorbidade seriam vacinadas contra Covid-19. No grupo de mães do WhatsApp a notícia que corria era de que estavam vacinando todas as crianças nessa idade. A quem fosse lá apurar, o grupo estava certo.

Por exemplo, quando dizia que apenas crianças de até três anos com comorbidade seriam vacinadas contra Covid-19. A quem fosse lá apurar, nem vacina havia para essa idade.

A quem se deslocasse de bairros distantes, enfrentando todas as dificuldades do transporte coletivo com uma criança ou pagando mais caro por um transporte exclusivo, às vezes negociando uma ausência no emprego, restava o não. Uma criança (de tantas) não vacinada em meio a uma ainda pandemia.

Quando, na verdade, o que cada mãe e cada pai dessas crianças ainda sem vacinar quer é um alô seguido de um venha cá.