Diante da violência, na última terça-feira (11), em escola de Santa Tereza de Goiás, onde um adolescente de 13 anos esfaqueou três colegas, a Secretaria de Educação daquele estado publicou portaria que “Dispõe acerca de adoção de medidas preventivas no âmbito das unidades educacionais da Rede Estadual de Ensino de Goiás para mitigar a violência e acolher o educando com comportamento potencialmente violento”.
Entre as determinações estão “tratativas com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás a fim de firmar parceria, com vistas a garantir segurança aos estudantes e aos profissionais da educação, inclusive com a intensificação do patrulhamento regular das unidades escolares pelo Batalhão Escolar da Polícia Militar em Goiânia e por unidades policiais nos demais municípios, com o objetivo de assegurar a oferta regular do ensino obrigatório e público”.
O ataque em Goiás ocorreu poucos dias depois de outro semelhante em São Paulo, que resultou na morte de professora de 71 anos, e ainda menos dias depois do assassinato de quatro crianças numa creche em Blumenau. Como nos demais casos, porém, tem-se na portaria a falsa ideia de que policiamento ostensivo é a solução. Algo que está longe de ser verdade, visto que o problema é bem mais complexo e exige a construção de políticas públicas multidisciplinares que passem, sim, pela segurança pública — no sentido da prevenção —, mas também pela saúde, pela assistência social, pelo amparo psicológico e pela educação política e cidadã.
No entanto, frente tanto aos casos reais quanto à disseminação alarmante de boatos sobre outros ataques, fazendo o pânico se alastrar por escolas e famílias de todo o país, alastram-se também ações reativas, como achar que a grave questão se resolve autorizando a educação domiciliar, ou armando a comunidade escolar, ou dando livre acesso ao interior das instituições de ensino de gente legalmente armada e treinada para matar.
(Vale lembrar que, no episódio de Aracruz, em novembro do ano passado, o autor do atentado em que quatro pessoas morreram e mais de dez ficaram feridas é um adolescente de 16 anos, filho de um policial militar do estado.)
O que se tem chamado de violência nas escolas é, na verdade, violência às escolas. Contra as escolas. E esta é um projeto, pensado e articulado.
Eu desconhecia, mas soube nesta quarta-feira (12) que, já há alguns anos, o Exército Brasileiro, por meio dos chamados Tiros de Guerra, realiza o projeto Atirador Mirim, atendendo dezenas — às vezes mais de uma centena — de crianças e adolescentes, na faixa de 10 a 14 anos, em cada município. Diferente do que podem supor os que estão compartilhando em massa a informação, o projeto não ensina crianças a atirar. É preciso convir, no entanto, que o nome, por si, provoca polêmica. Os objetivos da iniciativa também, já que busca, nas palavras de uma das matérias encontradas, “resgatar valores perdidos”. Ou, nas palavras de outra, “o culto aos valores cívicos, éticos e patrióticos”.
Qualquer semelhança com o bolsonarismo não é mera coincidência. Falo do bolsonarismo do homeschooling; o bolsonarismo das escolas cívico-militares; o bolsonarismo da liberação de armas sem critérios; o bolsonarismo da perseguição ideológica ao magistério; o bolsonarismo das fake news; o bolsonarismo como eufemismo de projeto neofascista que coopta adolescentes e jovens pelo submundo da internet; o bolsonarismo que elegeu a educação — e a escola, esse símbolo — como principal inimiga.
E que continua elegendo. Ao que tudo indica, literalmente.
(*Adaptado de artigo publicado originalmente no site da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino — Contee)