Contexto

Zema completa 100 dias da nova gestão mais distante da imagem de ‘outsider’

Zema durante cerimônia de assinatura do contrato de concessão do Rodoanel da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Foto: Agência Minas)

Eleito pela primeira vez em 2018 na esteira dos discursos antissistema, quando a renovação nas urnas se tornou uma espécie de punição à elite política imersa em escândalos de corrupção, o então “outsider” governador Romeu Zema (Novo) começa seu segundo mandato em Minas Gerais como um político mais “de dentro” do que “de fora” do sistema.

Os 100 primeiros dias do segundo mandato foram suficientes para confirmar a nova face do governador e do seu partido, o Novo. Após ser reeleito numa composição com o PP, Zema conseguiu formar uma base para lá de heterogênea com 57 dos 77 deputados da Assembleia Legislativa de Minas. Já no primeiro teste dos aliados, o governo aprovou em primeiro turno a criação de mais duas secretarias.

Junto com o aumento da máquina pública, Zema também teve aval dos deputados para reajustar o próprio salário em 300%, além de conceder generosos aumentos também para seu alto escalão. Internamente, o governador liberou seu vice, Mateus Simões (Novo), para percorrer o estado e manter a articulação feita durante a campanha com lideranças regionais.

No caso envolvendo a futura destinação do imóvel do Fórum Benjamin Colucci, que é pleiteado pela Câmara de Juiz de Fora, as conversas foram conduzidas por Mateus Simões. Foi ele quem assumiu o compromisso de que, tão logo a sede da comarca seja transferida para a nova estrutura construída na Avenida Brasil, o espaço atual seja destinado aos vereadores.

As mudanças do governador e do seu partido são tratadas internamente no governo como uma necessária correção de rota. Mais experiente e com ambições maiores, Zema e o Novo consideram a possibilidade de chegarem ao Palácio do Planalto. Isso, claro, sem abrir mão de seguir à frente de Minas Gerais, precisamente com Mateus Simões como nome natural.

No seu discurso após a reeleição em outubro de 2022, Zema cogitou a hipótese de ser candidato a presidente. “Se fizermos um bom segundo mandato, quem sabe?” Na posse em janeiro, elencou suas prioridades: “Temos metas importantíssimas para concluir: a conclusão dos seis hospitais regionais; a repactuação do Termo de Mariana; o reforço nas forças de segurança; a recuperação das estradas; e as obras da região metropolitana, do metrô e do Rodoanel.”

No dia 24 de março, o governo estadual e a empresa Comporte Participações assinaram o contrato de concessão do modal sobre trilhos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na ocasião, Zema usou suas redes sociais para anunciar o feito.

“Tá assinada a concessão do Metrô de BH, colocando um ponto final em mais de 20 anos de promessas. A construção da Linha 2 até o Barreiro e a modernização da Linha 1 vai agilizar a vida de quem mora na região metropolitana e gerar 30 mil empregos. Minas tem Gestão.”

Uma semana depois, no dia 31 de março, o governador assinou o contrato de concessão do Rodoanel da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O processo ainda segue cercado por vários impasses com outros municípios e críticas de ambientalistas. O secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais, Pedro Bruno, disse que alterações ainda poderão ser feitas durante a fase de licenciamento ambiental – prevista para ser concluída dentro de um ano e meio.

Dos seis hospitais regionais com obras paralisadas, o único ainda sem previsão de retomada é o de Juiz de Fora. A má qualidade de parte da edificação e a ação de vandalismo levaram à necessidade de uma nova avaliação da estrutura, com elaboração de novos projetos executivos, antes de as obras serem reiniciadas. Com isso, a expectativa do governo de entregar o hospital até 2026 é remota.

Em relação à repactuação do acordo de Mariana, que busca reparar os danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, ocorrido em 2015, as conversas avançaram, mas não foram concluídas. O imbróglio agora envolve o governo federal. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e outros representantes federais se reuniram com os governadores de Minas e do Espírito Santo para tratar da questão.

O acordo de Mariana, assim como aconteceu em relação ao acordo de Brumadinho, mas em uma proporção bem maior, deve disponibilizar recursos para reparação de danos para Minas Gerais e o Espírito Santo. No fim do governo Bolsonaro, o acordo era estimado em R$ 112 bilhões. Desse total, a União receberia apenas R$ 6 bilhões. Tanto em Belo Horizonte quanto em Brasília, não há dúvidas de que o desfecho desse acordo será determinante para as pretensões de Zema e Mateus Simões em 2026.