Para quem esperava ver a menina Malala de dez anos atrás, atacada por um homem armado que entrou no ônibus escolar e chamou-a pelo nome antes de atirar, encontrou a mulher Malala Yousafzai, com 25 anos, graduada em três cursos em Oxford, dona de uma fundação que leva seu nome, três livros publicados e laureada com um prémio Nobel da Paz. Na noite de segunda-feira (22), a ativista paquistanesa – radicada no Reino Unido – voltou ao Brasil para a abertura do LER – Salão Carioca do Livro, onde conversou com a jornalista Maju Coutinho diante de aproximadamente oito mil pessoas, que lotaram o Maracanãzinho.
Ao longo do papo, que durou 90 minutos, Malala relembrou fragmentos da memória, revisitou a província onde nasceu no Vale de Swat e tratou do tema que atravessa sua vida: educação, extremismo religioso e misoginia. “US$ 30 milhões. É o que perde a economia global quando as meninas são impedidas de estudar”, destacou Malala, toda vestida de azul. “Promover a educação é a maior vingança.”
“Estude como uma garota! Quer entender o valor da educação? Pergunte a uma mulher.” Malala veio sobretudo para aconselhar as meninas do Brasil: “Eu não preciso inspirar as meninas, elas sabem da importância do estudo. Uma menina iraquiana aos 14 anos foi obrigada a se casar, foi tirada da escola, mas fugiu e foi refugiada. Ela carrega um dicionário porque segundo ela me disse precisa aprender ao menos duas palavras por dia.”
Sobre o horror vivido diante do Talibã, ela resumiu: “Eles quiseram silenciar uma menina, que hoje luta por centenas de milhares de outras meninas.”
Seu nome, ela contou, foi escolhido pelo pai. “Ele me deu a coragem de percorrer meu próprio caminho. Numa família com cinco irmãs que não conseguiram se educar, ele sentiu muito orgulho quando nasci. Foi o primeiro pai a escrever o nome de uma filha na árvore genealógica.”
O livro autobiográfico “Eu sou Malala”, editado pela Companhia das Letras, vendeu mais de 350 mil exemplares no Brasil e rendeu um documentário que concorreu ao Oscar. Uma década depois, vem um livro novo aí… “Sem spoilers, mas estou entusiasmada em compartilhar minha vida e espero que vocês leiam.”
Mas quem é Malala hoje? “Tenho orgulho de ter várias identidades e me aceitei sendo tudo isso.”
Malala que tem a meta de ler 80 livros no ano, já chegou a 54. Como assídua leitora, considera com um dos textos mais marcantes “O Alquimista”, de escritor brasileiro Paulo Coelho. “Um livro importante para mim. Ainda vivia no Paquistão, foi um dos primeiros que eu li.”
Graduada em Filosofia, Política e Economia, a ativista mantém um fundo que apoia e financia projetos de educação em nove países, incluindo o Brasil, envolvendo pesquisas sobre discriminação racial e de gênero nas escolas, treinamento para educação contextualizada em quilombos e aldeias indígenas, proteção do direito à educação de meninas negras e por aí vai. “São US$ 3,5 milhões para milhares de meninas. Acredito no poder do ativismo local.”
Pessoa mais jovem a receber o Nobel da Paz, Malala estava na escola quando foi informada, entre uma aula de química e física. “Eu tinha 17 anos e meu professor me contou. ‘Uau!!!’. Retornei à aula e terminei meu dia escolar.”
Os povos pashtun do Vale do Swat, de Malala, são como os mineiros: hospitaleiros que oferecem comes e bebes e não aceitam não como resposta. Foi a deixa para essa mulher com olhar de menina terminar a conversa no Rio compartilhando suas preferências. Vamos a elas!
- Filme/TV: Shrek e animações, além de séries (“Succession”).
- Música: Beyoncé.
- Esporte: cricket e futebol no Maracanã, onde brincou com o marido e fez dois gols.
- Cor: rosa.
- Hobby: ler, ver séries na TV, sentar e descansar.
Bom descanso, Malala!