Diversidade

“Julho das Pretas” chega à sua segunda edição

Lucimara, Simone e Leiliane estão na organização do evento deste ano (Foto: Divulgação)

O Fórum 8M-JF (Fórum de Coletivos e Mulheres Feministas de Juiz de Fora) realiza a partir da próxima sexta-feira (30) a segunda edição do “Julho das Pretas”. O evento, que contará em sua programação com atividades gratuitas e abertas à comunidade, vai até o dia 29 de julho, com o objetivo de marcar o Mês Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.

Na edição deste ano, o “Julho das Pretas” conta com o apoio do “Edital Quilombagens”, do Programa Cultural Murilo Mendes, que é mantido pela Prefeitura de Juiz de Fora, com gestão da Funalfa (Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage). O evento englobará oficinas, rodas de conversa, leituras, palestras, workshops com diferentes temas, além de homenagens, shows, discotecagem e uma marcha pelas ruas centrais da cidade.

A solenidade de abertura está programada para o dia 2 de julho, a partir das 13h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, no Centro. Haverá feira de livros, apresentações musicais, danças, contação de histórias e uma homenagem às mulheres negras que são a representação de quilombos em suas comunidades.

Uma das integrantes do Fórum 8M-JF e do “Coletivo Pretxs em Movimento”, Lucimara Reis, que é doutoranda em Serviço Social na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), destaca que nesta edição do “Julho das Pretas”, o lema e a inspiração vêm de uma frase da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo: “Na voz da minha filha se fará ouvir a ressonância, o eco da vida-liberdade”.

 “O ‘Julho das Pretas’ só tem sentido na coletividade. O Aquilombamento que esse projeto propõe é germinal, portanto, sua construção se dá na escuta/fala/ação. Nas nossas reuniões abertas, percebemos a riqueza dessa coletividade. Somos várias mulheres, algumas diretamente ligadas à militância política, à militância na economia solidária, na academia, nas suas comunidades, ou mesmo tomando parte dessa construção pela primeira vez. Nisso se reflete o calendário do mês, de propostas variadas, distintas e complementares sob diversos aspectos da mulher negra na sociedade brasileira”, explica. 

Ainda conforme Lucimara, “o caminhar coletivo não se restringe à construção do calendário, seguirá nas propostas de atividades, nos debates possibilitados que, pretendemos, nos ajudam a nortear nossas ações cotidianas na busca por uma sociedade com equidade”.

A avaliação é compartilhada pela empreendedora do crochê, Simone Dwlyene Gonçalves Duarte, que participou de toda a construção desta edição do evento. “Fico feliz em viver o ‘Julho das Pretas’, pois é um movimento que está impactando a vida de várias mulheres. Essa luta é de grande importância. Eu começo agradecendo aos meus ancestrais pela luta e resistência deles, pois, se não fossem eles, não estaria aqui. Então, eu agradeço imensamente a todos os meus ancestrais. Acredito que estamos plantando sementes para as próximas gerações, que não irão passar pelo racismo estrutural, o machismo, ou seja lá qual for o desafio que uma mulher preta enfrenta e passa hoje.” 

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

O “Julho das Pretas”, que chega à sua segunda edição em Juiz de Fora, sob a organização do Fórum 8M-JF, acontece em função do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho.

A jornalista Leiliane Germano, mestranda em Comunicação na UFJF e integrante do Fórum 8M-JF, explica que “o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha  foi criado em 1992, no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, trazendo uma agenda que desse visibilidade às lutas que as mulheres negras travam diariamente contra a opressão de raça e gênero”.

No Brasil, a data também homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola que se tornou rainha, resistindo à escravidão por duas décadas. Ela liderou o Quilombo do Piolho, chamado também de Quilombo do Quariterê, que foi o maior da região do Mato Grosso. Em Juiz de Fora, explica Leiliane, também se celebra o Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda. “Ela, que foi militante pela causa antirracista em nossa cidade, atuou diretamente na Juventude Operária Católica, Pastoral do Negro Kaiode, Fórum da Mulher Negra e no Conselho Municipal de Valorização da População Negra.”

Para a jornalista, o 25 de julho é dia de luta. “Dia de colocarmos em evidência a luta por moradia, emprego, igualdade racial, acesso às universidades, salários iguais, fim da violência contra mulher e tantas outras pautas relacionadas à vida das mulheres negras.” Trazer a agenda do “Julho das Pretas” para a realidade local é uma tentativa de abrir espaço para o debate de como é a vida da mulher negra em Juiz de Fora.