Para quem ainda não entendeu, “mulher trans” é a pessoa que, ao nascer, foi designada como sendo do gênero masculino e, atualmente, se identifica como mulher; “homem trans” é a pessoa que, ao nascer, foi designada como sendo do gênero feminino e, atualmente, se identifica como homem. E são estas pessoas que têm seus direitos negados historicamente.
Há o que se comemorar, mas, claro, muito mais a se avançar. O Brasil vem desenvolvendo, por exemplo, políticas públicas de acolhimento a refugiados LGBTI+. Em maio, o Ministério da Justiça facilitou a análise de pedidos de refúgio feitos por pessoas da comunidade perseguidas em seus locais de origem em razão da sexualidade ou da identidade de gênero.
Relatório do Conare (Comitê Nacional para Refugiados) aponta que 71 países no mundo ainda aplicam penas de prisão a esse grupo —10 ainda preveem pena de morte. Esse foi um dos pontos levados em conta pelo Conare para reconhecer a população LGBTI+ como grupo perseguido, que merece proteção do Estado brasileiro. Entre 2010 e 2018, o país registrou 369 pedidos de refúgio por perseguição ligada à orientação sexual e à identidade de gênero; 130 foram aceitos.
E mais… Até abril de 2023, o Brasil contabilizou 76.430 casamentos entre pessoas do mesmo sexo. São Paulo lidera o ranking de celebrações homoafetivas, com quase 30 mil matrimônios. Em seguida, vem o Rio de Janeiro, com 6,5 mil, e Minas Gerais, com 5 mil.
A comunidade LGBTI+ carioca tem protagonismo em alguns programas da Secretaria Municipal de Cultura. Caso de dois editais que saem em julho: o Ações Locais (interrompido em 2016), que premia iniciativas com impactos positivos nos territórios, e o Pró-Carioca – Fomento à Cultura Carioca, que destina recursos a propostas culturais de todas as naturezas por toda a cidade. Ambos contam com a verba da Lei Paulo Gustavo, que vai repassar ao Rio pouco mais de R$ 47 milhões. O Ações Locais vai destinar R$ 7 milhões a 137 propostas no Rio, e o Pró-Carioca, R$ 42 milhões a mais de 200 propostas, sendo R$ 1 milhão reservado à categoria Cultura LGBTI+.
Empregabilidade pela porta da gastronomia
LGBTI+, sem “A” e nem “Q”, a sigla do momento, segundo o ativista Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+ e da Associação Brasileira das Famílias Homotransafetivas. Um estudo aponta que 49% das pessoas trans e travestis enfrentam barreiras na hora de serem contratadas pelas empresas; entre as pessoas LGBTI+, trabalhadores(as) trans e travestis representam o menor grupo entre os que recebem a partir de quatro salários-mínimos.
Mas um projeto de extensão da UFRJ vem dando voltas nesta triste realidade, inserindo parte desta comunidade no circuito gastronômico carioca: o TransGarçonne, iniciativa que capacita e auxilia pessoas trans, travestis e não-binárias a se inserirem no mercado de trabalho. Desde a primeira turma formada em 2019, já são 22 pessoas contratadas em empregos formais, e outras atuando como freelancers.
Uma das primeiras formadas vem ganhando notoriedade no cenário nacional. Aos 36 anos, Rochelly Rangel – depois de recorrer a inúmeras formas de trabalho informais – é a primeira mulher trans a assinar uma carta de drinques para o 5 estrelas Hilton, em Copacabana.
Gomos de jaca, pimenta da Jamaica e goiaba. É com muita cor, audacidade e doses cavalares de inteligência que Rochelly – mulher trans, preta, vencedora de um reality show de coquetelaria – estreia por trás dos balcões do Hilton. Um dos coquetéis elaborados por ela é o Oxum: gim, limão, maracujá, manga, pimenta da Jamaica e água tônica. Frescor e personalidade, para dar match com a cozinha do chef Pablo Ferreyra. Uma dupla e tanto!!!
Desde sua criação, em 2019, o TransGarçonne qualificou 40 pessoas para trabalharem como garçons e bartenders, entre outras funções no ramo da hospitalidade. Na última segunda (26), o projeto começou sua terceira edição, com 20 novos alunos. O curso dura duas semanas e conta com aulas de higiene e segurança, etiqueta profissional, coquetelaria e prática de garçom. Ao final, os alunos passarão por entrevistas e auxílio na produção de seus currículos para serem encaminhados a empregadores.
Que venha mais!!!