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Colunas

As ineleições de Bolsonaro

Grande dia!

Bastou essa mensagem no WhatsApp para intuir o resto. Por se tratar de uma sexta-feira, faltou a # que alongaria a celebração por todo o final de semana.

E os memes, claro. Difícil competir com eles. Muitos apoiaram o Bolsonaro e ofenderam Dilma e Lula nos últimos anos porque se guiaram por eles. Como apontou o professor Felipe Pena, se a ultradireira ganhou assim, tem que saber perder assim.

Até 2030 Bolsonaro está inelegível. Resultado suficiente para um final de semana de celebração, mas o trabalho volta na segunda-feira.

Quando foi criada a Lei da Ficha Limpa, os portugueses fizeram piada dos brasileiros: um país que precisa dessa lei… (e aqui vamos aos franceses) …não pode ser levado a sério. E assim foi pelos últimos anos.

A recente decisão de um tribunal superior não diminui o impacto da injustiça cometida por outro, em 2016, o Supremo. Dali em diante, o judiciário competiu com as forças armadas pelo maior índice da queda de credibilidade diante do brasileiro. Instituições que deveriam prezar pelo país foram protagonistas no pesar.

Se no fatídico dia em que o fetiche pelo torturador Ustra se tornou justificativa para votar a favor do afastamento da presidenta Dilma fosse tratado com justiça, Bolsonaro já estaria inelegível em 2016.

Lá em 1964, quando no 1° de abril os militares assumiram Brasília e começaram a dilapidar os valores tupiniquins, entre mortos, feridos e torturados pelas mais de duas décadas de ditadura, a educação sofreu um baque do qual ainda não se recuperou.

O ensino público começou a ser sucateado, a privatização cresceu e hoje o governo Lula é refém das grandes corporações de venda de carteiras escolares. Mais de meio século de migração para as mãos de interesses particulares gerou gerações de mudanças de valores.

Aos poucos, resistentes da educação de qualidade perdem lugar para quem aceita receber menos em instituições de ensino, se é que muitas dessas empresas ainda podem ser chamadas assim. Se esvai o professor e entra o dador de aulas, que ganha pela quantidade e, mesmo que conheça o mundo, só tem tempo de lecionar sobre o que o colégio permite.

O discurso político se esvazia e educação sem política é adestramento. Se o ensino continuasse politizado, o que significa pensar na sociedade, o Brasil até poderia ter eleito outros presidentes de direita ou de esquerda, mas o Bolsonaro ou qualquer outro de sua índole estaria inelegível.

Foi Einstein quem disse que as tecnologias avançam numa velocidade muito maior do que nossa capacidade de usá-las. A pandemia ensinou isso: professor teve que virar youtuber, estudante virou seguidor e curtidor de conteúdo, pais se tornaram haters da educação, tudo sem um ensinamento prévio ou gradual.

Antes ainda, quando houve a privatização das teles, o crescimento da internet no Brasil veio acompanhado de cobranças exorbitantes por serviços precários, além da falta de preparação da população para isso. Pior ainda nos últimos anos: celular vem com internet “grátis”, mas internet significa WhatsApp, Telegram e Facebook (segue-se nos valores exorbitantes por serviços precários), sem direito a (ou dinheiro para) clicar nos links ou procurar referências.

Com links clicáveis, referências acessíveis e educação política, Bolsonaro estaria inelegível em 2018.

Bolsonaro está inelegível até 2030. A bolsa de colostomia que ele carrega nos discursos e é repercutida por tanta gente não é só dele, tem mais gente que repete. Nem é dele originalmente, tem gente que repete isso faz tempo. Um estudo de História pode ensinar. Uma consulta a fontes confiáveis pode evitar.

Segunda-feira volta o trabalho: Bolsonaro e sua índole precisam ser para sempre inelegíveis.

O resto é democracia.