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Colunas

Desarmem os professores, por favor!

Era esse o subtexto da fala de Eduardo Bolsonaro (para os de Exatas, 03; para os de gastronomia: Bananinha). Quando comparou os professores a traficantes de drogas num evento pró-armas, no último domingo, fez um blend de significados.

Primeiro confundiu as armas do tráfico de drogas com as ferramentas dos professores, que ele também confundiu com doutrinadores; depois esqueceu de algumas demandas que a educação brasileira passou a ter nos anos do último governo.

Na primeira confusão que ele fez, começou falando de professores doutrinadores, palavras que dificilmente funcionam juntas. O professor professa um conhecimento, o doutrinador é como um guru, que aponta direções a serem seguidas, mas não infinitamente, para que os seguidores não caiam pela borda da terra plana.

Professores tentam ensinar a pensar. Há quem aprenda e há quem não. Se pensar diferente do Eduardo Bolsonaro é doutrinar, talvez sejam bom, porque ninguém pensa antes de falar uma frase como a dele.

Quanto às armas dos professores, elas têm muitas relações com o tráfico: o pó é de giz, o Comando Vermelho é chamado de nota baixa, aviõezinhos de papel costumam ser recorrentes em dias de entrega de prova, a boca dá fumo quando tem briga na sala e pode até ter solitária: cinco minutos sem recreio pro infrator.

As outras armas que o tráfico tem vêm justamente porque existem os movimentos que aplaudiram a fala do Eduardo Bolsonaro, os de legalização. Quanto mais armas em circulação, mais pessoas armadas (isso é fácil, qualquer professor de lógica doutrina essa ideia). As pessoas que se armam estão na polícia, no exército, nas ruas, nas casas, nos morros e, claro, no tráfico. Infelizmente, algumas na sala de aula.

Um fato: de manhã ele dava aula pros filhos dos traficantes e de noite pros traficantes. No final do ano, cano na cintura, um aluno da noite perguntou ao professor se seria aprovado: “Claro! Você é um ótimo aluno.” Foi a resposta de um traficante de doutrinas ao outro, de drogas.

Num Brasil que ainda não entendeu, haja vista a sequência de acontecimentos envolvendo o nome Bolsonaro nos últimos anos, que houve uma ditadura civil-militar, com mortes, tortura, corrupção, censura e sucateamento da educação, lidar com a militarização das escolas é do mesmo nível que vender armas. No sentido doutrinador do termo.

Felizmente isso foi suspenso pelo Ministério da Educação também nesta semana. Os traficantes de doutrinas não mais serão militarizados. Assunto encerrado? Para alguns governadores infelizmente não.

De volta ao embaixador da familícia, ele deve ter tido algum problema com professor na escola ou na faculdade. Algum doutrinador deve ter chamado revolução de golpe ou obrigado-o a jurar que precisava “acreditar no Direito como a melhor forma para a convivência humana, fazendo da justiça o meio de combater a violência e de socorrer os que dela precisarem”. Difícil mesmo seguir na carreira com tantos traumas, melhor mesmo fritar hambúrguer.

Hambúrguer, aliás, não é só um amontoado de carne jogado numa chapa por qualquer artilheiro. Tem muitos blends espalhados pelo mundo, fruto de estudos, pesquisas, técnicas criadas e ensinadas em restaurantes, lanchonetes, escolas e faculdades. Bons hambúrgueres também requerem bons traficantes.