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O que esperar de 2024?

Mais do mesmo: ano próspero, de paz, alegria, felicidade, sorte e dinheiro. Essas palavras seguem de mão em mão, por papel ou tela, nos cartões de feliz ano novo. Isso cria a esperança de que ano que vem será melhor do que este, que foi melhor do que o passado. A lógica boa funciona assim.

No Brasil, por exemplo, tinha Bolsonaro e agora tem Lula. Mesmo com as ressalvas, e não são poucas, a serem feitas ao governo Lula, o principal ponto de melhora está nisso: ressalvas ao governo. Antes, nem governo havia, mas chamavam assim por falta de nome mais apropriado. O que vale agora é esperar que essas ressalvas diminuam.

Na Venezuela o que se espera é que alguém entenda a cabeça do Maduro, que tira da gaveta um recalque para tentar unir o país contra uma mesma causa territorial e consegue brigar com um monte de gente fora de lá para adiar uma briga lá dentro.

Na Ucrânia, a esperança é pelo fim da guerra, principalmente antes que o conflito dure uma geração. Já sabemos, o mundo todo, que bastam dois anos de pandemia para que muitas mudanças e muitas rotinas ganhem o nome de “algo da pandemia”. Se a guerra por lá dura mais, a Geração da Guerra da Ucrânia vai ser marcada com esse nome, mesmo que nasça no exílio ou no país que não se chamará mais Ucrânia.

Na Rússia devem estar esperando que a Ucrânia se renda, provavelmente para começar outro conflito em outro lugar. Se tivessem lido Dostoievski ou Tolstoi, por exemplo, teriam entendido que já ganharam, podem ficar quietos em casa e se vangloriar antes de dar qualquer tiro ou do Putin abrir a boca.

Em Israel, esperam que 2024 seja o ano da remissão de culpa (pleonasmo?) dos palestinos, que assumirão a responsabilidade pelos últimos ataques, pelos anteriores e pelos de antes ainda, em hebraico ou aramaico.

Os palestinos esperam que 2024 seja o ano da remissão de culpa (pleonasmo?) dos israelitas, que assumirão a responsabilidade pelos últimos ataques, pelos anteriores e pelos de antes ainda, em hebraico ou aramaico.

Nos Estados Unidos espera-se que ninguém assuma responsabilidade por nada na Faixa de Gaza, na Ucrânia ou na Venezuela. Também vivem na esperança de que o comunismo capitalista chinês fracasse antes do deles, que não é comunista, e que o Tiktok se torne obsoleto.

As cidades brasileiras devem esperar novas lideranças ou upgrade nas que estão e seguirão no posto. Disso depende a cabeça do eleitor, que se não fez upgrade nas discussões políticas da última década segue no risco de confundir poder público com privada.

A enorme população de moradores de rua, ou qualquer outro eufemismo que se use, é que parece seguir os ditos do Barão de Itaraté: “De onde menos se espera é que não vem nada mesmo.”