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Juiz de Fora rebaixada

A Necrópole de Bolsonaro chega a 569 mil mortos, número superior à população de Juiz de Fora (Foto: Valdo Leão/Fotos Públicas)

É com imensa tristeza que se oficializará, esta semana, a queda de Juiz de Fora de 39ª para 40ª maior cidade, em população, no Brasil. O posto outrora da Manchester Mineira passa a ser ocupado pela Necrópole de Bolsonaro, de crescente população e em constante expansão.

Nenhuma cidade é feita por uma pessoa só. Brasília não é só do JK, do Niemayer ou do Lúcio Costa. O Rio de Janeiro nunca foi do Estácio de Sá ou do Pereira Passos. Juiz de Fora, menos ainda do Henrique Halfeld ou do Juiz. Ou do Santo Antônio. A Necrópole não é só do Bolsonaro, embora ele seja o patrono.

Mas ele não criou o vírus! É a alegação do gado (todo mundo sabe que foram os comunistas chineses que querem dominar o mundo… matando todo mundo, né?). O vírus também não foi criado pela Jucinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, ali bem mais perto, que tem feito controle nacional com uma eficiência bem maior. Ano passado já tinha jogo de rugby com público! Ah, ela deve saber algum segredo pra combater o vírus, informação privilegiada porque é do Partido Trabalhista, o mesmo do Tony Blair, que foi primeiro-ministro do Reino (Comunista) Unido.

Ninguém duvida de que o Bolsonaro foi omisso.

(Eufemismo no Houaiss: palavra, locução ou acepção mais agradável, de que se lança mão para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra, locução ou acepção menos agradável, mais grosseira ou menos tabuística.Pra ser omisso, ele deveria ter ignorado assuntos como máscara, vacina ou distanciamento social. Tivesse pelo menos cagado e andado, tava menos pior, mas só cagou e ainda tá lá.)

Ninguém duvida (em sã consciência) de que Bolsonaro foi genocida. Ele e sua equipe incentivaram o abandono das máscaras (quando a OMS e todo mundo, depois de todas as formas de cuidado imaginadas e testadas, entenderam que era a mais poderosa ferramenta pra ser usada contra o contágio).

Ele e sua equipe não ignoraram a vacina, apenas as mensagens da Pfizer que, pelo prazo, adiantariam a abertura do comércio, das escolas, enfim, das instituições de convívio social e diminuiriam mortes, internações, riscos. Na verdade, negociaram por diversos caminhos um trocadinho (“dois real, patrão”, igual flanelinha que tá passando fome no país que eles desgovernam… dois real o caramba, um dólar! Por vacina! Quase dez reais!!! — Cotação hiperbólica ou visionária?).

E assim seguimos, com obrigação de distanciamento social e sem paciência pra isso. Povo não aguenta mais ficar longe do boteco! Aí o cara vai, bebe, come, pega Covid, passa pra família, ajuda a matar um monte de gente e a culpa é dele? Tá, poderia esperar um pouco mais, mas quem mandou esperar foi o negacionista que mora no Alvorada. (Aliás, quem for entrar lá em 2023, precisa passar um fumacê pra higienizar o lugar.)

Quando o Trump insistiu em permanecer no cargo e foi fazer campanha, a distância de 70 mil mortos que os EEUU tinham de frente pro Brasil cresceu pra uma diferença de quase 200 mil. Agora já estamos chegando perto, ou seja, alguém tomou decisões corretas por lá. Aqui, seguimos o destino dos derrotados.

Ninguém quer Copa América? O Brasil quer e vem com brinde desde o primeiro jogo, com equipes contaminadas. Ganhamos vírus, Argentinos ganharam taça. (E levam vírus também.)

Bora fazer carreata, que é mais seguro? Claro que não, melhor moto sem máscara e sem capacete, mais seguro ainda. E pra quem questionar as motos e quiser segurança de verdade, pode entrar em tanques.

Correios a serem vendidos (como a energia, as terras, o petróleo, o Brasil de modo geral, um vendido… quem dera fosse somente alugável, não é rima nem solução, mas tudo free), jovens em seus primeiros empregos sucateados pela ausência de direitos e gente morrendo. Ah, sim, era sobre isso o texto: gente morrendo.

Muita gente morrendo. Mais de mil pessoas por dia. De todas as mortes do mundo por conta de Covid-19, 13% ocorreram no Brasil, país que tem 2,6% da população mundial. Se tem algum superávit do qual Paulo Guedes deve se orgulhar é este.

E gente é sempre parente de alguém, nem precisa ter a importância de artistas como Paulo José ou Tarcísio Meira. Gente é quem tem diálogo, vida, família, valores sociais, sentimentos, carisma. Gente é o que tem mais na Necrópole de Bolsonaro do que em Juiz de Fora no final desta semana. Gente é o que não tem no governo deste país.