Colunas

Não abro mão da sua mão

Escrevo essa primeira coluna resgatando o agradecimento feito em minha tese de doutorado, na qual fiz questão de me desculpar por meu grave equívoco de considerar que a produção do estudo se tratava de um trabalho solitário. Não há inverdade maior do que essa. Principalmente quando se trata da conquista de uma mulher, brasileira, negra, a primeira de uma família numerosa a ingressar no ensino superior.

Apesar da constante sensação de solidão, que toda mulher negra acadêmica conhece bem, percorri um caminho que já havia sido calçado por muitos dos meus que vieram antes de mim e, injustamente, por muitos que o percorrem ao mesmo tempo que eu.  Foram fornadas de bolos, pães e quitutes os responsáveis por alimentar meu sonho do ingresso no ensino superior. Muitos plantões e madrugadas de trabalho duro para garantir o pagamento da mensalidade na melhor escola que o salário podia pagar.

Temos um compromisso firmado uns com os outros. O compromisso que os griots antigos e modernos (MC Aice, presente!) não nos deixam esquecer. Precisamos alargar os caminhos para que muitos outros possam passar. Nosso caminho ainda é afunilado, “permite-se” a inclusão de poucos, aos poucos. Mas esse espaço não nos basta. Exigimos mais. Exigimos que nos ouçam, nos respeitem —não me venha com tolerância, porque já não suportamos que apenas nos tolerem— e que nossa presença seja mais do que a garantia de parecer estar fazendo o certo, da inclusão canalha que a tanto tempo vemos acontecer.

Que este espaço sirva para dar ouvido aos que têm voz que rima por igualdade, que clama por justiça, que explica o óbvio, que pretende explicitar a grave exclusão e desigualdade na comunicação— e fora dela— que ainda vivemos. Queremos deixar de ser apenas pauta e passar a pautar nossas próprias discussões.  Pois, como destaquei ao final do agradecimento da tese mencionada no início desse texto, escrever um final feliz não é tarefa para apenas duas mãos.